Capítulo 20

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Dei dois passos cautelosos na direção do lobo, sentindo o meu coração bater descontroladamente no peito. Um formigueiro percorreu o meu corpo, provocando um arrepio gelado na minha coluna.

Estava assustada.

Não.

Aterrorizada.

Cada passo que dava parecia ecoar o som da minha própria pulsação. A sensação de pânico aumentava a cada movimento, tornando a respiração mais difícil. Senti o suor a escorrer pela minha testa, misturando-se com as lágrimas que teimavam em cair. O meu corpo tremia incontrolavelmente, os músculos tensos, como se a qualquer momento fossem ceder sob o peso do medo.

Os olhos do lobo, fixos em mim, refletiam uma selvajaria que me paralisava. O meu instinto gritava para fugir, mas a vontade de resgatar o Ian que conhecia mantinha-me no lugar. Sentia-me encurralada entre o amor e o terror, cada batida do meu coração amplificando a angústia avassaladora.

Não era apenas medo. Era um pânico visceral, profundo, que me engolia por inteiro, deixando-me à beira do colapso.

— Tens de sair daí ou ele ainda te arranca a cabeça. — disse o lobisomem que guardava Ian — Já não há nada que possa ser feito.

O lobo cinza rosnou mais alto antes de forçar o arnês e as correntes, magoando-se no processo. O som fez-me estremecer, e no susto, tropecei numa raiz e caí para trás com um grito. As minhas mãos tremiam incontrolavelmente, e já nem sabia se era do frio ou do medo. O meu coração estava tão acelerado que podia ouvir a minha própria pulsação nos ouvidos, cada batida ressoando como um tambor furioso.

— Alícia, estás bem? — William aproximou-se de mim e ajudou-me a levantar — Como chegaste aqui sozinha?

— Eu... Não sei. Simplesmente corri. — respondi, a confusão estampada no meu rosto.

Eu não sabia como cheguei ao exato local onde Ian estava. Parecia que algo me chamava, puxava-me naquela direção. Era como se ele me convocasse, um apelo silencioso que não conseguia ignorar.

Uma súbita dor percorreu toda a minha coluna quando os uivos de Ian tornaram-se ensurdecedores. O meu corpo foi invadido por uma dor excruciante que me fez gritar, unindo a minha voz aos uivos do lobo. Era como se descargas de eletricidade percorressem os músculos do meu corpo, forçando-me a desabar no chão. Senti os meus ossos a querer mudar de lugar, as costelas a estalar e a alargar.

Pisquei os olhos na tentativa de dissipar as manchas negras que me impediam de ver o que me rodeava. A minha respiração estava completamente descontrolada, ofegante e errática.

Tentei focar-me nos sons à minha volta para me distrair da dor insuportável que atravessava todo o meu corpo. Cada uivo, cada som da floresta, misturava-se numa cacofonia de agonia e confusão. O pânico e a dor consumiam-me, deixando-me à mercê da transformação iminente que não conseguia compreender.

— Alícia! — consegui discernir uma voz feminina entre os uivos e gritos — Tenta respirar fundo e controlar a tua respiração. Solta o teu corpo e deixa-o transformar-se.

Inspirei fundo, mas uma pontada aguda nos meus pulmões fez-me soltar um grito agoniado e os meus olhos encheram-se de lágrimas.

— Quanto mais lutares contra a transformação, mais doerá. Relaxa o corpo, como se fosses dormir.

A única vontade que tinha era de mandar a pessoa que falava comigo à merda, porque nunca na vida eu conseguiria relaxar ao sentir os meus ossos a estalar. Tentei inspirar de novo, apesar da dor lancinante.

Inspira.

Expira.

Inspira.

Expira.

Aliança Improvável: entre sombras e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora