Capítulo 17 - Emboscada, Armadilha

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  Por que será que tudo pra mim é sempre uma armadilha disfarçada de felicidade? Eu achei que finalmente tinha começado a resolver as coisas, mas aparentemente só fiz piorar. Tudo começou com a desgraça desse tapa-olho. Ah como eu odeio esse tapa-olho. É um semblante de desgraça, de falha. Só de pensar de que eu fiz minha irmã ficar se culpando durante todos esses anos me dá vontade de me matar...
  Será que é mais um sinal pra eu fazer isso? Não é como se eu tivesse muito motivo pra viver. Tem a Mari, o Kel, a Aubrey e o Basil, mas será que tudo isso vale a pena mesmo eu fazendo mal para todos eles? A Mari eu destruí com o peso da culpa, Basil eu destruí seu coração, Aubrey eu magoei seus sentimentos pelo meu egoísmo e indiferença e o Kel...Graças a Deus ainda não fiz nada com ele, ele é a última pessoa que eu quero ferir nesse mundo. E para piorar a minha situação agora tem a minha mãe, eu não quero passar oque filhos que não aceitos pelos pais passam, eu não quero passar oque a Mari passa...
  De repente meus pensamentos são interrompidos por uma voz doce e calma, que cortava a tristeza da madrugada. 

Mari: -Sunny? -Era ela. 

Sunny: -Oi?

Mari: -Eu ouvi você chorando. 

Sunny: -...Desculpa, eu atrapalhei o seu sono. -Ela se levanta da sua cama e vai até a minha, se sentando do meu lado. 

Mari: -Você pode desabafar comigo de vez em quando. Eu sou sua irmã, mais velha ainda por cima. 

Eu não quero te esmagar com mais problemas meus...

Sunny: -Tá tudo bem! Foi só...Um pesadelo. 

Mari: -Sunny, você nunca foi de chorar por pesadelo. Por favor, eu preciso que você confie em mim pra isso. 

Sunny: -Você viu o jeito que a mãe foi preconceituosa lá em baixo?

Mari: -Ah sim...Eu vi. 

Sunny: -E...Eu tenho medo dela me expulsar de casa, me abandonar, bater em mim, me matar...Eu tenho medo do que ela pode fazer comigo-

  Minhas palavras já estavam se atropelando ao som do meu choro, eu me descontrolei, deixei tudo sair de dentro de mim, de novo. Antes que eu pudesse me recompor, Mari me abraça fortemente, o que só me fez chorar mais ainda. 

Mari: -Shhh...Tá tudo bem...-Ela acariciava meus cabelos enquanto me acalmava, que nem quando éramos mais novos.

Sunny: -Mari...Eu tenho medo.

Mari: -Vai ficar tudo bem...Vai ficar tudo bem. Eu te prometo. Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você. Não de novo. 


Sunny: -...O-Obrigado. -No fundo eu ainda sou o irmão mais novo velho, aquela criança que quando chorava buscava o colo da irmã. Eu ainda não mudei. 

Na casa de Basil (As 8:00)
Basil POV: ON

  Aubrey havia me chamado para ver vagas de emprego, ela citava várias que havia encontrado a alguns dias atrás, eu estava querendo muito conseguir focar no que ela dizia, porém minha cabeça só pensava na situação de Sunny, será mesmo que ele vai ficar bem?

Aubrey: -Aí a gente também pode trabalhar num cabaré, oque você acha?

Basil: -Aham...

Aubrey: -Aí você pega os mais novos e eu os mais velhos. Tudo bem?

Basil: -Sim...É uma ótima ideia. 

Aubrey: -BASIL! -Eu dou um pulo de susto. 

Basil: -An?! 

Aubrey: -Você tá preocupado com o Sunny, né?

Basil: -Muito...

Aubrey: -Olha, não há muito oque a gente possa fazer. O que a gente pode fazer é dar todo o nosso apoio a ele caso aconteça algo. Você não precisa ficar se preocupando com isso por ele. Só torça pra tudo dar certo, ok?

Basil: -Ok. Eu acho. 

Aubrey: -É difícil, mas é o jeito. Sim! Tem essa vaga aqui numa floricultura aqui perto, ela paga bem se assinar a nossa carteira, bora?

Basil: -E você sabe cuidar de plantas?

Aubrey: -Aprendi com tu, mano. Tô a tanto tempo aqui que já já tô que nem uma velha zen que cuida de orquídeas. -Eu rio do seu comentário besta, realmente ela é muito boa em descontrair as pessoas.

Basil: -Já cuidei das plantas, tu quer ir lá?

Aubrey: -Bora, aparentemente é uma senhoria muito simpática. -Ela me mostra a foto da dona da floricultura. Na foto ela estava usando uma jardineira verde, entre suas características físicas estavam seus olhos azuis claro, seu cabelo loiro quase branco e sua pele clara. Ela parecia...A minha avó. Sinto uma lágrima escorrer do meu rosto. 

Aubrey: -Basil? -Aubrey olha de novo pra foto e a analisa um pouco melhor, notando de imediato o porquê de eu estar quase chorando. -Ainda dói né?

Basil: -Muito...

Aubrey: -Ela pelo menos está em um lugar melhor que aqui. 

Basil: -Pelo menos isso. Ela sempre foi muito crente em relação a isso. De que quando a gente morria a gente ia para um lugar onde tinha tudo que a gente conquistou. Ela disse isso em uma das nossas últimas conversas...Nunca vou esquecer. Até hoje eu lembro dela falando isso pra eu conseguir superar a ausência dela. 

Aubrey: -Sinto muito. -Ela pausa por um momento e puxa o celular com a foto da senhora pra perto de si. -A gente pode tentar em outro lugar. 

Basil: -Qual o nome da senhora? Ela parece muito simpática. -Eu digo enquanto limpo minhas lágrimas. 

Aubrey: -É Violeta. Ela é casada com Antony que fica com ela lá na floricultura cuidando das coisas com ela. 

Basil: -Violeta. É um nome bonito! Quer ir lá logo? 

Aubrey: -Bora, só fecha de noite mesmo. -Aubrey pega seus documentos junto com os meus, havíamos os deixado em cima da mesa para caso precisássemos fazer algum cadastro em algum site do governo. Ela segura a minha mão e me guia para fora do quarto, estavam...quentes. Me puxa com tanta rapidez até a porta da frente que nem consigo me despedir de Polly direito, só conseguindo fazer uma rápida troca de olhares. 

  A floricultura, por incrível que pareça, era perto de casa, perto do mercado. Não demoramos muito e já chegamos lá. Aubrey bate na porta para alguém nos receber, porém não teve sucesso. Então decidimos abri-la por conta própria e quando abrimos...
  Era uma enorme estufa com todos os tipos de flores, desde orquídeas, rosas a cactos. Parecia um paraíso para mim de tão florido que era aquele lugar, óbvio que seria florido, é um floricultura. Olhamos um pouco ao redor e nada de encontrarmos a senhora Violeta, que era pra estar aqui em algum lugar. Procuramos pelos cantos da estuda e novamente, nada. Até que ouvimos a porta da frente se abrindo novamente, oque fez Aubrey virar rapidamente para a entrada. 

Aubrey: -Violeta! -Aubrey corre em direção a senhora, era a mesma da foto. 

Violeta: -Minha filha, você é a mesma menina que respondeu o anúncio, não é?

Aubrey: -Sim! Sou eu mesmo! 

Violeta: -Então, vai trabalhar aqui mesmo?

Aubrey: -Não só eu mas como o Basil também! -Ela diz apontando para mim. A senhora para de olhar para Aubrey e faz contato visual direto comigo, se aproximando cada vez mais de mim. Quando chega perto me dá um sorriso caloroso, que saudade de um calor assim. 

Violeta: -Muito bonita a sua amiga, Aubrey! -Espera, amiga?

Aubrey: -Não, não. A senhora se enganou! É Basil o nome dele.

Violeta: -Ah sim. Basil, muito lindo o seu....? N-

Aubrey: -Amigo! Basil é meu amigo. Ele entende muito mais de plantas do que eu, então acho que ele seria um bom funcionário seu e eu também! 

Violeta: -Contratados. 

Aubrey: -Que?! Fácil assim? Não vai assinar nada? 

Violeta: -Depois a gente resolve isso...Por enquanto vamos só regar as plantas aí mais tarde a gente resolve isso. Tá bom? 

Basil: -Por mim tudo bem. E você Aubrey?

Aubrey: -É o jeito né...Bora lá. 

  Violeta nos oferece duas jardineiras que por algum motivo cabiam perfeitamente em nós dois para começarmos a trabalhar. Como o prometido, começamos regando as plantas, enquanto fazíamos isso eu comentava sobre cada flor que eu via para Violeta, que parecia apreciar cada palavra minha em relação as suas plantas. Realmente, ela era igual a minha avó...

Basil POV: OFF

Sunny POV: ON


  Hoje eu não comi direito, não tomei água direito, hoje eu não fiz nada direito, mas que dia que eu faço alguma coisa direito, né? Eu passei meu dia sentado na cama encarando o chão enquanto me tremia de fome, era uma sensação péssima, mas era oque eu merecia, ou não? Eu só queria me sentir livre para conseguir falar com o Kel sem me sentir culpado por estar atrapalhando algo dele ou coisa assim...
  Mais uma vez meus pensamentos sombrios são cortados por Mari que entra no quarto com uma caixa de papelão, com aparentemente algo dentro. Ela parecia bem animada. 

