Capítulo Dois - Pensamentos de uma bebida ruim

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O estômago de Lívia estava se revirando, olhando para a sua imagem no espelho, não parecia que ela estava se vendendo para que a sua família não falisse. Era assim que ela estava se sentindo, sem permissão para sentir nada, permissão apenas pensar em como poderia conquistar uma herdeira. A que ponto havia chegado?

A vontade de chorar apertou em sua garganta, mas ela engoliu o choro. Não tinha permissão para chorar e arruinar a maquiagem. O seu cabelo estava solto, alisado e jogado para trás, o vestido marrom de duas camadas, as alças em seus ombros sendo unidas por um laço que caia pelo seu braço, os detalhes bordados pelo vestido que marcava a sua cintura, dava a ele uma cara diferente. Mas, o que fez Lívia escolhê-lo foi porque ele alcançava até depois do seu joelho. Foi uma pequena vitória, pois se dependesse da sua mãe, ela entraria naquele salão praticamente de lingerie.

Suspirando, Liv colocou as pulseiras em seu pulso esquerdo e colocou o celular dentro da pequena bolsa, calçou o seu sapato favorito que possuía dois tons, preto e bege, e se preparou para não sentir nada. Pois naquela noite, não era permitido.

Fazia quase um mês que Érica foi vista com outra em um restaurante e desde então a sua mãe tinha se tornado outra pessoa. Na verdade, desde o término do seu noivado. Lívia havia se tornado a solução para todos os seus problemas, e depois que ela lhe falou que seria mais fácil conquistar Antonella do que as mulheres de sua lista, tudo girava em torno disso.

Era cansativo. Extremamente cansativo. Várias vezes ela pensou em dizer que não, era ridículo pensar em se envolver com alguém por dinheiro.

Droga! Em que ano estavam? Mas, o seu pai estava doente, a empresa indo à falência e ela não podia ficar sentada esperando a tragédia acontecer. Aquela empresa era a vida do seu pai, e com certeza isso o mataria.

E, era por isso, que ela engolia o seu orgulho e se permitia ser vendida. Ignorando os seus sentimentos, a sua vergonha e focando no rosto do seu pai, nos remédios que ele tomava todos os dias, nos e-mails que a sua mãe escondia dele e tentava resolver sozinha. Lívia focava toda a sua energia nisso, e não no seu coração partido. Era até ridículo pensar em sofrer por Érica quando o seu pai estava doente e a empresa a ponto de falir.

Um futuro que antes era seguro, agora estava completamente incerto.

- Não vamos com você. - Lívia olhou por cima do ombro encontrando a sua mãe de robe e com os olhos inchados.

- Aconteceu alguma coisa? - se levantou da cadeira e tropeçando em seus pés.

- Ele não está se sentindo bem. - respondeu, Lívia conhecia esse seu tom. Sua mãe sempre falava assim quando não queria preocupá-la, mas os olhos inchados falavam por si só. - Achei melhor a gente ficar.

Era essa preocupação nos olhos da sua mãe que fazia Lívia não ter tanta raiva dela. Claramente, Naomi estava desesperada, e Liv não podia culpá-la por isso.

Sem dizer uma palavra, ela passou por sua mãe e saiu do quarto, andando em direção ao quarto do seu pai sentindo o corpo ficar tenso entre o medo e a ansiedade. Lívia precisava de um incentivo para entrar em um salão de uma empresa concorrente a do seu pai, cheio de pessoas que ela só viu uma vez na vida enquanto o seu pai estava doente em casa. Ela precisava garantir que era apenas um mal-estar, já que sabia que não existia a opção de não comparecer a essa festa.

Havia batalhas que Lívia não tentava mais lutar, pois sabia que já estava perdida.

- Nossa! - Ricardo exclamou quando a viu entrar no quarto, deitado em sua cama e colocando um copo vazio em sua mesa de cabeceira. - Assim o meu coração não aguenta.

A um sim de você - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora