Capítulo 18.

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Choi Si-woo.

Eu já tinha levado alta do hospital, e meus ferimentos paravam de doer. Meu pai havia sido preso, e por faltar menos de um mês para eu fazer meu aniversário de dezoito anos, a Justiça permitiu que eu morasse sozinho, já que não iria querer morar com alguém por muito tempo.

Eu estava de mãos dadas com Ji-yeong, andando. Ela não exigiu saber muito além do básico que eu contara a ela: Meu pai tentou me matar. Ela não exigiu saber como ou como eu ganhei as cicatrizes que estavam sumindo com o tempo. As pessoas da escola pararam de me tratar como um delinquente, e colocavam presentes em meu armário. Algumas garotas colocavam cartinhas exageradamente apaixonadas, até eu colar um aviso dizendo que não queria receber presentes.

Ji-yeong ainda ia para a aula enquanto eu estava internado— obviamente. Ela me avisou que a escola toda ficou sabendo, e começaram a me tratar como um deus por causa disso. Não ficaria surpreso se fizessem uma estátua de ouro minha em frente a escola.

Eu e Ji-yeong estávamos namorando, e eu ia quase que todo dia na casa da família dela pro jantar em família. E a gata dele— que eu não sabia o nome— adorava dormir no meu colo enquanto eu comia. Estávamos de férias, o que significava que além de eu comer lá eles faziam questão de que eu passasse o dia inteiro lá e só voltasse para casa pra dormir.

Minha vida estava perfeita.

— Se eu fosse... se eu fosse um animal, você me amaria?— Ji-yeong me perguntou.

Estávamos no quintal da casa dela, deitados em um lençol de cor clara que foi posicionado em cima da grama, embaixo de uma árvore, um carvalho. Estava frio. Ela vestia um suéter bege de lã grande o suficiente para ir até suas coxas. Eu vestia um moletom de tom acinzentado. Ela havia me dado ele a duas semanas atrás, dizendo que eu ia ficar lindo nele. Ela estava deitada ao meu lado, sua mão repousando suavemente sobre meu peito e meu braço embaixo da cabeça dela, enquanto o outro estava de baixo de minha cabeça.

Virei a cabeça e olhei para ela. O suéter bege destacava o tom de pele pálido dela e seus lábios exuberantes— vermelhos naturalmente, de um tom que muitas pessoas matariam para ter, macios e grandes. Tentadores.— Pisquei antes de responder:

— Depende. Eu seria um animal também?

— Não.

— Então acho que não.— Respondi, e ela franziu os lábios, emburrada.

— Fala sério. Seria eu, só que no corpo de um animal. Tipo um chinchila ou algo do tipo.

— Então não.

Ela me olhou mais emburrada ainda.

— Credo, por quê?

— Por que eu não apoio a zoofilia.— Menti, mesmo sabendo que ela identificaria a mentira.

Ela revirou os olhos.

— Fala sério, Choi Si-woo, eu sei que é mentira!— ela beliscou suavemente a minha bochecha.— Por que não?

— Por que eu acho que um animal não salvaria a minha vida quando eu estivesse no pior momento, igual você fez.

Ficamos algum tempo em um silêncio confortável, observando as nuvens.

— Por que você me ama?— ela me perguntou depois de algum tempo.

— Porque você é a pessoa mais maravilhosa desse mundo enem percebe. Você é inteligente, delicada e gentil com todos, mesmo quando não quer. Mas acima de tudo, eu te amo por que você salvou a minha vida.

— Para de falar que eu salvei a sua vida. Foram os médicos e aquela ambulância que te salvaram.— Ela disse e eu me virei pra ela.

— Ji-yeong, você me salvou muito antes dos médicos cuidarem de mim.— Eu voltei a olhar para o céu.—Se não fosse por você eu já teria me matado há muito tempo. Se eu estou aqui vivo é por sua causa.— Quando me virei de volta para ela seus olhos estavam lacrimejando. Ela exigiu com o dorso da mão uma lágrima que escorreu.

— E você, por que você me ama?— perguntei para ela.

— Por que você deve ser a única pessoa que me ama pelo o que eu sou, e não pela minha aparência.

— E sua família?— perguntei para ela, e ela franziu o nariz.

— Ela não conta.

— Conta.— Respondi quase que imediatamente. — Sua família conta, sim.

Ela ficou em silêncio, e depois de um tempo, murmurou:

— Me desculpa.

— Não tem problema.— Eu respondi.

Ela engoliu em seco.

— Acontece que a família convive conosco, e é meio que obrigada a aceitar quem nós somos. É... é o dever dela. Nos amar pelo o que somos.— Eu fechei a voz enquanto ela falava, ouvindo a voz doce e melodiosa dela.

— Onde você quer chegar com isso?

— Não era seu dever enxergar quem eu sou e me amar por isso, não só porque eu tenho um rostinho bonito, nunca foi, e você mesmo assim o fez. Eu te amo por isso. Se fosse pro amor me trazer alguma coisa, seria uma pessoa que me ama de verdade sem querer moldar minha personalidade.

— Se fosse pro amor me trazer alguma coisa...— comecei. — Seria uma pessoa que salvou minha vida e me ama sinceramente.

— Então isso é tudo que o amor nos trouxe. Para você, uma pessoa que salvou sua vida e te ama sinceramente, incondicionalmente e infinitamente.— Abri os olhos com um sorriso no rosto ao ouvir os acréscimos que ela fez em minha frase. Ela também estava sorrindo.— E para mim uma pessoa que me ama de verdade...

— Incondicionalmente e infinitamente— interrompi acrescentando. Ela riu e meu coração derreteu.

— Uma pessoa que me ama de verdade, Incondicionalmente e infinitamente sem querer moldar minha personalidade.

Nós dois olhamos um para o outro por algum tempo, em um silêncio confortável, até eu quebrar ele, falando:

— Isso é tudo que o amor nos trouxe.

Tudo que o amor nos trouxeOnde histórias criam vida. Descubra agora