Escuridão e dor envolviam-me como um manto opressivo, uma legião de corvos bicando ferozmente a minha carne. Cada bicada era um relâmpago de agonia que se espalhava por todo o meu corpo, enquanto o meu peito pesava toneladas, dificultando a circulação do ar pelos meus pulmões. Cada inspiração era uma batalha, as minhas costelas pareciam mover-se com vontade própria, como se estivessem a ser arrancadas do lugar. Gritos de desespero tentavam forçar o seu caminho pela minha garganta, mas nenhum som conseguia escapar dos meus lábios.
De repente, um toque suave e carinhoso acalmou a minha mente em meio ao caos, uma ilha de tranquilidade num mar de dor. Acalmou-me o suficiente para que a inconsciência me envolvesse novamente, oferecendo uma breve fuga da tortura incessante.
Não sei quanto tempo passou até eu voltar a acordar. O tempo estava distorcido, um borrão de eventos indistintos. Quando finalmente consegui focar a visão, o meu coração deu um pulo.
— Ian? — perguntei tentando organizar os pensamentos e imagens que viajavam pela minha cabeça.
Eu estava deitada confortavelmente numa cama, coberta por lençóis brancos e uma manta grossa azul.
— Desculpa desiludir-te, mas sou o William.
— Oh... — baixei a cabeça em derrota.
— Não fiques assim. Está tudo bem. Estás a ver aquele monte de lençóis. — olhei para a cama que ele apontou à minha direita.
Os lençóis brancos cobriam um corpo como se este se tentasse esconder do mundo.
— Ian voltou a transformar-se em humano, mas tem estado numa espécie de coma desde então.
Coloquei as pernas fora da cama e senti o chão frio de madeira nos pés nus. Tentei caminhar até Ian, mas os meus joelhos cederam e quase desabei no chão, felizmente, William foi a tempo de me agarrar.
— Tem cuidado. Também não estás nas melhores condições, ainda rebentas os pontos. — declarou Will, pousando-me na cama de Ian.
— Porque é que ele está assim? — perguntei acariciando a bochecha do gémeo de William.
— Para ser sincero, nem nós sabemos. Nunca vimos um Selvagem a conseguir transformar-se de volta. Vamos ter de esperar para descobrir o que acontece.
Uma onda de tristeza preencheu o meu corpo.
— Ei, não te preocupes. Vai ficar tudo bem. — William tentou animar-me com um sorriso sofrido nos lábios.
A porta abriu e Kinley entrou com um copo de água e algo na mão esquerda.
— Já estás acordada! Ainda bem, assim não tenho o trabalho de o fazer. A senhora lobisomem médica disse para tomares isto — declarou entregando-me o copo e dois comprimidos brancos.
Tomei a medicação e bebi a água com urgência. Não reparara no quão sedenta estava.
— Eu vou ver os outros feridos. Toma conta deles, Kiki. — disse Will colocando a mão na cabeça de Kinley.
— Não me chames isso! — a pequena lobisomem pisou o chão com força em protesto.
— És tão fofinha, Kiki. — respondeu Will saindo em seguida do quarto com uma gargalhada.
Kinley deixou um grunhido de aborrecimento sair da sua garganta.
— Ele é chato. — ela respirou fundo — Estás bem?
— Não. — respondi com um suspiro, mas logo me arrependi com a dor excruciante que atravessou o meu peito — Correu tudo mal.
— Como assim? O Ian está vivo, tu estás a recuperar. Não sejas tão negativa. Podíamos ter morrido todos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aliança Improvável: entre sombras e segredos
Manusia SerigalaAlicia McAllister aparenta ser uma estudante universitária perfeitamente comum, com o simples desejo de concluir os seus estudos e encontrar um bom emprego. No entanto, ela esconde um segredo sombrio: nas suas horas vagas, ela caça lobisomens. A vid...