Mari: -Adivinha oque tem aqui. 

Sunny: A...Mewo? 

Mari: -Errou, tenta de novo! 

Sunny: -Não sei. -Ela então senta do meu lado da cama e me mostra oque tinha na caixa.

Mari: -Então...Quando você era mais novo você tinha me pedido para deixar umas roupas minhas aqui quando eu não fosse mais usa-las. E bem...Eu sempre gostei muito das minhas roupas. -Ela ri para si. -Mas aos longos dos anos eu acabei deixando umas roupas que eu ganhava de presente de aniversário que eu não gostava. Pareciam meio góticas ou coisa assim...Aí eu achei que você fosse gostar de vê-las, pra te animar um pouco. -Ela bagunça o meu cabelo. 

  Eu então pego a caixa e me espanto com o conteúdo dela. Nela haviam uma saia curta preta, um top de X cruzado também preto, um par de meia-calça, como esperado, também preto. Sinto meu rosto avermelhar ao olhar para aquelas roupas. Desde quando minha irmã recebia esse tipo de coisa?! Olho para ela que me olhava com um olhar inocente, o oposto do que ela havia acabado de me entregar. 

Sunny: -É...Meio diferente né. 

Mari: -Eu acho que ia combinar muito bem com você! 

Sunny: -Mas tudo bem eu usar esse tipo de...Roupa? -Eu alongo um pouco a palavra roupa, sem saber como chamar aquilo mais. 

Mari: -Se você se sentir confortável. Eu só tô te dando isso porque ia pro lixo. Eu mesma não ia usar isso aí, mas achei que você quisesse, então aproveite! -Ela se levanta e vai até a porta do quarto, antes de sair me dá um sorriso quente. 

  Tá, agora oque diabos eu faço com...isso? Se bem que a roupa é até bonitinha, além de ser só preta, a saia ela tinha um acessórios de metal que se assemelhavam a uma corrente bem curta, dando um charme a mais para a peça. O top mostrava muito a pele, cobrindo basicamente só os peitos, que eu não tenho,  e por fim a meia, que era normal, mas tinhas uns rasgos pequenos em algumas partes.
  Depois de muito tempo pensando, eu chego a conclusão de que perdi o amor a minha vida e decido vestir a roupa numa tentativa de animar a minha mente. Troquei ela com a que eu estava usando bem rápido, já que as peças não tinham muito pano, e pronto. Vou para o espelho dar uma olhada e...Caraca....EU AMEI?!?! 
  Meu Deus, eu preciso de mais roupas assim no meu armário. Por que que eu nunca pensei em usar nada assim antes? É tão mais confortável e...A pera, minha mãe vai brigar. Ela já vai de qualquer jeito então foda-se, vou mostrar pro Kel. Por que? Porque sim. 
  Saio do meu quarto na velocidade da luz para que minha mãe não me veja assim e vou direto para a casa de Kel, quando chego na porta, para minha humilhação, quem me atende é Hero que fica em completo silêncio ao me olhar.

Sunny: -Erh...O Kel tá aí?

Hero: -Ele...Saiu. Tá lá na praça. 

Sunny: -Valeu, vou lá. -Antes que eu pudesse sair correndo dali, Hero me chama. 

Hero: -Espera! Só quero dizer, parabéns com o Kel viu. Felicidades.

Sunny: -Muito obrigado. -Agora sim, dou carreira total em direção ao parque. Não queria que ninguém mais me visse assim, principalmente o povo da igreja... 

  Chegando lá eu vejo o motivo do Kel está aqui, ele estava treinando. Para não interrompe-lo eu vou silenciosamente me sentar no banco perto da quadra, se era que aquilo podia ser chamado de quadra. Infelizmente minha tentativa de não chamar a atenção falha, com Kel olhando para mim assim que eu chego lá, quando ele termina de me analisar ele cora intensamente e desvia o olhar rapidamente, droga eu fiz ele perder o foco um pouco.

???: -Kel, meu amigo, oque é isso?! Tá fraco?

Kel: -Das pernas eu tô, seu Hudson, deram aqui uma tremida. 

Hudson: -Pois foco! Você voltou a treinar agora pouco e já tá fraquejando? Que é isso, rapaz! 

  Kel continua treinando basquete se movimentando de um lado para o outro, e cada movimento seu eu só consigo reparar na beleza de seu corpo. A sua pele que refletia a luz do sol, seu cabelo, suas pernas e braços bem definidos, seus ombros também definidos, seus glúteos marcados em seus short. Ele realmente era o homem dos meus sonhos, de corpo e personalidade. 
  Eu o amo tanto...Quando acabar esse treino dele vou mostra-lo do meu jeito o quanto que eu o amo, ou pelo menos tentar conversar sobre. 

Vamos lá Sunny, junte seus cacos, você consegue!





Continua...


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