Capítulo 01 - [Mas não sou gringo]

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10 de Janeiro de 2023, Nova York (EUA)

Me despeço da minha antiga vida e entro no carro onde meu pai me espera já apressado para que eu não perca o voo. Ele como sempre, preocupado com horários enquanto eu ainda estava de ressaca da minha festa de despedida de ontem. Ainda não acredito que vou passar o meu último ano do ensino médio no Brasil e morando com minha mãe na qual eu não vejo há 4 anos.

-Isso é loucura.

-Eu sei que é - disse meu pai e eu me dou conta de que disse isso em voz alta. - Mas isso foi uma decisão sua, e dessa vez eu te apoio. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos meses você precisa mesmo dar um tempo, um bom tempo de Nova York.

Nesse momento me lembro do motivo pelo qual estou indo embora. Não dou uma resposta ao meu pai. Invés disso, eu me viro para a janela do carro admirando a paisagem enquanto me lembro dos ótimos momentos que tive em Nova York com meus amigos (éramos um grupo incrível). Sinto medo, ansiedade, ao mesmo tempo animação e expectativa para esse novo ano que se inicia. 

Já no aeroporto, me despeço do meu pai quando meu voo é chamado.

-Sentirei sua falta, Ramon. Boa sorte, se cuida. Eu amo você. Se algo der errado ou se precisar da minha ajuda, me ligue! - Meu pai diz me puxando para um abraço apertado. Eu me emociono porque meu pai quase nunca demonstra seus sentimentos e nunca dizia que me amava. Retribuo o abraço com a mesma intensidade. Um abraço forte, longo e quase com o poder de parar o tempo, fazendo eu esquecer que meu voo já estava quase partindo, até a última chamada soar.

-Pai... Agora eu tenho que ir. Nunca vou me esquecer de você e dos seus conselhos. Vou me cuidar e com certeza vou recorrer a você caso precise. - Menti na última parte. Eu sou adolescente, só recorro ao meu pai quando preciso de dinheiro ou muita ajuda. Mas eu não queria preocupá-lo ou deixá-lo paranoico, então eu disse isso.

Entro no avião e após longas horas eu finalmente chego ao Brasil. Quando cheguei no aeroporto de Salvador, pude reencontrar com minha mãe que ao me ver abriu um sorriso maravilhoso e eu, de igual forma ao vê-la não pude conter minha expressão de felicidade. Minha mãe apesar de distante fisicamente, nunca se permitiu ser distante emocionalmente. Em todas as datas comemorativas ela sempre me ligava, conversava comigo toda vez que eu estava mal, me ligava de vez em quando para garantir que eu estava bem, me desejava boa sorte em minhas provas... E agora todo esse afeto poderá ser demonstrado pessoalmente e por um ano inteiro.

- Ramon, meu filho, que saudade que mainha tava de você! - Minha mãe quase grita no aeroporto empolgada - Vamos logo que tu deve estar exausto dessa viagem. - E eu realmente estava, muito. 

Ao chegar no apartamento da minha mãe, ela me mostra o meu novo quarto. Eu entrei com minhas malas, tomei um banho quente e estava tão cansado que não consegui fazer outra coisa a não ser dormir. Quando deitei na cama, minha mente só conseguia pensar uma coisa: Bahia, cheguei!

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