Capítulo 04

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O dia já havia amanhecido, mas, no interior da árvore as frestas de luz do sol não alcançavam, Alayah estava suando frio, seus pesadelos não a deixavam outra escolha.
Ela estava revivendo a morte de seus pais, mais uma vez, e depois veio a lembrança de ontem, e em sua frente, a figura de Luca apareceu, desfigurado e com uma luz brilhante sobre ele, e sangue escorria de sua boca.

Alayah acordou assustada e cheia de suor grudando em suas roupas, o sangue seco de seus pais se faziam de nova estampa para a blusa da garota.

Quando finalmente começou a conseguir a raciocinar, notou que o Luca não estava ali no interior da árvore.

Seu coração disparou, ele havia a deixado? foi por causa de sua grosseria ontem?

Alayah correu para fora da árvore, mas logo viu o menino correndo de quatro em sua direção, seu alivio durou pouco, pois por alguns segundos pensou que era um animal correndo para ataca-la, totalmente errada não estava, não deu tempo de reação, pois o garoto havia chegado e parado em sua frente em pé.

Alayah sorriu, alguns minutos atrás ela havia pensado que tinha sido abandonada pelo garoto.

- Bom dia! olha, eu não morri! haha - Luca dizia sorrindo para ela e passando a mão na sua própria cabeça.

- É, parece que não, mas não faz mais isso, não até eu aprender a controlar pelo menos! - Mesmo aliviada e feliz com a presença do garoto, a menina ainda conseguiu se fazer de brava com a situação.

- Tabom, pode deixar. - Ele respondeu a ela.

- Alias, o que estava fazendo para fora da árvore? - Alayah perguntou curiosa para o garoto.

- Eu trouxe mais frutinhas, ontem comemos todas, lembra? - Enquanto respondia ela, ele abriu o zíper da bolsa e mostrava o interior dela cheia de frutinhas.

- Lembro. - Alayah olhava para as frutinhas e lembrou. - Ei, posso te pedir uma coisa? - Ela questionou o Luca.

- Pode sim, o que foi? - Ele perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas.

- Você pode ficar dentro da árvore, eu preciso tomar banho. - A menina disse corando e abaixando o olhar para o chão.

- Aah-ah claro! - Luca também ficou envergonhado e gaguejou enquanto falava, e logo correu para dentro da árvore.

Depois de se certificar que o menino não estava espionando, Alayah entrou dentro de um riacho próximo, a água não era funda, batia em sua cintura, e quase refletia o céu de tão transparente.

Na floresta não tinha shampoo, tampouco sabonete, seu banho não demorou muito, apenas passava a mão com força em sua pele, para ter certeza que ao menos a sujeira estava tirando.

Logo a menina voltou para o interior da árvore, e viu o Luca ''cavando'' o tronco interno da árvore.

- O que você ta fazendo? - Ela perguntou confusa para ele e se sentou próximo, abraçando suas pernas e observado o garoto.

- Tô aumentando o tamanho da toca, assim sobra mais espaço ! - Ele respondeu para ela, e também se sentou.

- Hmm, entendi, posso te fazer uma outra pergunta? - Ela questiona olhando para ele.

- Claro! - Ele disse de imediato.

- Como você não fede? é que aqui não tem sabonete. - Ela disse a ele, apontando o dedo para o sovaco de Luca e complementou - E eu ainda consigo sentir um pouco de fedor em mim - recuou sua mão de volta para ela.

- Isso eu não sei te dizer, eu tomo banho no riacho, apenas na água também! - Ele disse para ela e complementou - E se quer saber, seu fedor não me incomoda! - Disse apontando o dedo para o sovaco da garota.

Os dois caíram na risada, parecia que pouco a pouco a garota estava conseguindo domar os demônios que o destino havia despertado.

As crianças almoçaram as frutinhas que o Luca recolheu mais cedo, e ficaram conversando sobre o que gostavam de fazer.

Quando a tarde vinha chegando, Luca teve uma ideia.

- Ei, por que você não treina seus poderes? - Ele pergunta a ela se levantando rapidamente, sorrindo e com um grande estusiasmo aparente.

- Mas e se algo der errado? eu nem sei o que faz para ativar isso! - Ela respondeu ele.

- Mas não custa tentar né? vamos, por favor, por favorzinho! - Ele dizia rapidamente para ela.

Alayah queria evitar isso, mas ele estava falando tão rápido e pedindo tanto que não conseguiu recusar.

- Tabooom, calma. - Ela disse para ele, se levantando e saindo junto dele do interior da árvore.

Os dois caminharam durante 15 minutos floresta adentro, o Luca disse que não poderiam treinar ali perto, pois se desse algo errado, eles podiam acabar destruindo a árvore onde se hospedam no interior.

Quando finalmente chegaram em uma clareira, onde havia apenas uma árvore no centro.

- Aqui, vamos treinar aqui! - Afirmou o menino para Alayah.

- Bom, eu já te disse que não sei o que fazer. - A menina disse para ele.

Eles caminharam para mais perto da árvore e Luca se afastou para Alayah poder treinar, e de longe gritou - Tenta lembrar do que sentiu na primeira vez!.

Alayah não sabia o que fazer, mas as palavras de Luca despertaram as lembranças da menina, de seus pais mortos e do que havia sentido naquele dia.

Alayah esticou suas mãos para frente, na tentativa de se livrar daqueles pensamentos, ela estava de olhos fechados, mas Luca conseguiu ver o que ela não viu, uma energia brilhante percorrendo seu corpo e se agrupando nas mãos da menina.

Depois que sentiu que sua cabeça estava em ordem, abriu os olhos, nada no seu corpo havia mudado, levantou mais o olhar e viu seus braços esticados em direção a árvore, e quando seus olhos finalmente chegaram na árvore, viu o que havia feito.

A árvore do centro da clareira estava intacta, mas no fim da clareira tinham mais árvores que deixavam a clareira em um formato circular, o disparo de Alayah havia passado por ambos lados da árvore do centro, mas acertou outras duas atrás, do final da clareira, e ambas estavam com seu tronco destruído e rachados, como se alguém tivesse dado vários socos na extensões das árvores durante anos.

Luca estava anestesiado, de longe e olhando para a Alayah, viu como tudo ocorreu, e ficou travado quando olhou aquela energia brilhante que tinha saído das mãos da Alayah.

Logo voltou tudo ao normal, e o menino voltou correndo para a garota, quase a abraçou, mas recuou um pouco antes para não toca-la.

Estavam ambos felizes agora, as únicas coisas que não mais voltariam ao normal, seriam aquelas árvores.

- Você conseguiu! - Ele disse a ela e ambos comemoravam, cada um pulando de um lado, sem poder se tocar. - Que legal, você é incrível, Alayah! - Ele completou, a menina corou, mas se deixou levar pelo momento de felicidade que estava tendo.

A volta para toca foi cheia de conversas e ideias mirabolantes para os próximos dias, a felicidade transbordava de ambos, nem parecia que havia se passado horas, mas a noite já estava se infiltrando na floresta, fazendo os dois apertarem o passo para chegarem mais rápido para descansarem.

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