capítulo 12

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Por mais que eu estivesse pensando em fazer uma inseminação artificial e precisasse encontrar um doador, Marília não me parecia a melhor escolha a se fazer.
Primeiro, por mais gentil que ela fosse em se oferecer, eu sabia que ela não queria ter filhos, e pela amizade que tinha por ela,não poderia sujeitá-la a isso.

Segundo, se eu aceitasse só complicaria tudo para mim. Usar uma amostra do banco de doação de material genético garantiria que eu não conhecesse o doador, portanto o pai do meu filho, mas se aceitasse a proposta dela, nos ligaria para sempre, pois compartilharíamos algo em comum: uma criança.

Pensar no pequeno foi mais do que suficiente para eu recusar, pois embora fosse difícil não conhecer o pai, eu mesma sabia na pele o que era isso, temia que fosse igualmente ruim conhecê-lo e não ter o amor e o carinho de um, assim como Marília não teve de Ronaldo.
Não, eu não poderia fazer isso com o meu filho.

- Agradeço, Lila mas eu não posso.
- Por que não, maih? - perguntou suavemente, a ponta do seu dedo contornando meu lábio superior.
- Deixe-me fazê-lo.
- Não, Marília. Não é tão simples assim como você pensa, e traria consequências desastrosas para nós dois.
- Suspirei fundo, sentindo-me estranhamente dilacerada. - Não se resume a gerar apenas uma vida, mas cuidar, amar, se doar a outro ser humano.
E conhecendo seus objetivos, não posso pedir tal sacrifício a você. Vi ela engolir em seco e me afastei do seu toque.
Estava prestes a chorar por ver a possibilidade de ter algo que queria novamente escorregar pelas minhas mãos.
Eu precisava fugir da Marília, pois não queria correr o risco de ela me convencer a aceitar.
Estava prestes a abrir a maçaneta da porta quando a mão quente dela segurou meu braço, meu corpo reagindo a ela instintivamente.
Virando-me, prensou-me contra a porta de madeira, colando-nos uma a outra, o calor do seu corpo fazendo-me estremecer.
Abaixando a cabeça, aproximou seus lábios dos meus e roçou-os suavemente, fazendo minha boca formigar de antecipação, um desejo irracional correndo pelas minhas veias.
Eu não deveria me sentir assim nos braços dela, mas enquanto ela movimentava sua boca sobre a minha, experimentando-me com lentidão, deixei-me levar pela sensação do breve toque inocente que era capaz de me incendiar.
Erguendo minha mão, puxei os fios loiros do seu cabelo trazendo-a mais de encontro a mim, pedindo através de um gemido que ela aprofundasse nosso contato, querendo sentir o calor e o gosto da sua boca.
Com um grunhido, Marília segurou o meu rosto e deu aquilo que eu pedia, sua língua adentrando meus lábios entreabertos, saboreando lentamente cada cantinho da minha boca antes de entrelaçar nossas línguas em uma dança agonizante, arrancando de nós grunhidos que mais se assemelhavam a sons insatisfeitos.
Inebriada pelo sabor dela acrescido ao gosto de café que ela tinha tomado, fechei os olhos, aproveitando cada sensação despertada pelo seu tato, calor e cheiro, pelo seu corpo poderoso, rígido, excitado, contra o meu.

Nunca imaginei que pudesse ter tanto poder sobre aquela mulher fascinante, gentil e completamente poderosa.
Arqueei-me contra ela quando Marília aprofundou o beijo, me devorando, revelando-me a fome que tinha por mim.
E eu retribuía com a mesma intensidade, sedenta por mais, ansiando que ela aplacasse o desejo que aumentava exponencialmente no meio das minhas pernas.
Queria que ela me tomasse ali mesmo, no seu escritório.

Meu Deus, o que estava fazendo com a Marília?

