Addison a evitou por alguns dias. Dois, para ser exata, e isso a deixava louca para ter companhia. O ruído de passos e as risadas de Melaine não estavam ajudando nem um pouco. O som competia com a chuva do lado de fora. O ruído, a música e as risadas chegavam até ela, provocando uma enorme vontade de ver o que acontecia. Mas continuava dizendo a si mesma que tinha muito trabalho a fazer.
Olhou para os três computadores, através dos quais gerenciava as empresas e comunicava-se com os empregados, e então pegou o controle remoto, ligando a TV. Colocando o volume bem alto, tentou abafar o som das vozes das garotas que brincavam na casa.
Mesmo olhando para o programa de entrevistas, não podia deixar de se admirar ao ver como Meredith se envolveu com a menina, em poucos dias. Não eram apenas as brincadeiras, as risadas, mas os pequenos cuidados que percebia, como as fitas nos cabelos de Melaine, combinando com as roupas, o modo como arrumava a mesa. E também como deixava de lado qualquer coisa quando a menina precisava. Só que ela desejava estar lá para abraçá-la, para amarrar os sapatos, enxugar as lágrimas.
Ela ligou o interfone, no volume no máximo, para poder ouvir o som da casa toda. Era estranho, depois de tanto tempo vivendo no silêncio.
ㅡ Meredith, veja!
Ela ouviu passos e um gemido de Meredith. Da última vez que ouvira aquele som, ela estava em seus braços, entregue aos beijos ardentes. Esfregando os lábios, tentou afastar as lembranças.
ㅡ Oh, Melaine, coitadinho!
ㅡ Se ficar no estábulo pode ser pisoteado, não é?
ㅡ Sim.
ㅡ Posso pegá-lo?
ㅡ Tudo bem, mas vista a capa. Vai ter que se agachar e ser paciente. Se ele vier até você, podemos trazê-lo para dentro. Se não vier é porque não está pronto para ficar conosco, e pode arranhar você.
ㅡ Está bem. ㅡ disse Melaine. ㅡ Mas ele virá.
Franzindo a testa, Addison levantou-se e foi até a janela que dava para o pátio de trás. A filha correu na direção do estábulo, vestindo uma capa amarela. Ali, bem na porta, estava um gatinho minúsculo, branco como neve. Melaine ajoelhou-se e estendeu a mão, esperando, como Meredith ensinou. Addison apertou o botão do interfone.
ㅡ Um gato, Meredith?
ㅡ É um gatinho, e eu imaginei que estivesse trabalhando. ㅡ ela ignorou o comentário.
ㅡ Não acho uma boa ideia. Ela tem apenas quatro anos.
ㅡ E precisa de algo para cuidar. Vai aliviar a dor da perda, Addison. Precisa sentir que é capaz de lidar com as situações, e o gatinho é inofensivo.
ㅡ Gatinhos miam fora de hora, e isso não vai diminuir a dor.
ㅡ É, não vai. Ela precisa que a mãe deixe a caverna e venha ficar com ela. Mas não pretende fazer isso, não é?
A culpa a dominou e, sem querer, olhou para a mão coberta de cicatrizes.
ㅡ Droga, Meredith, sabe que não posso fazer isso.
ㅡ Não, Addison, eu não sei. ㅡ a exasperação era evidente na voz dela. ㅡ Só sei que está descontando a reação de algumas pessoas em mim e em Melaine. E está negando a si própria muito amor.
Addison passou a mão pela nuca dolorida.
ㅡ Veja! Veio até ela!
A excitação na voz de Meredith atingiu-a como um golpe.
ㅡ Meredith...
A voz dela soou mais baixa
ㅡ Ande devagar, querida. O chão está escorregadio. Segure-o com cuidado, ele é um filhotinho. ㅡ ela estava na porta dos fundos, e sua voz misturava-se ao ruído da chuva. Então Meredith aproximou-se do interfone, a voz rouca de emoção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Bela e a Fera - Meddison
RomanceEla se apaixonou por uma mulher cujo rosto não podia ver... Meredith Grey foi contratada para trabalhar como babá da filha de Addison Montgomery. Os rumores sobre aquela mulher que vivia em reclusão não assustavam, Meredith... Sua experiência como v...