Capítulo 4

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Era uma tola. O abandono da mulher não lhe ensinou nada, ou não teria tocado em Meredith.

Sentada na escrivaninha, o sol nascendo atrás dela, Addison bateu nas teclas, fazendo uma porção de erros, até desistir, empurrando o teclado.

Recostando-se na cadeira de couro, fechou os olhos, e quase pode sentir a maciez daquele corpo que tanto desejava tocar.

"Que homem ou mulher não desejaria fazê-lo?" pensou.

O corpo de Meredith era curvilíneo, e ela tinha um jeito de andar que quase a enlouquecia. Ela sacudiu a cabeça. Seria mais difícil do que tinha pensado, e sabia que a lembrança de tocá-la seria tão torturante quanto à própria ação.

Ela é a babá, droga! Foi contratada para ajudá-la!

Levantando-se, foi até a janela.

"Que Deus me ajude" pensou a ruiva. Meredith era o sonho de qualquer homem ou mulher. E estaria ali por muito tempo, provocando-a.

Atrás dela, o e-mail soava, o fax gemia, e Addison ignorava tudo, os olhos presos à faixa de areia lá embaixo.

Havia pegadas no solo úmido, e imediatamente soube que eram de Meredith.

Será que levaria Melaine para longos passeios, à procura de conchas? Será que Melaine gostaria dali? E do quarto, dos brinquedos? Ou ficaria assustada, com medo? As perguntas surgiam-lhe na mente, e teve que admitir que não sabia nada sobre a filha de quatro anos. Mas Melaine era tudo que tinha no mundo, e faria o possível para que nada lhe faltasse.

"Exceto você mesma" disse uma voz interior, e a culpa dominou-a.

E se nada daquilo fosse suficiente, e traumatizasse a menina? Era tão pequena, tão inocente.

No momento, não tinha dúvidas de que Meredith cuidaria de tudo. Era encantadora, mesmo com aquela língua afiada, e suspeitava que Melaine
acabasse se divertindo, depois de ter passado de um amigo para outro, após o acidente.

Tanto ela quanto Ashley não tinham família. Soubera da morte da mulher por um policial, e cinco dias depois um advogado, executor do testamento de Ashley, a informou da existência da filha. Com a permissão dela, Katherine Davenport tirou Melaine do abrigo do Serviço Social, e tomou providências para arranjar uma babá, e trazer a menina para a ilha.

Foi tudo tão frio, formal.

Ashley escondeu a criança até a tragédia acontecer. Mas ela teve tempo suficiente para pensar na mulher que havia conhecido num baile de caridade, e com quem se casou, sete anos atrás.

Ashley era linda, como uma boneca de porcelana, embora durante o casamento tivesse ficado cada vez mais egoísta e exigente, gostando muito mais do estilo de vida que tinham do que Addison. Agora, percebia que Ashley gostava das empregadas e cozinheiros, e que quanto mais lhe dava, mais queria. Até que Ashley desejara ter filhos, parar de viajar o tempo todo. Ela havia discutido e reclamado, até Addison ceder. Devia ter engravidado no segundo procedimento de inseminação, na véspera do acidente. Apesar disso, quando o acidente privou Addison da beleza que a atraíu, Ashley a abandonou. Não a culpava por tê-lo feito. Ela era frágil, imatura, e Addison não era mais a mesma mulher. Nem por fora, nem por dentro. Tentava imaginar o que Ashley disse à Melaine sobre ela, mas logo desistiu.

Não fazia diferença.

Suspirando, voltou a trabalhar no computador, até que uma voz suave soou no interfone.

ㅡ Muito trabalho, sem comer, deixa a Sra. Montgomery de mau humor.

Addison sacudiu a cabeça, com um meio sorriso. Apertando o botão do interfone, perguntou:

A Bela e a Fera - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora