Segundo - Messed Up Century

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– A gente não pode só entrar em casa e fingir que não viu?

Yoongi não acreditava nas próprias palavras, mas era o que tinha vontade de fazer.

– Será que a gente pode fazer alguma coisa?

– Será que a gente deve?

– Yoongi, não é culpa deles de terem sido abandonados.

– E nós não somos pais de ninguém.

– Você não tem coração não?

Hoseok se aproximou do cesto, mas suas mãos foram impedidas por Yoongi.

– Yoongi, a casa é nossa e eu não vou deixar eles aqui fora.

– Tu acha que eu canibalizo crianças quando cê não tá em casa?

Ambos estavam irritadiços, e nenhum cederia com as alfinetadas tão cedo.

– Ao menos lava as mãos pra tocar neles, né? É capaz de ter cocaína debaixo das tuas unhas.

Hoseok revira os olhos e coloca as mãos nos bolsos. Yoongi se curva, com os braços cruzados. Os bebês se debatiam, as mãos gordinhas pareciam querer acertar um ao outro. Sua cara ainda se assemelhava vagamente a um joelho, mas não teria porque alguém que tenha dado luz no prédio despejar as crianças à sua porta, certo? Metade mal o conhecia, e tirando a idosa lésbica com 16 gatos, ninguém sabia que ele cursava medicina.

– Mas que caralho!

Yoongi reclama ao sentir uma mão passear de um lado da sua bunda até o outro. Ou Hoseok havia bebido escondido, ou tinha usado alguma substância, porque aquele era exatamente o oposto do momento em que poderia fazer isso.

– Cê não tá com a chave?

Min lhe lança uma cara de tédio, e é revistado nos bolsos da frente também.

– É sério isso, Hoseok?

– Yoongi, se você tá escondendo a chave agora não é um bom momento.

– Caralho, eu não acredito que você perdeu a minha cópia da chave.

– Eu não perdi, porra!

– Então tá aonde? Tu que fechou a porta de casa, eu fui o primeiro a descer. Ou a sua memória de pombo não tá lembrando nem disso?

– Ah Yoongi, cala a boca.

Colocou as mãos na frente do rosto e bufou, sentindo o calor de seu hálito confortar suas palmas geladas. Era incrível como um desocupado conseguiu estragar com o início da semana do casal, que, inocentemente, o mais velho achava que seria satisfatória.

– Olha cara, eu quero entrar em casa, então é bom tu fazer um jeito de aparecer com a merda dessa chave.

— Cara é o teu cu.

Yoongi revirou os olhos. O Jung bateu novamente na lateral do seu próprio corpo, esperando que sentisse algo metálico por ali. Não quis esperar o elevador, então seguiu a passos pesados pela escada.

– Cuidado pra não cair.

Yoongi ganhou um dedo médio antes do maior sumir. As crianças tinham voltado a chorar e seus olhos estavam ardidos. Sentia-se um alecrim dourado por receber aquela dor de cabeça. Era nesses momentos que sentia falta de quando seu pai ainda se preocupava em exercer sua responsabilidade. Se estivesse cansado de brincar e por um acaso sua mãe visse a bagunça, o homem cujo nome Yoongi não se recordava mais iria arrumar seus brinquedos sem reclamar, enquanto ele aproveitava o calor de seu cobertor e seu travesseiro com cheiro de camomila. Era assim também quando o pai de Namjoon ainda era vivo. O homem sempre considerou ambos seus filhos, e sua morte continua sendo difícil de assimilar. Mas ele não era seu pai biológico nem legal, e nem teria conhecido Yoongi se o hospital caro onde ia não estivesse cheio demais e tivesse que ser atendido onde a sua mãe trabalhava. Uma vez Min teve um pai, com sua cara e direito a 50% de sua infância, mas ele escolheu sumir quando tudo estava bem, estabilizado. Ele escolheu arrancar metade da vida do garoto sem ao mínimo ter uma justificativa, ou ter se despedido.

GUNSHOT | sope longficOnde histórias criam vida. Descubra agora