Noites de Verão

Capítulo 1 - Uma temporada de tempestades

Gustavo

— Papai, precisa ter biscoitos!

Eu olho para Aurora que está sentada em um dos bancos que ficam de frente para o balcão do bar. Biscoitos de gengibre não são tão tradicionais no Brasil, mas minha filha é apaixonada por por desenhos e filmes natalinos, então fui obrigado a começar nossa própria tradição.

— Claro, princesa, biscoitos!

Ela sorri e abaixa a cabeça para olhar seu prato com batatas fritas. Aurora está em uma fase de chapéus e hoje ela está usando um preto com duas borboletas  rosa na aba. Ela volta a olhar para mim.

— E o Papai Noel vai passar depois da festa, certo?

— Sim, querida, como no ano passado.

— Ano passado eu era muito criança, então eu não aguentei ficar na festa e dormi. Esse ano já sou mocinha.

Eu prendo um sorriso porque ela tem apenas 5 anos.

— Claro, esse ano, nós chegaremos em casa e o presente não deve estar lá ainda. Então, deixaremos os brigadeiros para o Papai Noel e aí quando a gente acordar, seu presente estará lá.

— Como você sabe?

— Eu já disse, ele sempre entra em contato com os pais antes do Natal.

— Antes de eu morar com você, ele falava com a minha mamãe?

Eu engulo a seco. Sempre sinto um aperto quando Aurora fala sobre Bruna. Bruna era minha melhor amiga e um dia ficamos bebendo no bar. Nós acabamos nos empolgando e bem… daquele noite nasceu Aurora. Bruna e eu nunca saímos da zona de amigos e éramos ótimos criando nossa filha assim. Até que um dia, Bruna saiu para trabalhar e teve um mal súbito.

— Sim, ele falava com ela.

Ela não me responde e continua comendo suas batatas.

— Batata frita? O que vou fazer com a carne de panela que eu fiz em casa?
Aurora e eu olhamos para minha mãe que acaba de entrar no bar. Durante as férias, Aurora dorme na casa de minha mãe nos dias que trabalho no bar. Eu odeio um pouco isso, mas é alta temporada na ilha, o bar está sempre cheio e meus funcionários precisam de mim.

— Nós vamos comer, vovó!

Minha mãe e eu sorrimos porque essa garota é magra por alguma bizarrice genética, já que ela parece um pequeno poço sem fundo.

— Como vocês estão?

— Bem, mãe, e a senhora?

— Bem, a ilha definitivamente já está enchendo!

Nós moramos em uma pequena ilha no litoral do sudeste chamada Estrela do Mar, as pessoas que querem fugir do movimento do Rio de Janeiro no fim do ano e ainda querem curtir o litoral costumam vir para cá.

— Sim, e no ano novo vai encher mais ainda!

Minha mãe sorri. Ela e meu pai já são aposentados, mas ele sempre abre um quiosque de manhã na praia durante o verão.

— Eu demorei porque resolvi voltar para pegar uma capa de chuva para a Aurora. Aparentemente esse será um verão chuvoso.

Eu faço uma careta.

— Odeio verão chuvoso.

Eu deixo escapar. Minha filha se espanta quando eu digo e quando vejo a expressão de minha mãe, logo me arrependo.

— Ops, papai, acho que você vai levar uma bronca! - Aurora diz divertida porque um dos prazeres da minha querida bebê é ver sua avó brigando comigo.