Capítulo 6

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Eu mantinha a arma firmemente apontada a Ian. Os seus olhos apresentavam uma frieza que me provocava arrepios na coluna. Ele parecia estar num estado animalesco e eu acho que sei o porquê. Com a minha paciência já quase no limite, olhei-o nos olhos e ouvi um rosnado ameaçador vindo da sua garganta. Gabriel deu um passo em frente, talvez receoso que Ian me atacasse, mas eu apenas o mandei parar. Isto é entre mim e Ian. Está na hora de tirar esta história a limpo. Foquei o meu olhar no seu e em poucos segundos, o seu ar ameaçador transformou-se numa expressão de arrependimento.

— Mentiste-me. — disse-lhe com o tom de voz mais frio que consegui.

— Alícia... — ele tentou responder, engolindo em seco.

— Mentiste-me! És um Solitário! — gritei, ainda com a mão no gatilho. Tudo em mim gritava para disparar a arma. — Como pude ser tão burra. Os outros lobisomens nunca sentiam a tua presença, apenas a minha.

— Estou do teu lado. Por favor, tens de acreditar em mim. — ele levantou os braços em rendição.

O meu coração foi tomado por um redemoinho de raiva e desapontamento.

— Como posso acreditar em ti se tenho todos os lobisomens da cidade a caçar-me! — gritei com a minha voz a ficar mais aguda devido à fúria. — Até podes ser tu quem está por trás disto, eu não tenho maneira de saber.

Observei de relance, do meio do meu ataque de fúria, uma troca de olhares entre Ian e Gabriel, mas não dei muita importância. A minha mente estava apenas focada no sentimento de traição que me preenchia. Gabriel aproximou-se de mim, calmamente, tirou a arma das minhas mãos e atirou-a para longe de mim.

— Tem calma. Não queremos que alguém se magoe. — disse Gabriel, com uma voz calma e olhos postos nos meus. — Deixa-o explicar-se.

Inspirei fundo, sentindo o ar entrar nos meus pulmões e olhei para Ian, ainda furiosa. Sei que posso confiar em Gabriel.

— Explica-te. — pedi.

Ian passou a mão pelo cabelo e olhou-me nos olhos com um certo traço de arrependimento, o seu semblante expressando um misto de culpa e preocupação.

— Tudo o que te disse era verdade. Nunca te menti. Apenas achei que seria melhor omitir esse pequeno pormenor.

— Pequeno pormenor? Existe uma razão por que os Solitários não sobrevivem por muito tempo. E ainda agora parecias estar com alguma dificuldade em controlar o lobo. — respondi, a minha voz tão fria como gelo, o meu rosto demonstrando a ferocidade da minha indignação.

— Por favor, entende. Eu não te quero qualquer mal, na verdade, preciso da tua ajuda. Já vivo na cidade há muito tempo e sobrevivo com facilidade, mas este Alfa que apareceu começou a proclamar território e está a dar cabo de tudo.

— Espera aí. Há quanto tempo foste expulso da tua alcateia? — perguntei, tentando juntar todas as peças do 'puzzle', meus olhos fixos nele, exigindo uma resposta.

— Há cerca de quatro anos.

— Quatro anos? Como ainda não te tornaste Selvagem?

— Isso também eu gostava de saber. Tenho-me apenas limitado a sobreviver.

O facto de Ian ter sobrevivido numa cidade apinhada de gente sem o apoio de uma alcateia é algo extraordinário. Quer dizer, um lobisomem que pertence a uma alcateia já tem dificuldade em ambientar-se à cidade, então um Solitário deve sentir o dobro das dificuldades. Nem consigo imaginar por o que ele terá passado para se manter vivo. Será de devo confiar nele?

Estou tão confusa. Parece que o meu cérebro deu um nó como nos teste de matemática da Sra. Anderson. Pensando bem, trocava esta situação por um dos seus malditos testes.

Aliança Improvável: entre sombras e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora