Aliança Improvável: entre sombras e segredos

Capítulo 9

Eu vivia no estado da Virgínia Ocidental perto da Monongahela National Forest e sempre que tinha oportunidade, depois de um dia cansativo de aulas, fugia para o lago escondido entre as árvores. Era o meu lugar especial. Não havia ninguém para me incomodar. Apenas me sentava a ouvir os pássaros a cantar e o vento que fazia as folhas baterem umas nas outras. Por vezes, via um coelho a fugir para a sua toca ou um esquilo a saltar de árvore em árvore. Lembro-me que no outono juntava as folhas castanhas que caiam das árvores e fazia um monte para poder pisar porque o som me lembrava batatas fritas.

Num dia de outono que tinha de tudo para ser normal, ouvi as folhas a estalar e quando olhei para a origem vi uma cria de lobo que se aproximava de um coelho de pelugem branca. O pequenote baixou-se, tencionou os membros e saltou sobre o coelho. Infelizmente, a sua presa percebeu os seus movimentos e deu-lhe uma patada no focinho. O pequeno lobo encolheu-se, soltando um lamento tímido, e involuntariamente, uma gargalhada escapou dos meus lábios. A cria, com a sua pelugem cinzenta, virou os olhos na minha direção, uma expressão de surpresa e temor refletida no seu olhar cauteloso. Tentando tranquilizá-lo, sentei-me no chão coberto de folhas e chamei-o como qualquer criança faz quando vê um animal fofinho. Ele observou-me por alguns segundos com os seus olhos azuis antes de se aproximar muito lentamente. Quando ele chegou perto o suficiente, estendi-lhe a mão para ele a poder cheirar. Assim que consegui a sua confiança, a cria roçou a sua cabeça na minha mão.

Comecei a observar aquele lobo todos os dias durante dois anos. Testemunhei o seu crescimento gradual, e ao final desse período, ele já não tinha a aparência de uma cria. O seu corpo esguio estendia-se acima da minha cintura, e as suas patas haviam crescido impressionantemente, assumindo proporções surpreendentes.

Ele era o meu amiguinho do bosque com quem eu podia falar dos meus sonhos em ser veterinária e ter uma pequena casa perto daquele lago. Ele estava lá sempre para me ouvir com as suas orelhas no ar.

Tentei abrir os olhos, mas as minhas pálpebras pareciam estar coladas uma à outra com supercola. Rapidamente, levei uma mão aos olhos, mas o que se seguiu foi um repentino lampejo de agonia que percorreu o meu abdómen.

'Bip'.

Um grunhido de dor escapou-me dos lábios secos e uma voz suave pronunciou-se ao meu lado.

'Bip'.

— Tem calma. — umas mãos carinhosas agarraram os meus braços e colocaram-mos estendidos dos lados do meu corpo dorido — Se te mexeres muito podes rebentar os pontos.

'Bip'.

Abri os olhos lentamente tentando ambientar-me à luz que preenchia o quarto. Parecia ter um raio de sol direcionado à minha vista. Apenas conseguia ver manchas sem definição.

'Bip'.

Pisquei os olhos para dissipar aquela sensação estranha e, por fim, deparei-me com uma mulher à minha esquerda, o seu cabelo vermelho intenso brilhando. Vestia uma bata branca e exibia um sorriso suave, quase como um anjo.

'Bip'.

De onde raio vem este som infernal? Está mesmo a irritar-me. Esperem aí. 'Bip' mais mulher de bata branca iguala hospital. O que eu estou a fazer num hospital? Tentei rebobinar o que aconteceu antes de apagar completamente.

Então, eu lembro-me de estar na sala do meu apartamento com Kate, Gabriel e Ian, eles saíram e eu fui para o meu quarto e depois... Ah, claro, fui atacada por uma mulher completamente bananas da cabeça e desmaiei. Agora faz todo o sentido eu estar aqui. Mas isto levanta outra questão. Quem é que me trouxe para o hospital?

— Espere apenas um minuto, vou avisar o seu namorado que já está acordada. — disse a médica, desaparecendo do meu raio de visão.

Tenho um namorado? Desde quando? Da última vez que verifiquei estava solteira. Que raio, quanto tempo é que estive a dormir? Será que tenho amnésia? Porque eu realmente não me lembro de ter um namorado antes de desmaiar.