capítulo 03

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Presa a esses pensamentos, quase perdi a estação que tinha que descer, mesmo com o sistema do ônibus avisando os nomes delas. Segurando minha pequena bolsa contra mim, caminhei até o conjunto IAPI  sentindo a brisa da noite contra a minha pele, alcançando o bloco em que ficava o apartamento que eu tinha comprado e dividia há três meses com Fernando. Assim que abrir a porta, percebi algumas malas na nossa sala pequena, o que me fez franzir o cenho. Não sabia que Fernando viajaria nós próximos dias e, pelo número de bolsas, por muito tempo.

— Amor?– o chamei, colocando minha bolsa em cima da mesa
Não obtendo resposta, fui até o nosso quarto e encontrei- o lá, guardando uns itens pessoais em uma sacola. — o que está fazendo?

— Indo embora. — sua voz soou grossa e nervosa. Nunca o tinha visto dessa forma e seus gestos fizeram soar um alarme dentro de mim; algo de muito estranho estava acontecendo.

Senti um frio varrer meu corpo e instintivamente me abracei enquanto observava, incrédula. Tudo bem que há alguns minutos, estava pensando no fadado fim do meu relacionamento, mas não esperava que fosse hoje, não depois de encerrar um plantão de doze horas seguidas e estar exausta, sem uma conversa madura e racional entre dias pessoas.

— O quê?— perguntei, depois que minha mente cansada assimilou que de fato ele estava me deixando.

— Cansei de você, Maiara. Nossa vida a dois está uma bosta há alguns meses. Não aguento mais Eliseu Papinho de futuro, formar família e crianças. Você não tem outro assunto não!?— debochou.

Fiquei em silêncio, me sentindo atônita com o seu tom jocoso.

— Estou me mandado daqui!

Bati palmas irônicas, tentando ser forte, mesmo sentido todo o cansaço pesar sobre os meus ombros.

— Então a culpa é completamente minha!?— cruzei os braços. — Canalha!

— Estávamos bem, mas você tinha que vir com essa sua chatice de ter filhos. — bufou irritado, se levantando.

— se é assim que você quer, vá com Deus!— gritei sentindo a raiva substituir o frio que anteriormente eu sentia. Não iria derramar uma lágrima a frente daquele imbecil imaturo que isentava sua parcela de culpa no nosso fim. Não deixaria que ele visse o quanto sua ati6me desestabilizava. Por mais que estivesse esperando pelo fim, não estava preparada para o modo frio e burlesco que usou. Fins nunca eram fáceis e, ao que parecia, os dois anos que passamos juntos nada significaram para ele, podia ver isso no seu olhar cínico e arrogante. Tinha sido uma grande tola. — Mas não ache que te aceitarei de volta, ainda mais quando estiver sem dinheiro!.

— você que correrá atrás de mim Maiara. — apontou para si mesmo. — Homem melhor você não acha, ainda mais um que tolere esse papo de ter filhos.

Bufei.

— e eu preciso de um por acaso!? — arqueei a sombrancelha, tentan6me manter forte por fora, embora dentro me sentisse desmoronando.

— toda mulher necessita de um. — Deu de ombros. — E você precisa mais que qualquer uma, já que não conseguirá fazer um filho sozinha. — Gargalhou alto, vendo graça em seu próprio comentário, como se fosse a piada do ano. Eu quis encolher e sumir dentro de mim mesma, envergonhada.

— Vá embora!— gritei sem me importar com mais nada, e sentei-me na cama, minhas pernas não me aguentariam por muito tempo em pé.

— com o maior prazer!— Deu uma gargalhada e pegou sua sacola.

Fiquei fitando minhas mãos até que ouvi o barulho da porta da frente batendo com força, recordando me que tinha que ter pedido a ele para deixar a chave.

Um Bebê Por Encomenda - Adaptado.Onde histórias criam vida. Descubra agora