Capitulo 23.5

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"Dentro da minha cela eu não tenho noção se é dia ou noite, as vezes sei quando está chovendo pelo cheiro que fica no ar, talvez hoje esteja chovendo, mas não tenho certeza. O chão parece tremer um pouco, vi vários guardas passassem correndo apressados, mas não sei o que pode está acontecendo lá fora.
- Eles estão tentando invadir - conseguir escutar alguém gritar
- Eles soltaram os escravos - Uma voz mais distante gritou.

"Revolucionários". Eles estão lá fora agora, estão lutando contra Gawain. será que me resgatariam?

Não posso esperar um resgate, se existe uma chance de fugir é agora que estão distraídos.

Visto minhas melhores roupas e enrolo faixas nos pés já que não tenho sapatos. 
Me arrasto para baixo da cama e retiro um pedaço de pedra solta onde escondo coisas, não tenho muito já que tudo o que eu faço é monitorado, mas consegui esconder um grampo de cabelo antes de removerem todos do meu cabelo, um garfo depois de causar uma confusão e conseguir joga-lo em baixo de uma estante com poucos livros e um prego que arranquei dessa estante.

Levei um dia inteiro para entortar os dentes do garfo de um jeito perfeito para tentar abrir a fechadura, na minha teoria seria algo simples, mas nunca testei escapar assim antes. 
Enfiei o dente distorcido do garfo na fechadura e girei levemente para o lado que queria abrir e depois enfiei o grampo tentando alinhar as engrenagens. Não consegui de primeira, tive que tentar por vários minutos, o suor escorria pelas costas e faziam minhas mãos escorregarem, mas não poderia desistir, tinha que sair daqui.. Já fazem 4 anos que estou presa, Gawain não vai esperar por mais muito tempo. Não quero morrer aqui, não posso morrer aqui!

Clic. O cadeado abriu, as grades rangeram quando empurro o portão. Caiu de joelhos chorando, finalmente estou livre. Não posso chorar agora, pelo menos não agora, preciso sair daqui antes de o que quer que esteja acontecendo lá fora termine.

Corro pelos corredores, meu corpo é forte graças aos exercícios constantes, mas faz anos que não posso correr assim, a dor é deliciosa, meu pulmão queima de ansiedade. Reconheço a escadaria e subo correndo, virando mais algumas vezes já é a saída, lá fora é minha liberdade. Livre. Livre. Livre.
Consigo ver janelas, é dia. Quero sentir o sol na minha pele, quero ver o céu azul, quero sentir o cheiro do ar, quero que meus pés toquem a terra...

- Onde pensa que vai, borboletinha? - Micah surge agarrando meus braços, tento lutar contra ele, mas ele é mais forte.

- Me solta, filho da puta! - Grito me debatendo, tento morder sua mão.
Micah solta uma gargalhada e me empurra contra parede, bato a cabeça com força e caiu no chão - Nunca te vi arisca desse jeito, acho que agora gosto ainda mais de você.

Olho para o final do corredor, sei que virando é a saída, consigo ver a luz do lado de fora refletindo na parede, tão perto..
Micah me puxa e me empurra contra parede de novo, apertado o corpo contra mim, se esfregando e rindo.

- Fica longe de mim seu cretino - Grito tentando me soltar - Eu juro que vou te matar, eu vou te matar!

- Esperei muito tempo para por minhas mãos em você, Gawain te proteje como uma borboleta em um jarro, mas você é minha agora - Sua mão aperta minha coxa e grito em desespero procurando qualquer um que poderia me salvar dele.

E lá, bem no final do corredor que seria minha saída está parada minha mãe, assistindo com o rosto imparcial, grito para que ela me ajude, mas isso só tira um sorriso do seus lábios. Ela não faria nada, assistiria eu ser abusada por ele, não se importa comigo como filha, eu só sou um objeto, um prêmio, um jarro de sangue.

