capítulo 08

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— Sabe, mãe, sei que ainda estou muito ferida com aquilo que Fernando fez. Ainda não consigo acreditar que ele será pai com outra mulher.
Ouvi dona Almira soltar um bufo e um palavrão nada educado, fazendo-me arquear a sobrancelha, pois nunca tinha escutado a mulher praguejar dessa forma antes. Interessante...

— E me irrita ainda mais pensar que aquele idiota zombou de você. — Praguejou. — Humph. Nunca precisou dele e está muito bem sozinha.
É muito mais inteligente e linda do que aquele lá. Sem querer, um sorriso de satisfação tomou os meus lábios.

Então ela estava solteira novamente? Deveria me sentir indiferente, mas uma euforia me invadiu. — Obrigada, mamãe. — Fez uma pausa. — Pode parecer maluco, mas Júlia reforçou uma ideia que também tive, e confesso que estou pensando muito sério em colocá-la em prática daqui a algum tempo.

Eu teria que me organizar, mas… Como aconteceu quando estava conversando com meu avô, um calafrio me percorreu. O que contaria a mãe, não fazia ideia, mas eu senti que o que ela diria mudaria algo em meu futuro.
Eu deveria estar me sentindo mais perdida e fodida do que imaginava por encarar tudo o que me falavam hoje como uma espécie de premonição. Tola!
— Então, menina? — Dona Almira perguntou. — Inseminação artificial — respondeu com a voz suave, e eu por alguns segundos prendi minha respiração, assimilando sua fala.

A Moranguinho queria ser mãe? Saber isso fez com que algo revirasse no meu estômago. Senti meu coraçãose acelerar ao passo que minha mente fervilhava.
Uma luz no fim do túnel estava surgindo para mim.

  — Nunca tinha pensado na possibilidade de ser uma mãe solo, mas muitas mulheres solteiras têm optado pelo método, pois não precisaria de um homem para participar no processo de criação.
— Hm… É algo muito difícil, minha filha. Você, mais do que ninguém, sabe o quanto foi pesado para mim criar uma criança sozinha.

— E você fez um excelente trabalho, mamãe. — Você que foi uma criança doce e comportada, minha menina.— Almira respondeu com a voz emocionada e ouvi um choramingo vindo dela.

Por um momento, senti-me uma intrusa ouvindo a conversa e a troca de carinho entre as duas, mas continuei ali, escutando.

— Eu te amo, mamãe.

— E eu ainda mais. Sabe, Maiara, se for isso mesmo o que você quer, eu te apoiarei incondicionalmente. Não será mãe sozinha como eu fui, pois sempre terá a mim, e farei o que puder para te ajudar a realizar seus sonhos. Sempre!

— Não sabe o quanto ter você ao meu lado vai ser importante para mim. — Uma felicidade sem igual transpareceu na voz dela.

— Mas em todo caso, não será agora. Não agirei no calor do momento, magoada pelo fato do meu ex ser pai com outra. Tenho muitas coisas para ajeitar primeiro antes que eu possa me tornar mãe.

Primeiro, preciso encontrar uma maneira para conciliar tudo, por mais que minha vontade seja chutar o balde e ter logo meu bebê. Eu amo tanto crianças!

— Está certo, minha filha.

— E eu preciso arranjar um doador de sêmen também. Mas é para isso que existem os bancos genéticos. 
Franzi o cenho com o comentário dela, porém a gargalhada suave de Maiara ecoando por toda a cozinha e chegando até o corredor, se infiltrou em mim, me fazendo dar alguns passos para trás, e fiquei atônita com a intensidade com que me atingia, todo meu corpo reagindo a ela com força.
Mas logo me recompus, aprumando-me, quando meus pensamentos convergiram para uma única ideia: ela queria ter um filho e necessitava de um doador; eu precisava dar ao meu avô um bisneto ou uma bisneta para conseguir o rebaixamento do meu pai e evitar a completa ruína da Mendonça. Agora só precisava convencer, e rápido, Maiara a ser mãe do meu herdeiro.

°°°

Esperando elas mudarem o tema de conversa, para que dona Almira não desconfiasse que eu tinha escutado a conversa íntima entre as duas, aproximei-me do arco que separava o corredor da cozinha e a vi.
Contive o tremor que percorreu o meu corpo quando fitei a massa de cabelos castanhos ondulados que caíam pelas suas costas.

Deixando que meu olhar fixasse na sua cintura fina, em seus quadris mais largos e na bunda avantajada, que não era completamente redonda, era um pouco achatada, mas que mesmo assim uma mulher como eu poderia muito bem se sentir tentado a enterrar os dedos na carne macia.
Porra, como eu uma ova! Pretendia, sim, convencer Maiara a ser mãe do meu filho ou filha, ela era a mulher perfeita para tal, já que meu avô a tinha em autoestima, considerando-a da família há tempos.

Mas, apesar de tudo, não estava nos meus planos tocá-la, por mais linda que ela fosse. Só de pensar em fazê-lo me parecia como uma espécie de profanação, embora fôssemos ambos adultos. Me soava como se maculasse tudo o que compartilhamos quando éramos mais novos.
Soltei um bufo com o rumo dos meus pensamentos e isso fez com que a Moranguinho virasse na minha direção e, depois de me fitar por uns poucos segundos, desse um sorriso largo, como se estivesse mais do que feliz por me reencontrar.

Percebi que isso sempre acontecia quando me via. Seus olhos claros cintilavam de prazer.
— Lila! — Deu um grito animado, parecendo a mesma menininha que não podia me ver. — Há quanto tempo.

E mesmo que eu não quisesse, um calor invadiu meu peito quando ela caminhou na minha direção e eu encurtei a distância, encontrando-a no caminho.
Ficando nas pontas dos pés, envolveu meu pescoço com seus braços finos e deu um beijo no meu rosto em cumprimento.
Senti a minha pele queimar onde ela me tocou inocentemente com os lábios. Envolvi sua cintura e a abracei de volta, aproximando-a mais de mim, o calor do seu corpo pequeno transpassando o tecido do meu terninho.

O cheiro suave do seu perfume estava me embriagando, e um prazer imensurável me tomou. Não era desejo, mas sim ternura, a emoção de tê-la em meus braços.
O ex dela tinha que ser um grande babaca por tê-la traído e depois a deixar. Ela era uma das mulheres mais doces e ternas que já conheci. Quem a tivesse ao seu lado, teria sorte.
— Saudades, Moranguinho. — Dei um beijo na sua fronte, retribuindo o carinho.
— Nossa, nem me fale. — Abraçou-me com mais força e eu sorri, algo que não passou despercebido para Almira.

— Anda trabalhando tanto que esquece dos antigos amigos — brinquei, soltando-a  quando o olhar da mãe dela ficou intenso, o que me incomodou por alguma razão que não sabia distinguir.

Ela não me reprovava, disso tinha certeza. Gostava muito de Almira e sabia que a mulher tinha carinho por mim, mas, mesmo assim, me senti uma menininha pega fazendo coisa errada.



🧚🏻‍♀️

Um Bebê Por Encomenda - Adaptado.Onde histórias criam vida. Descubra agora