Alayah acordou sonolenta, sentindo sua blusa grudenta, levantou e viu novamente a cena horrível que pensou que fosse um pesadelo, e, novamente o desespero a tomou conta.
Notou que já havia muito mais sangue espalhado, como se quase estivessem fugindo dos corpos mortos e se empoçando no chão do quarto.
''Fuja minha filha''
As palavras de sua mãe ecoaram em sua mente, como uma dor de cabeça latejante que não ia embora de modo algum, de alguma maneira se sentiu como um animal, ou melhor, como uma presa, que lentamente era sufocada por uma serpente.
Seus batimentos estavam acelerados, quase conseguia sentir o órgão querendo sair pela boca, e junto dele, seu vomito que a ânsia persistia ao continuar olhando para a cena, que a deixava enjoada e angustiada.
''Fuja minha filha''
Alayah embora muito jovem, já entendia o que aquela situação a custaria, podia sentir em suas veias.
''Fuja minha filha''
E então, Alayah saiu de seu quarto, onde estavam agora os corpos mortos de seus pais, correndo com a frase de sua mãe, que não saia de sua mente, seu desespero e sangue fervendo não deixou espaço para nenhuma outra ação.
Chegando perto da porta de saída de sua casa, Alayah iria arriscar olhar por um segundo a mais para trás, mas algo dentro dela agora havia mudado, como se quase fosse um amadurecimento precoce e imediato, engoliu o choro e ainda com as mãos tremendo abriu a porta e correu para fora.
A pequena garota não tinha destino, tampouco parentes que conhecia para pedir socorro, apenas corria sem direção, já era final de tarde quando acordou e fugiu, suas roupas manchadas de sangue chamavam atenção pelas ruas onde percorria, no entanto, ninguém a parou para questiona-la, tampouco para oferecer ajuda, Alayah não prestou tanta atenção nisso, sua cabeça confusa e assustada não a permitia a pensar em nada minimamente racional, nada além do que aconteceu passava em sua cabeça.
Depois de correr durante quase 2 horas, Alayah encontrou uma floresta em sua frente, notou que o numero de casas havia diminuído, e os movimentos nas ruas também, não por já ser noite, mas também por estar longe da região central da cidade.
Não haveria mais opções, ela entendia que mesmo que ficasse seu destino seria
''incerto'', então tentaria arriscar suas chances na floresta, ao menos na mata, ela teria uma chance de sobreviver...Alayah adentrou a floresta e caminhou por ela por cerca de 30 minutos, já se sentia fraca, e as lagrimas voltavam para atormenta-la e deixar seus olhos ainda mais inchados e vermelhos, sentia cada gota de suor que saia de seus poros, e seu sangue já voltava a esfriar, junto dele, as memorias do que havia acontecido, as memorias do que havia deixado para trás, tudo o que já viveu, cada momento de felicidade, diversão e trocas de carinho com seus pais, neste momento, ate as fases de tristeza que antes havia passado com seus pais anteriormente, traziam a ela saudades, nada se comparava com o que aconteceu em apenas horas atrás.
Não havia o que ser dito, nada mudaria o curso que as coisas tomaram, Alayah ainda não compreendia seus poderes, não sabia como controla-los, não sabia que um dia despertaria, tampouco que seus pais ela mesma mataria com um simples abraço.
E neste momento, ela se odiou um pouco mais do que já se odiava.
Alayah deitou de costas para uma arvore, já estava noite, a floresta bem mais escura, não dava mais para enxergar bem, e com o gesto mais simples que a garota sentiu durante todo esse dia, seus olhos se fecharam com calma, era ate reconfortante depois de tantas lagrimas que saíram deles, sentiu todas as partes de seu corpo pesarem na grama macia e adormeceu momentos depois...
No dia seguinte, Alayah acordou mais cedo do que esperava, o sol batia em alguns pontos de sua pele onde as folhagens de arvores não cobriam, levantou devagar, tentando ainda colocar as coisas em ordem em sua mente.
Ela não tinha ideia do que fazer, mas de uma coisa ela sabia, ela estava com fome.
A garota começou a adentrar mais fundo na floresta, com sorte encontraria alguma arvore que desse frutos comestíveis, seus olhos ainda ardiam depois do ocorrido, vezes outra caiam algumas lagrimas perdidas e solitárias.
Alayah de repente, começou a se sentir observada, e aquela sensação de presa e caçador voltou a atormenta-la, a garota travou, não conseguia mais se mover de tanto medo, o que seria? os exterminadores a procurando?
O som de algo se mexendo ficou mais alto ao seu redor, os arbustos densos misturados com as arvores não a permitiam enxergar direito, quando de repente o som a sua frente parou.
E da floresta, nada mais se ouvia, apenas os batimentos cardíacos de Alayah.
- Uma menina ? - a figura em frente a Alayah parecia uma criança, mas com partes animalescas pelo corpo, como cauda, orelhas pontudas, garras levemente afiadas e algumas partes de pelos densos espalhadas pelo seu corpo e rosto.
Alayah travou, o que era aquilo? estava imaginando? a sensação ainda não deixava seu corpo relaxar.
A menina não percebeu, mas como um suspiro, sua pergunta saiu baixo, quase inaudível.
- O que é você.. - Alayah nem notou que havia dito de tão baixo que saiu a pergunta, estava confusa e mais ainda assustada.
- Hmm? esta com medo ? hahah - a criança riu da cara da garota, e logo perguntou chegando mais perto. - O que você ta fazendo na floresta? também é uma quimera? mas não vejo nada diferente em você! - o menino disparou perguntas para Alayah, estava claramente curioso e tão confuso quanto a garota.
- Quimera? o que é isso? - Alayah perguntou ao menino que agora havia sentado em sua frente, a garota ainda estava de pé, travada e incrédula.
- Sim, eu escutei alguns adultos falando sobre isso enquanto eu explorava a floresta mais perto das ruas, eles disseram '' pessoas misturadas com animais, que nojo, como ninguém fala sobre isso nas mídias'' algo assim - o menino dizia olhando ainda para a garota.
E neste momento Alayah percebeu que talvez o menino não fosse tão perigoso como sentia, apesar de ainda não ter entendido o que seriam as quimeras, ou o que serie ele.
Alayah não se sentia tão sozinha na floresta, ao menos não agora na presença do garoto.O que eu ainda não conheço? a pergunta não saiu pela boca da menina, mas foi algo que lhe trouxe uma sensação nova e diferente, algo divertido e estranhamente bom que a percorreu.
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Mancha Radioativa
FantasíaAlayah Lamoth se vê diante a uma catástrofe, tendo que lidar com as perseguições e assasinatos em massa que acontecem no dia a dia daqueles que possuem poderes. Dada as circunstâncias, o mundo pode ser injusto e cruel, ela tem uma escolha important...