Capítulo 15

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- Vamos morrer. - exclamei com um bico nos lábios e os braços cruzados em protesto.

- Contigo a ser tão pessimista é uma certeza. - reclamou Ian segurando o volante com força sem tirar os olhos da estrada acidentada.

- Ó, alguém acordou com a cauda fora da cama. - provoquei abrindo um sorriso ao perceber o nervosismo do lobinho.

- Desculpa. Eu apenas já não estava habituado a passar uma noite inteira na forma de lobo. Acordei um pouco mais agressivo que o normal.

O carro ficou em silêncio.

- Não quero matar-te.

Mais silêncio.

- Se não o fizeres, eu posso acabar por matar pessoas inocentes. Esse tem sido o meu pior pesadelo desde que sai da minha alcateia.

Fizemos o resto do caminho em completo silêncio. Foi passado algum tempo que reparei que Ian desde que chegou a Virgínia Ocidental parecia saber todas as estradas, caminhos e locais como se tivesse vivido sempre aqui. E para dizer a verdade ele nunca me disse em que alcateia nasceu.

O que veio depois teve o mesmo efeito que levar um murro em cheio na cara.

Se Ian nasceu na alcateia de Virgínia Ocidental, ele pode ser a cria de lobo cinza que conheci em criança. Não... isso seria muita coincidência.

Assim que o carro parou, reparei que o caminho acabava ali. Em frente, havia apenas árvores altas vestidas com as últimas folhas que o vento do outono não arrancara. O chão coberto de neve mostrava o rasto de alguns animais, incluindo pegadas de lobo desvanecidas.

Ao sair do veículo fechei o casaco até ao limite do fecho e tentei aquecer-me esfregando os braços.

- Temos de caminhar a partir daqui. Não te afastes de mim. - declarou Ian tomando a liderança da caminhada.

Andar a pé por três centímetros de neve durante dois quilómetros é uma atividade exaustiva para um humano, mas parece que para um lobisomem é como uma caminhada relaxante.

- Ainda falta muito? - perguntei parando para recuperar o fôlego vendo nuvens brancas formadas pela minha respiração aflita - Eu estou a morrer aqui.

Ian apenas sorriu e aproximou-se de mim, virando-se de costas para mim.

- Sobe para a minhas costas. - disse.

- É que nem penses. - respondi cruzando os braços em frente do peito.

- Alícia, ainda temos mais um quilómetro até ao esconderijo da alcateia e a neve apenas sobe mais. Só te estou a dar a hipótese de chegarmos mais rapidamente.

Desisti por falta de argumentos e subi para as costas dele, que me suportou sem aparente esforço. Puxei o carapuço do casaco para proteger o meu rosto do vento frio e entrelacei as minhas pernas à sua cintura e os braços aos ombros. Ian fez o último quilómetro muito mais depressa do que eu estava à espera. Em poucos minutos, chegamos perto de um círculo de árvores que escondia uma clareira ao ar livre.

Saí das costas de Ian e tentei avançar, mas ele impediu-me colocando um braço à minha frente. Logo a seguir pude ouvir claramente rosnados. À nossa volta quatro lobos enormes cercavam-nos com os dentes afiados e ameaçadores à mostra. Eles avançavam na nossa direção a passos lentos e cautelosos como observassem uma presa.

- Não faças nenhum movimento brusco. - aconselhou Ian protegendo-me com o seu corpo. - Viemos aqui pedir uma audiência com o vosso Alfa. - Ian levantou a voz para se fazer ouvir entre os rosnados.

Um dos lobos aproximou-se de Ian, deu um rosnado e fez um movimento com a cabeça.

- Ian White e Alícia McAllister.

Aliança Improvável: entre sombras e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora