Capítulo 4 - Um reencontro

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Gustavo

Simplesmente odeio ter que vir no mercado do meu irmão. Faço compras em outros, ou até fora da ilha, quando preciso, mas cheguei no bar e Augusto, muito constrangido e me pedindo perdão, disse que estávamos sem tomate. Ele disse que jurou que tinha mais um pouco na geladeira e que por isso não havia dito nada. Um engano que pode acontecer com qualquer um, o problema é que a essa hora eu só encontraria aqui aberto.

Entro e vou direto para os tomates querendo agilizar logo o que eu tinha que fazer, se o vinagrete que acompanha as porções de carne não fosse tão pedido, eu passaria uma noite sem servi-lo, mas negócios são negócios.

Não encontro meu irmão e dou graças a Deus por isso. Passo pelo caixa, pago os tomates e sigo em direção ao meu carro. Olho para céu e xingo mentalmente porque vejo que vai chover novamente.

- Então você já conheceu minha amiga?

Uma voz diz atrás de mim e seguro outro xingamento porque reconheço a voz de Alex. Eu me viro para falar com ele.

- Tudo bem, Alex?

Ele me dá um sorriso irônico. Eu já amei o sorriso do meu irmão, eu amei a ideia de ser um irmão mais velho e Deus sabe o quanto eu tentei fazer esse papel. Depois, por anos eu senti raiva desse sorriso, o mesmo que eu vi em seu rosto quanto ele estava prestes a acertar aquele cachorro. Agora eu sinto indiferença e, sinceramente, acho que isso é pior. Ódio, ao menos, significa algo.

- Excelente. Eu te vi e vim cumprimentar. Faz tempo que não nos vemos. Como está Aurora?

- Não é da sua conta, Alex, nunca foi.

Ele ri de novo e não fala nada porque sabe o motivo de eu dizer isso. Ele sabe que algo em nós quebrou em nossa adolescência, mas foi tudo o que ele fez depois de adulto que nos deixou em pedaços. Eu nunca mais vou amar esse sorriso.

- Hoje recebi uma visita interessante, mas acho que você já deve imaginar, certo?

- Não acho que seja da minha conta, certo?

- Eu sei que você não acha já que você nem se dignou a falar sobre mim para ela.

Eu me incomodo um pouco pelo fato de Esmeralda ter falado sobre isso com ele, mas preciso entender que ela é amiga dele e não minha.

- Estamos quites, porque ela nem sabia que você tinha um irmão.

- Faz tempo que eu não tenho irmão.

- O que só mostra que você não precisava ter vindo falar comigo, certo? Até logo, Alex.

Eu me viro e continuo meu caminho.

- Acho bom você saber... - Ele diz e eu paro. - Que irei no bar amanhã.

Eu não respondo. Aperto minhas mãos em punho e apenas respiro. Ele já esteve lá outras vezes. Eu não tenho coragem de negar sua presença porque esse era o bar do meu avô. Nós crescemos lá. Além disso, são negócios... Vivemos em uma ilha, assim como o mercado dele é minha única opção, o bar também.

Ele deve ir com Esmeralda. Odeio que essa garota tenha falado com Alex, odeio que ela esteja aqui por ele. Talvez seja melhor eu me afastar, claro, temos o Chá das Princesas amanhã, mas depois disso... Chega de conversas na praia, chega de falar que gosto do cabelo verde. E chega de masturbação no banho...

É, eu fiz isso depois da praia, não me orgulho, mas imaginar aquele corpo que ela escondeu no maiô... Bom, isso me deixou meio louco.

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- Desculpe.
Augusto me diz assim que eu entro no bar.

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