Uma bomba estoura e o chão teme, pedaços do teto caem e eu consigo empurrar Micah o suficiente para conseguir fugir. Corro em direção a saída, mas minha mãe está no caminho, vejo ela arregalar os olhos quando avanço contra ela, socando seu rosto para tira-la do meu caminho.
Mas antes que note ela já está agarrando meus cabelos curtos, dando tempo para Micah me imobilizar no chão.

- Sua creatina! - Grita minha mãe antes de me dar um tapa me empurrando de volta para cela - O quê você estava querendo fazer? Fugir?

Me arrasto no chão em choque, estive tão perto da liberdade, quase poderia sentir a sensação nos meus dedos, o gosto na minha boca.. e agora estou aqui novamente, isso é frustrante.
- O quê você esperava? - Grito fazendo minha mãe se assustar - Não vê o que está acontecendo lá fora? Não consegue enxergar como isso é doente? Sou sua filha! - sinto as lágrimas escorrerem quentes, mas não é tristeza ou rancor. É a mais pura raiva que sinto correr nas minhas veias.

- Eu deveria ter te matado no útero - Diz agarrando meus cabelos empurrando meu rosto para o chão - Você não enxerga a honra de servi-lo, você só precisava sangrar e nem nisso você prestou - Sua voz tinha um tom de amargura, seu rosto se repuxa de nojo. Ela se afasta um pouco antes de chutar meu estômago. O ar escapa dos meus pulmões e quase vomito meu almoço.
- Eu te dei tudo! - Grita me acertando novamente - Tudo do melhor. Te dei um propósito. Você só tinha que menstruar - A cada frase um novo chute, me encolho no chão vomitando todo o conteúdo do meu estômago.
- 4 anos! Até quando Gawain vai ter que esperar? Te demos remédios, doses de hormônios, injeções.

Solto uma risada grossa, minha garganta doía por conta do vômito, mas não me importei - Eu sou teimosa pra Caralho.

- Sua.. - Minha mãe avança com os punhos fechados e me preparo para surra.

- O que você pensa que está fazendo? - A voz de Gawain é grave, tenho a sensação que treme o chão. Minha mãe empalidece se curvando perante ele. Isso me tira um último sorriso antes de me jogar no chão.
- Faça ela parar, meu Senhor! - Clamo me arrastando em sua direção me fazendo de coitada.

Gawain vai em direção à minha mãe e agarra seu rosto bruscamente puxando para perto do seu, escuto o pescoço dela estralar com a brutalidade

- Nunca toque em algo que não é seu - Seu tom é tão frio que sinto minha espinha gelar - Ainda mais se for algo meu.

- Sim, meu senhor, me desculpa, eu imploro - Ela implora com a voz assusta. Também estaria em pânico se fosse ela.

- Tirem essa insolente da minha frente antes que a mate na frente da garota - Sua palavra é ordem, a vibração da sua voz me dá medo, ele realmente não é apenas um homem. Em segundos os guardas entram e a tiram da minha vista. Tudo o que queria ver era a morte daquela mulher e esse pensamento me assusta.

- Micah - Chama se virando e olho para o chão para evitar seu olhar - O recado é para você também.

Penso em abrir a boca e contar para ele o que Micah tentou fazer, mas me falta coragem de abrir a boca em sua presença para acusar alguém. Também não quero que ele saiba que eu fugi, Micah não falará se eu não contar.

- Como Ducan chegou tão perto? - Pergunta e meus ouvidos se atentam - Não adianta matarmos as abelhas se não esmagarmos a rainha - suspiro com a informação e Gawain me nota ali - Vamos conversar na minha sala.

Estou anestesiada com a informação, então Ducan é o nome do líder, interessante..
Eles são fortes, pelo menos fortes o suficiente para irritarem Gawain e continuaram vivos.

Os médicos vieram logo depois, para me concertar. Eu era um prêmio, uma bela borboleta dentro do jarro, não poderia ter defeitos.

Naquela noite não conseguia dormir porque sentia fortes dores no ventre."

Zoro e S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora