Capítulo Dez - Um vício irresistível

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Fazia meses que Lívia não sabia o que era relaxar, o que era dormir sem preocupações sem ter medo de acordar. Mas, nos últimos dias, ela estava conseguindo ter um pouco de paz. A sua ansiedade tinha mudado de direção, e a direção que tinha tomado estava lhe fazendo bem.

Mas, os problemas não tinham desaparecido, muito menos foram resolvidos. Para ser sincera, naquele momento, pareciam ter piorado. Ela se permitiu viver alguns dias em uma bolha, e quando essa bolha estourou, a realidade estava pior do que ela lembrava.

O seu pai infartou quando ela começou a acreditar que as coisas dariam certo, seus amigos se envolveram e agora estavam esperando um bebê e tudo isso enquanto ela estava se apaixonando cada vez mais por Catherine. A realidade era dura, cruel, e Lívia só queria poder fugir dela outra vez.

Ao fundo ela podia escutar a sua mãe falando com uma enfermeira, pedindo informações sobre a situação do seu pai. Alberto, o responsável pelo infarto, estava em um canto com a sua esposa, com certeza remoendo-se em culpa por ter deixado escapar a real situação da empresa. Mas, mesmo que Lívia quisesse culpá-lo, ela sabia que não podia, pois ele pensava que a sua mãe havia explicado tudo ao seu pai. Bianca e Arthur estavam sentados do seu lado direito, em silêncio e do outro lado, Catherine não soltava a sua mão.

Lívia fechava os olhos, fazendo uma oração silenciosa cada vez que a sua mãe sentava na cadeira à sua frente, com os ombros abaixados, como se o peso do mundo estivesse neles. Era difícil odiá-la, difícil sentir raiva dela quando a via daquele jeito. Durante toda a sua vida pode testemunhar o amor entre ela e o seu pai, e desejou ter a sorte de viver um amor assim.

Apertando a mão de Catherine, respirou fundo evitando com que as lágrimas caíssem, Lívia sentia-se honrada por ter testemunhado o amor dos seus pais, mas se sentia miserável por ter que testemunhar também ele morrendo aos poucos. Ou quase morrendo.

Sua mãe levantou outra vez, Lívia seguiu os seus passos e a viu entrando em um corredor ao mesmo tempo em que tirava o celular da bolsa. Desde o momento em que chegaram, ela não saia do celular e isso já a estava deixando nervosa.

— Eu vou ver se a minha mãe está precisando de alguma coisa. — Lívia disse para Catherine, que acenou e só soltou a sua mão quando ela se levantou.

Antes de seguir a sua mãe, olhou para Catherine sentada na cadeira e os amigos do outro lado, apesar de não fazer parte do seu círculo de amigos, ela parecia se encaixar tão bem. E, mesmo elas não tendo nada, foi Catherine quem a levou até o hospital, junto com Arthur e Bianca. Cada vez mais estava difícil não se apaixonar por ela, e Lívia nem sequer tentava resistir aos seus encantos.

Andando até o corredor em que viu a sua mãe entrar, a encontrou no final dele, perto de uma porta que deveria ser o escritório dos médicos.

— Está acontecendo alguma coisa? — perguntou à mãe, assustando-a.

— Já trouxeram notícias? — perguntou preocupada prestes a andar de volta para a recepção.

— Não. — respondeu Lívia. — Ainda não. — seu pai estava em cirurgia e Raúl, o cardiologista, tinha dado de trinta minutos à duas horas, e já havia passado uma hora. — Por que a senhora não sai do celular? — Naomi passou a mão pelos cabelos loiros, jogando-os para trás dos ombros encarando o celular — Mãe? — Liv a chamou dando mais um passo para frente.

— Não paguei o plano de saúde. — respondeu mexendo no celular. — Estou tentando falar com uma pessoa para ver se consigo emprestar, mas ela não está atendendo.

Lívia estava se sentindo anestesiada, só isso explicaria ela não estar surtando neste momento, apenas respirou fundo encarando a sua mãe.

— Não tivemos dinheiro para pagar o plano? — perguntou sentindo a sua garganta fechar, e o coração acelerar. Seria horrível ela desejar infartar também?

A um sim de você - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora