A manhã seguiu-se daquela forma, nenhuma das duas garotas faziam um esforço para deixar a situação um pouco menos pior e isso resultou em um dia inteiro de poucas palavras trocadas e ambientes não divididos.
Ninguém disse que seria fácil e aquele cenário era a prova de que as coisas não seriam como um conto de fadas onde tudo era perfeito. Poderia parecer besteira aos olhos de muitos, mas no fundo aquele desgosto todo tinha lá suas razões.
Já era fim de tarde, o sol estava se pondo e o céu muito provavelmente já tinha seu tom alaranjado. Tzuyu havia passado o dia inteiro dentro do quarto, resolveu organizar a mala e separar tudo dentro do armário para distrair a mente, era assim que ela lidava com situações que saiam de sua zona de conforto.
Durante toda a tarde o silêncio se instalou naquela grande casa de campo, a morena sentiu-se até mesmo leve com o fato do único barulho que ouvira a tarde toda ter sido dos pássaros cantarolando em algumas das tantas árvores que cercavam o local. Algumas vezes Tzuyu também ouvia passos no assoalho indicando que a loira, diferente dela, tinha passado a tarde se movimentando pelo ambiente.
Uma diferença entre as duas.
Chou Tzuyu sempre foi uma pessoa calma, nunca gostou de sair para lugares cheios e trocaria qualquer balada pelo conforto de seu quarto. Tzuyu até mesmo desenhava quando tinha tempo, Momo dizia que ela tinha um dom para isso. A morena lidava com as situações usando a sua paciência e na maioria das vezes funcionava.
Minatozaki Sana era uma pessoa mais agitada, se é que essa era a definição certa. Um ambiente com a loira nunca ficava em um silêncio mortal porque ela sempre fazia questão de contagiar a todos presentes com seus papos esquisitos e engraçados, mas Sana não era considerada popular, nunca foi. Ela só talvez fosse mais sociável que a morena e com toda certeza, menos paciente.
O que de fato era engraçado porque enquanto Tzuyu perdia toda a paciência que tinha com a loira, Sana precisava tirar paciência de onde não tinha para lidar com as implicâncias da morena.
Complicado, não?
O fato é que aquele primeiro dia estava sendo um desastre, e se Dahyun soubesse que as duas haviam o passado sozinhas em ambientes diferentes para evitar a presença uma da outra, com certeza arrancaria os fios de seu cabelo azul.
A verdade é que desde sempre a azulada achou aquele ódio sem pé nem cabeça muito esquisito, mas de início achou que seria apenas uma birra que logo passaria, porém não passou.
E depois de muito reparar chegou à conclusão de que Chou Tzuyu e Minatozaki Sana eram almas gêmeas. Ao menos na cabeça dela.
Quando ela contou o que achava para Momo, teve que aguentar a namorada rindo por longos minutos até notar que ela estava falando sério. Dahyun levou mais alguns minutos para explicar a sua teoria e no final acabou convencendo a namorada com muito esforço.
Segundo a azulada, Tzuyu e Sana eram a personificação da linha tênue entre o amor e o ódio e a partir daquela descoberta, que na mente dela fazia sentido, ela passou a agir como cupido e tentar de tudo para ver o seu casal dando certo.
Coisa que nunca aconteceu.
Dahyun até mesmo havia mandado fazer moletons de casal para as duas e deu de presente na esperança de que elas acabassem usando juntas em alguma ocasião sem nem ao menos perceber, mas isso também nunca aconteceu.
O destino de fato não queria ver a azulada feliz.
Porém, a coreana não desistia fácil e foi por isso que depois de inúmeras tentativas, ela decidiu esquematizar aquele plano como uma última alternativa de fazer aquelas duas entenderem que no fundo não se odeiam tanto quanto pensam.
E talvez, apenas talvez, ela estivesse certa.
Quando a noite começou a aparecer, a morena decidiu sair do quarto. Estava disposta a ir até o píer que ficava atrás da casa e pensar um pouco, mas ao passar pela sala encontrou a loira lendo um dos livros da grande estante que ficava perto da entrada.
Não iria falar nada, mas Sana indagou para onde ela estava indo e a muito contragosto Tzuyu respondeu, recebendo apenas um aceno positivo com a cabeça.
E então ela seguiu.
Estava fazendo um pouco de frio e ela se praguejou mentalmente por não ter pegado um casaco. Sentou-se na borda do deck, mas não pôs os pés na água.
Tzuyu tinha medo de que algum animal aparecesse por ali, ainda mais a noite. O céu não estava completamente escuro, mas já era possível ver as primeiras estrelas brilharem e uma lua tímida do lado delas. Ela lembrou-se de ter lido em um livro sobre uma cidade onde a lua ganhava a sua maior forma e do topo das colinas, a sensação que se tinha era que quase poderia ser possível tocá-la.
A morena gostaria de presenciar algo assim alguma vez, ela adorava a noite, as estrelas, a lua... E aquele friozinho que arrepiava seus pelos.
Estar ali não era de todo um mal, ela gostava de lugares calmos e afastados, então de certa forma suas amigas a fizeram um favor. Mas claro que nem tudo são flores e o favor veio acompanhado de uma pessoa, qual ela não queria ter que passar duas semanas dividindo o mesmo teto, mas se parasse para refletir, aquele era o primeiro dia e elas ainda não tinham se matado, então as coisas talvez pudessem estar piores.
Ao menos se continuassem assim ambas iriam sobreviver para no final, irem embora e nunca mais cruzarem o caminho uma da outra.
Tzuyu não ficou muito tempo ali, apenas o suficiente para deixar a sua mente leve e espiar um pouco os vizinhos. Sim, a morena havia espiado um pouco a casa da outra margem, porém ela não fizera completamente de propósito. Ela só notou que estavam parecendo desfrutar de um luau já que foi possível ver uma fogueira e algumas pessoas ao redor da mesma.
Tzuyu não era uma bisbilhoteira. Ou era?
Sana estava terminando de ver um filme quando a porta foi aberta e a morena entrou. A loira achou que passaria o resto da noite ali sozinha até a hora de subir para o quarto, mas surpreendeu-se quando Tzuyu não tomou o caminho do corredor, e sim, o do sofá.
— O que está assistindo? — A morena perguntou assim que sentou-se confortavelmente ao lado da loira. Não exatamente ao lado, mas perto.
Estranha.
Sana pensou.
— Eu não sei o nome, mas é algo de suspense envolvendo sequestro. — Sana olhava a morena de canto de olho desconfiada.
Tzuyu assentiu e pegou o controle remoto para olhar o que passaria depois e constatou que em seguida começaria uma de suas séries preferidas.
— Legal... Vou fazer algo para comer enquanto assisto, talvez sobre pra você.
Sana precisou passar apenas um dia com Tzuyu para entender que "talvez" significava "com certeza" e "sobrar" era sinônimo de "vou fazer pra você também, mesmo a contragosto."
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Acaso Prometido || Satzu
FanfictionCansadas de ter que aturar suas melhores amigas em um pé de guerra há dois anos, as namoradas, Momo e Dahyun, decidem bolar um plano como uma última tentativa de fazer aquele inferno acabar de uma vez por todas. E o plano envolvia: uma casa de campo...