Sentindo minha tensão momentânea, ela interrompeu o beijo, recuando um passo, e me fitou com seus olhos nublados pelo desejo, como se questionasse o motivo da minha súbita apreensão.
Apenas maneei a cabeça em negativa, não querendo explicar nada, somente necessitava sair dali.
Eu era pura confusão e não conseguia raciocinar, muito menos lidar com tudo aquilo que Marília suscitava.
Virei-me novamente para a porta e girei a maçaneta, mas antes que eu chegasse na metade do corredor, ouvi a voz suave de Marília atrás de mim, fazendo-me estremecer:

- Não desistirei do seu sonho, Moranguinho !E ali eu soube que aquela conversa não tinha tido um fim.

•••

Podia dizer que eu conhecia muito bem os cômodos daquela mansão, afinal brinquei muito de pega-pega naquele local, correndo e sendo perseguida por Marília, mas no momento meus sentidos eram tomados por confusão provocados pelo beijo e a fome desmedida que ela despertou em mim.

Um sentimento avassalador que foi capaz de roubar toda minha capacidade de raciocinar e que me deixou completamente trêmula.
Meus lábios ainda formigavam pelo contato, seu gosto parecia impregnado na minha boca fazendo-me ansiar por mais. Que ela me beijasse novamente, pois não teria mais forças para interromper essa loucura.

Pensar que eu não a impediria fez com que minhas pernas ficassem bambas e um tremor percorresse o meu corpo, minha pele esquentando só com a ideia. A única coisa que eu tinha certeza é que não poderia deixar a mamãe me ver nesse estado.
Ela me conhecia bem o suficiente para saber que algo havia acontecido e não sei se estava pronta para confessar que deixei-me beijar por Marília e o quanto tal coisa tinha mexido comigo.

Sabia que Almira não me julgaria por ter gostado e por querer mais, mas, sentia que precisava de um tempo para refletir, sozinha.
E também havia a proposta que eu tinha recusado: a de ser mãe.A mãe do filho de Marília .

Soltando um suspiro, ainda em conflito, caminhei a esmo pelos cômodos, torcendo para não encontrar ninguém por onde passava, até que me lembrei da estufa que os Mendonças mantinham no fundo da propriedade, que parecia se integrar perfeitamente com a mata que circundava o terreno.

Era o lugar perfeito para ficar sozinha com meus pensamentos.
Fazia muito tempo que não pisava no ambiente repleto de rosas de várias espécies, talvez porque a pessoa que as cultivava com tanto amor e zelo não mais estava lá para me ajudar a manejar a terra, cortar as folhas sem me machucar nos espinhos, ensinando-me a cuidar delas.
Sentia o sol de final de tarde aquecer a minha pele pouco a pouco, e apreciei o calor que ele proporcionava, algo brando, bem diferente do fogo que Marília tinha colocado em mim.
E eu agradecia por isso. Assim que abri a porta de vidro da estrutura enorme feita de metal, o perfume pungente das rosas infiltrou-se nas minhas narinas e eu respirei fundo, enquanto caminhava até um banco de madeira que ficava em um canto, próximo a alguns arbustos bem podados.
Envolvida pela tranquilidade do lugar, pelo cheiro, e até mesmo por algumas lembranças da risada de dona Ilda, já que era impossível não recordar da mulher doce que amava tanto esse lugar e foi uma espécie de avó para mim, deixei-me ser tragada pelos meus pensamentos, fitando as linhas das minhas mãos sem de fato olhá-la. Nem percebi o tempo passar até que o som de passos ecoou na estufa me fazendo sair do torpor que sentia.
Com medo de que fosse Marília, pois não sabia como reagiria ao estar com ela a sós depois do beijo, ergui meu olhar e soltei um suspiro de alívio quando vi um homem bem diferente se aproximar de mim.
Ele se sentou ao meu lado.

- Tudo bem, Estebán? - perguntei com a voz suave e pousei minha cabeça no ombro forte, sabendo que ele não me rejeitaria.
Prova disso foi quando ele passou o braço sobre o meu corpo, me abraçando, dando em seguida um beijinho no topo da minha cabeça.
O argentino foi a única figura masculina que tive enquanto crescia e eu o amava, bem como a sua falecida esposa.
E seria eternamente grata aos dois pelo carinho e pela ajuda que me deram para estudar. Os amava como os avós que nunca tive.

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⏰ Última atualização: May 29 ⏰

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