Capítulo 10

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Apesar de uma dor de cabeça insistente, Meredith cumpriu a promessa e cavalgou com Melaine pela praia. A garotinha adorou e logo sorria novamente. Para a loira, no entanto, sorrir exigia esforço.

Depois de um jantar leve, um banho e algumas histórias, Melaine adormeceu e Meredith ficou sozinha no andar térreo, na biblioteca de Addison. Tinha encontrado uma caixa na garagem, com papéis e fotos antigas, e esperava encontrar uma foto das mães juntas para dar a Melaine. Tinha certeza de que isso daria à menina mais segurança e conforto.

Enroscada na poltrona de couro, com um copo de vinho a seu lado, examinou as pilhas de fotos e papéis. Alguns eram muito velhos, estavam grudados e estragados pela umidade. Então encontrou um envelope plástico com recortes de jornal. Espalhando-os sobre a escrivaninha, pegou o maior deles. A manchete dizia: "Empresária Addison Montgomery envolvida em acidente de trem." Havia a foto de um carro, todo retorcido e ainda preso às ferragens dianteiras do trem. Ela podia imaginar que pedaços do carro tinham sido cortados para tirá-la de lá.

Então, leu o artigo sobre o acidente. Uma mulher grávida tinha sofrido um ataque epilético e o carro dela ficou preso nos trilhos. Addison tentou tirar a mulher, mas as pernas dela estavam presas, e não conseguiu. Testemunhas tinham relatado que ela voltou ao próprio carro, e com ele, tentou empurrar o carro da mulher, para tirá-lo dos trilhos. Mas o tempo não foi suficiente para que escapasse. O trem tinha batido na traseira do carro de Addison com toda a força, e segundo as testemunhas, ela foi arrastada por mais de um quilômetro, até ser atirada pela janela.

As mãos de Meredith tremiam ao ler o artigo, que falava dos negócios de Addison, dos prêmios que recebeu e das atividades filantrópicas que costumava realizar. No fim da página havia uma foto dela, incrivelmente bonita e atraente, de vestido de gala, e ao lado, a foto da maca na qual foi transportada para a ambulância. O lado esquerdo e a cabeça estavam cobertos. O braço pendia coberto de sangue, a na mão apenas era visível o anel de sinete.

Meredith pegou outro artigo. "Addison Montgomery é gravemente ferida", dizia a manchete. "Addison Montgomery sai do hospital", dizia outra. "Cirurgiões plásticos dizem que os danos foram grandes demais". "Addison Montgomery recusa-se a dar entrevistas". Havia outro artigo falando do prêmio que recebeu da cidade de Charleston, com a foto da mulher e do bebê que ela salvou. Ashley recebeu o prêmio por ela, e suas únicas palavras tinham sido: "A recuperação da minha mulher será lenta e difícil. Ela não estava pensando nas consequências ao salvar a Sra. Argyle, mas apesar dos ferimentos graves, não está arrependida."

Mesmo no jornal, o comentário de Ashley pareceu amargo para Meredith. Olhando dentro da caixa, encontrou a placa de metal. Pelo generoso ato de bravura, esquecendo-se da própria segurança a cidade de Charleston homenageia sua filha mais corajosa. Uma heroína. Havia mais prêmios e elogios nos outros recortes, e em nenhuma das ocasiões Addison apareceu para recebê-los.

Quem teria guardado tudo aquilo? Nem por um segundo imaginou que Addison o tivesse feito. Achava que Troy era o responsável, já que Ashley a deixara, incapaz de viver com a mulher que virou quando as ataduras tinham sido retiradas.

Ela suspirou, pensando que talvez não fosse bem assim. Talvez elas já estivessem enfrentando uma crise conjugal e o acidente foi apenas o pretexto final para separá-las. Mas tinha a sensação de que a atitude de Ashley a afetou tão profundamente, que por isso escolheu viver nas sombras. Meredith imaginou como teria sido a vida dela se a esposa a tivesse aceitado como era e permanecido a seu lado. Ela deveria ter orgulho da coragem e generosidade da mulher. Mas preferiu abandoná-la.

Pondo de lado os artigos, voltou à atenção para as fotos, tentando encontrar uma para Melaine. Por fim, achou uma que mostrava Ashley e Addison juntas, e ao fitar os olhos dela na foto, viu Melaine. Será que o sorriso também era igual? Ela viu apenas parte do rosto dela, naquele dia em que rachava lenha.

A Bela e a Fera - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora