Capítulo 5 - Uma véspera de Natal

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Gustavo

- Você está bem, filho?

Eu estou na pequena adega do bar quando ouço Daniel, meu pai, perguntar. Confesso que vim para cá porque não aguento mais observar Alex e Esmeralda juntos. Eu percebi o olhar de todos quando os dois entraram, eu vejo a preocupação no olhar da minha mãe (embora ela esteja feliz porque os dois filhos estão passando o Natal no mesmo lugar, mesmo que a gente não se fale, bizarro, eu sei).

- Estou ótimo.

- Filho...

- Nós moramos em uma ilha, eu estou acostumado.

Meu pai suspira. Eu finjo que estou escolhendo um vinho como se eu fosse dono de um bar chique e tivesse uma variedade infinita, quando na verdade eu tenho poucos.

- O que ele fez?

Meu pai me pergunta e eu estranho. Ele nunca perguntou. Quer dizer, ele sabe sobre a questão do bar, mas ele também sabe que isso apenas potencializou nossas questões.

- Por que você está me perguntando isso agora?

Ele deu de ombros.

- Você conhece Aurora, certo?

- Claro, é minha filha.

- Justamente, Gus, eu conheço meus dois filhos e sobre você... Eu sei que você não é rancoroso, se a raiva ainda persiste, é grave.

Meu pai não me diz o que ele sabe sobre meu irmão e ele está tão sereno e tranquilo que eu quase conto para ele como Alex sempre teve inveja de mim. Eu quase conto que ele me viu saindo do bar com Bruna e como ele se aproximou dela depois. Eu quase digo como ele quis que eu pensasse que Aurora seria dele e não minha. Eu lembro de como fiquei irado e briguei com Bruna sem nem perguntar se aquilo fazia sentido, já que os dois estavam saindo. Minha amiga... minha melhor amiga apenas olhou para mim e disse que era impossível ser dele porque eles estavam saindo, mas não tinham feito sexo. Acreditei sem precisar de comprovação porque eu conhecia Bruna e eu conheço meu irmão.

Mas isso não o impediu de vir até mim depois que ela morreu e encher minha cabeça. Ele chegou a falar que pediria exame de DNA e provaria que aquilo que eu mais amava, não me pertencia.

- Gus?

Ouvir meu apelido de infância, aquele que só meu pai e minha mãe usam, me impediu. Eu os amava demais para fazer com que eles achassem que deviam tomar partido de um filho.

- Nós apenas nunca demos certo, pai, e eu cansei de tentar. Agora vamos, é véspera de Natal e eu não quero transformar essa noite em algo ruim.

E estou sendo sincero. Eu tenho uma filha que ama o Natal. Tenho meus pais que adoram festejar essa data. Não posso deixar meu irmão me afetar. Eu estou acostumado a ele e estou decidido a ignorar o fato de que um interesse em potencial é amiga dele.

Quando volto para o bar, não controlo a sensação de orgulho que toma meu peito. Minha festa de Natal já virou tradição da ilha e eu sei como todos gostam de estar aqui. Algo que começou com o foco nos turistas, virou um grande encontro local. Meu avô estaria orgulhoso.

Não sou tão forte como gostaria e em alguns momentos, eu olho na direção de Alex e Esmeralda. A impressão é que eles estão se divertindo, mas eu posso entender, Alex é carismático. Ele sempre foi. Esmeralda também parece ser e ela meio que conversa com todos que chegam até eles. Porém, eu dou uma rápida varrida com o olhar no local e repasso mentalmente a lista de compradores. Então, percebo: Alex não estará aqui no fim da noite.

- Papai! Você acha que o Papai Noel já passou lá em casa ou ele vai passar depois que eu dormir?

Aurora me pergunta. Ela está sentada em um banco de frente para o balcão e parece preocupada. Eu levanto uma sobrancelha e aperto sua bochecha.

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