Sixty four | 64.

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KILLIAN SMITH


Desci as escadas lentamente, sentindo o peso de cada passo. Calíope segurava minha mão, seu toque uma âncora que me mantinha focado no presente. Não era fácil, mas sabia que precisava enfrentar o que vinha adiando por tanto tempo. Quando chegamos à cozinha, o aroma acolhedor de café fresco e pão recém-assado preencheu o ar, proporcionando uma breve sensação de conforto.

Jenna já estava na mesa, folheando uma revista. Ela olhou para cima e sorriu ao nos ver.

- Bom dia, Calíope. Killian. - Sua voz era suave e carinhosa, um bálsamo para os nervos.

- Bom dia. - respondi, tentando manter a voz firme.

Calíope se juntou a ela na mesa, e eu permaneci de pé por um momento, respirando fundo antes de falar.

- Jenna, eu preciso conversar com você. - As palavras saíram mais facilmente do que eu esperava.

Jenna me olhou com surpresa, mas sua expressão logo se suavizou em compreensão. - Claro, querido. Vamos para o escritório.

Ela se levantou e seguiu na frente, enquanto eu lançava um olhar de gratidão para Calíope. Ela sorriu de volta, encorajando-me silenciosamente.

O escritório de meu pai era um lugar que sempre me parecia carregado de memórias e expectativas. Assim que entramos, fechei a porta atrás de nós, tentando ordenar meus pensamentos. Jenna se sentou na poltrona à frente da escrivaninha, aguardando pacientemente.

- O que quer falar, Kill? - perguntou ela, sua voz gentil, mas cheia de preocupação.

Sentei-me na cadeira oposta, sentindo o peso da culpa e das palavras não ditas.

- É sobre o Liam... e tudo que aconteceu desde a morte dele. - Comecei, a voz baixa, mas firme.

Jenna parecia surpresa com minhas palavras, mas incentivando-me a continuar.

- Eu me culpei por tanto tempo. Achei que, de alguma forma, eu deveria ter feito algo diferente, que poderia ter impedido o que aconteceu. E por isso, me afastei de vocês. - Minha voz tremeu ao recordar os sentimentos que havia guardado por tanto tempo. - Durante esse tempo, achei que se afastar, e guardar tudo para mim seria o melhor a fazer. Na minha cabeça, vocês me culpavam pela morte dele, pela morte do primogênito de vocês.

Sentir um nó na garganta se formar, mas continuei.

- Minha rebeldia, não foi só pelo fato do Liam ter morrido naquela maldita noite, e sim por que eu queria ter um terço do que ele tinha com vocês. - digo com a voz embargada. - O Liam era tudo o que vocês sonharam, enquanto eu era o fardo que vocês tinha que lidar.

Jenna se inclinou para a frente, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. - Killian, nunca pensamos que você fosse culpado. Nós sentimos sua dor, e nossa própria dor, mas nunca te culpamos. - A mesma levantou, se ajoelhando em minha frente. - Você nunca foi um fardo para nós, querido. Você e seu irmão foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida.

- Eu sei disso agora. - Respondi, sentindo um nó se formar na minha garganta. - Mas era mais fácil me culpar do que encarar a realidade. E isso me cegou para muitas coisas, inclusive para o que realmente aconteceu com Liam.

Jenna respirou fundo, processando minhas palavras. - O que você quer dizer com isso?

Engoli em seco, sabendo que esta era a parte mais difícil. - Descobrimos recentemente que houve mais na morte de Liam do que pensávamos. Havia circunstâncias que eu nunca considerei, coisas que estavam fora do meu controle. Não foi apenas um acidente, e eu não fui responsável por isso.

VÍCIO PERFEITOOnde histórias criam vida. Descubra agora