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DEPOIS DE TANTOS ANOS, EVIE ACHAVA QUE TINHA SE ENTENDIDO com o tempo. Achava que tinha feito as pazes com ele – ou que tinham encontrado uma maneira de coexistir. Não se tornaram amigos, de modo algum, mas pelo menos não eram mais inimigos. E, no entanto, o intervalo de tempo em que Cinco sai para procurar Luther parece se arrastar de forma impiedosa. Nem sequer uma vez ele parece passar mais rápido, nem sequer uma vez ela se esquece das horas. Parece incapaz de usá-las ou de desperdiçá-las, ou até mesmo de perder a noção delas.
Por isso, ela fala.
Começou a falar assim que Cinco saiu pela porta e continuou a falar conforme consertava a vitrola e colocava o novo disco no lugar, porque era mais fácil fazer isso quando podia olhar para outro lugar que não fosse o rosto dele. As palavras saíam da sua boca enquanto arrumava as fotografias, enquanto organizava os livros e enquanto começava a preparar o jantar, e agora a verdade paira no ar, pesada como fumaça, e Elliott continua em silêncio.
Está sentado na poltrona, com o queixo apoiado na mão. O dia já acabou e agora a noite passa como se nada tivesse mudado, mas Evie sente que tudo mudou, porque seu marido está vivo, o apocalipse o seguiu até a década de ‘60 e ela contou a verdade para Elliott. Não contou tudo, é claro, mas não mentiu, já que detesta mentir para pessoas importantes em sua vida. Apenas… omitiu certos detalhes. Tem certeza de que foi melhor assim.
Quando ela e o marido surgiram em um flash de luz azul na casa de Elliott, Cinco ainda estava relutante em deixá-la sozinha, mesmo que por pouco tempo, enquanto ia ao clube de Jack Ruby, e a garota conseguiu convencê-lo apenas quando o empurrou porta afora, lutando contra seus próprios instintos de se jogar nos braços dele, beijá-lo até ficar sem ar e sentir o toque dele em cada centímetro de sua pele. Ficou parada, fincada no topo da escadaria até que ele sumisse de vista. Prendeu a respiração e esperou sentir o fio arrebentar, o mundo voltar ao normal, esperou pelo medo, pela perda e pela certeza de que tudo não passou de um sonho louco, de um delírio febril. Mas não sentiu nada disso. Só alegria, e esperança.
— Como-como você conhece ele, Libby? — Elliott havia perguntado, confuso e um pouco assustado.
— Quem? Ah, ele? Ele é meu marido.
E por um momento, achou que seu amigo fosse cair duro no chão ali mesmo.
Em termos legais ou religiosos, ela e Cinco não eram casados, já que a “cerimônia” que realizaram incluía apenas as estrelas e um manequim como testemunha. Não havia um rabino para oficializar, nem qualquer extravagância, apenas os votos e a promessa de ambos. As alianças se resumiam em pedaços de barbante que eventualmente se desfaziam e que eles não se deram ao trabalho de tentar substituir. No final do dia eles eram casados e se consideravam marido e mulher, e era isso que importava.
