capítulo 11

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Maiara POV

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Relaxada por conversar com uma pessoa que não iria me olhar com pena ou que tomaria minhas dores para si, como, de certa forma, minha mãe e Júlia faziam, comecei a me abrir com Marília , me sentindo extremamente confortável em fazê-lo, até a afirmação arrogante dela ser absorvida lentamente pela minha mente, fazendo-me arregalar os olhos, incrédula.

Meus ouvidos deveriam estar me pregando uma peça ou eu escutei errado. Aquela mulher poderosa, que mal tinha tempo para si mesmo, não me proporia uma coisa dessas, não mesmo.

Por mais que eu achasse um pouco triste ela não querer ouvir o avô nesse aspecto e preferir uma vida solitária, o respeitava.

Mesmo que não fôssemos mais tão próximas uma da outra, eu conhecia a sua obstinação e sabia que ela se dedicaria ao extremo para alcançar aquilo que deseja.
E eu admirava isso nela. Sabia que ela iria alcançar o patamar que queria para a Comer Bem, custe o que custar, mas ser pai não parecia entrar na equação dela.
Enquanto refletia sobre o que ouvi, uma raiva começou a me consumir ao pensar em uma hipótese, a única que fazia sentido para mim: Marília estava debochando do meu desejo de ser mãe? Ela não sabia que eu iria tentar fazer uma inseminação artificial quando me organizasse melhor, então não era um oferecimento gentil, nem tínhamos intimidade para tal.

Pensar que ela estava brincando com isso, com a minha ânsia, fez com que, mesmo que não devesse, eu revivesse a zombaria de Fernando, a raiva sendo substituída pela tristeza.
Foi com muito custo que contive as lágrimas que se assomaram nos meus olhos.
Nunca pensei que a mulher que sempre admirei desde pequena pudesse ser tão cruel.
Sem que me desse conta, encolhi-me no sofá onde estava, abaixando minha cabeça.
Se pudesse, eu ficaria em posição fetal.
Não deveria me importar com isso, mas era a Grandona que estava falando.

— Isso não tem graça nenhuma, Marília. — Queria que a minha voz tivesse soado mais firme, mas tudo o que consegui produzir foi um esganiçar ferido e vulnerável. Maternidade era um assunto muito delicado para mim e me afetava muito.
  — Porra, maih.— o tom tenso da sua voz, fez com que eu saísse do meu casulo de dor e erguesse meu rosto, fitando-a.
O rosto perfeito  com a pele macia, sem nenhum defeito . Ela trincava os dentes como se estivesse furiosa, seus olhos castanhos quase verdes cintilando com um brilho perigoso, como se me advertisse de algo que eu não sabia.

Engoli em seco, e um calafrio varreu o meu corpo ao constatar que nada nela indicava sua pilhéria.
Mas eu poderia estar enganada, pois embora eu achasse que a conhecesse pelos velhos tempos, era inegável que as pessoas mudavam.

— Eu nunca brincaria com algo assim, Maiara.— disse entredentes, com raiva, e a olhando melhor, pude ver que ela falava a verdade.

— Não me confunda com o canalha do seu ex. Posso ter os meus defeitos, maih, mas nunca zombaria de algo tão importante para você.

— Eu… — Não sabia o que dizer, minha mente era pura confusão. — Serei segunda mãe da criança que você irá ter.
— Afirmou com tanta certeza que eu dei um pulinho no sofá, assustada. 
— Você só pode estar ficando doida — disse, minutos depois, tentando assimilar a sua fala.
Não conseguia compreender de onde ela tinha tirado essa ideia, mas Marília parecia completamente convicta disso.
O que era estranho, já que mais cedo ela tinha afirmado com todas as letras que ela estava muito bem com a vida que estava levando e o quanto ela exigia dela. E agora vinha afirmar tal absurdo.

— Te garanto que estou completamente sã, maih. A voz rouca, que tinha a intenção de me adular, fez com que os pelinhos do meu braço se arrepiassem, fazendo-me franzir o cenho com a minha reação desmedida.
Mas a intensidade com a qual ela me olhava não ajudava em nada, uma expressão que nunca tinha visto antes.
Desde que eu era pequena, achava Marília bonita, e muitas vezes nunca conseguia evitar o rubor que tomava minhas bochechas perante a sua gentileza, mas à medida que ficava mais velha, mais consciente ficava de que ele era completamente sedutor. Secretamente, posso ter torcido quando era uma aborrecente para que Marília me desse bola, mas isso acabou morrendo dentro de mim quando nos distanciamos por conta da faculdade e da empresa que ela abriu, além disso, fui conhecendo outras pessoas também.
Porém ser alvo daquele olhar intenso e arrebatador era, no mínimo, desnorteante.
Nunca o meu corpo tinha ficado tão consciente do dela, do poder que ela exalava apenas com sua presença, do calor com que mefitava.
E isso fez com que eu tentasse reagir, voltando minha atenção para o absurdo que era sua afirmação.

— Pois para mim, parece que sim. — Levantei do sofá e comecei a andar pelo escritório austero, me sentindo inquieta por Marília continuar me encarando.

— Te horroriza tanto o fato de transarmos, Maih? Estaquei no lugar, sentindo o coração bater mais forte no meu peito. Mesmo que o tom que ela usou tivesse um quê de brincadeira, um formigamento de antecipação e calor surgiu na minha pele.
Sem que eu quisesse, imaginei como seria sentir aquele corpo definido e poderoso completamente nu pressionando o meu contra o colchão enquanto ela se cravava dentro de mim, minhas unhas fincando em sua pele branca com o impacto.
Deus, a simples imagem começava a deixar a minha boca seca. Afinal eu era uma mulher que, como qualquer outra, gostava de sexo e tinha desejos, embora fosse muito seletiva nesse aspecto.
Porém não estava tendo pensamentos eróticos com uma mulher qualquer, mas sim com  a Marília , minha amiguinha de infância, aquela por quem sempre nutri um amor fraternal.
Sonhar em transar com Marília , mesmo que acordada, parecia manchar o sentimento puro que tinha por ela .
Mas, pelas suas palavras seguintes, parecia que não era apenas eu que estava seguindo essa linha de raciocínio.
— Sim, seria muito gostoso, Mauara— falou com a voz tão carregada de desejo que não contive minha ânsia, e girando em sua direção, vi que ela estava de pé, sorrindo de um jeito que faria qualquer uma correr para os seus braços.

Até mesmo eu. Mas não o faria.
— Hm? — Soltei um gemido, mordendo meus lábios logo em seguida, apenas para provocá-lo, não gostando em nada das sensações absurdas que me tomavam. Dois poderiam jogar aquele jogo.

Para minha completa surpresa, Marília rilhou os dentes com força e virou de costas para mim, suas mãos fechadas em punho.
A respiração dela ficou mais ruidosa, seus ombros subindo e descendo com rapidez. Fiquei apenas o observando, sentindo um prazer sujo de ver o descontrole dela quando não deveria.
— Mas não estava pensando em fazê-lo de forma tradicional. — Comentou tempos depois, se virando para mim novamente, controlada.

— Estava pensando em inseminação. Jogando um balde de água fria em mim, trouxe à tona o motivo real pela qual estávamos tendo aquela conversa sem sentido, sua afirmação maluca de que ela vai ser a mãe do meu filho.

— Porque, Lila?— Externei a pergunta que me consumia antes de ser envolvida pela teia de sedução dela.
— Ter um filho nunca esteve em seus planos. Você mesmo disse que a Comer Bem toma todo o seu tempo.
Antes de me responder, ele caminhou lentamente na minha direção, seu corpo se agigantando contra o meu.
De fato, diante da estrutura dessa mulher, eu parecia uma miniatura.
Era quase cinquenta centímetros mais baixa do que ela. Erguendo sua mão, segurou o meu queixo com a sua palma quente, inclinando minha cabeça um pouco para trás para que eu pudesse fitá-la diretamente.
O simples contato foi o suficiente para aquecer minha pele.
— Quero ajudar a realizar o seu sonho, Maiara… Nada além disso. — Passou o polegar pelos meus lábios, e eu os senti queimar onde ela os tocava.
Encarando aqueles olhos castanhos brilhantes e persuasivos, quase disse sim, mas um relâmpago de sanidade me tomou.
Não poderia agir no impulso só porque Fernando tinha me humilhado ao ser pai com outra mulher. Precisava de sensatez.

Um Bebê Por Encomenda - Adaptado.Onde histórias criam vida. Descubra agora