01 - Rosas de papel

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Celine

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Celine

A mais dedicada, mas nunca a que conquistou. A melhor opção, mas nunca a escolhida. A mais preparada, mas sempre o segundo lugar.

Meus fantasmas sussurram coisas terríveis nos meus ouvidos enquanto dirijo e enxugo as lágrimas com a mão livre. As ruas cinzas combinam com meu humor e com a dor que agora aflige meu peito, mesmo que eu tente, fracassadamente, dizer que nada disso foi minha culpa.

Segundo lugar.

Aos vinte e dois anos e com um diploma de direito, esperei ansiosamente o momento em que finalmente seria efetivada após a formatura. Estagiei no escritório desde o terceiro período da faculdade, fiz todo o possível, me dediquei por completo. A vaga da nova advogada deveria ser minha, mas bastou que a sobrinha do dono do escritório se formasse também e repentinamente eu já não me enquadrava nos padrões esperados para a vaga.

Fui demitida e precisei buscar as coisas no dia em que comemoravam a promoção da nova advogada. Os balões, o bolo e os confetes coloridos no chão não saíam da minha mente, e quanto mais aquela maldita caixa de papelão cheia de tranqueiras fazia barulho no banco traseiro, mais eu sentia os fantasmas esfregando na minha cara o quanto todo o meu empenho foi descartado sem nem sequer uma despedida decente.

— Não me ofereceram nem uma porra de fatia de bolo! — praguejei e bati com o punho no volante.

A frustração me corroía por completo.

Como se não bastasse tudo o que estava acontecendo, o trânsito de São Paulo parece cada dia pior e a garoa não para de cair. Sempre gostei de tempos frios, então pensei que me mudar para a Terra da Garoa seria uma boa ideia.

Péssima conclusão precipitada.

Só respirei aliviada quando finalmente atravessei os portões do condomínio fechado que agora posso chamar de casa, o Villagio Aurora. É tão grande que conta com o próprio comércio interior. Se alguém quisesse, poderia passar o resto da vida dentro do condomínio e nem precisaria sair para a cidade. Uma bolha muito confortável.

Talvez eu passe muito mais tempo aqui agora que estou oficialmente desempregada.

Estacionei na frente da minha casa e suspirei ao ver a faixa de comemoração da minha irmã ainda esticada. Alanis entrou na faculdade de medicina e toda a minha família prontamente se mudou para apoiar o futuro dela. Peguei transferência da minha própria universidade, vindo para um campus mais próximo do Aurora e dei a sorte de ter uma filial do escritório em que eu trabalhava na época.

Por alguma razão, aquela faixa começou a me incomodar.

Já haviam se passado seis semanas desde a nossa mudança. Ainda era tão necessário assim continuar com a faixa de comemoração?

Cacete, eu só estou com inveja!

Atravessei a casa com a caixa de papelão nos braços e apenas resmunguei respostas para a minha mãe que me cumprimentou na entrada. Larguei tudo em cima da escrivaninha do meu quarto e me larguei na cama, protegida pelas seguras paredes pintadas de azul claro.

Inesquecível IrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora