Eu apoio minha cabeça enfaixada no vidro frio da janela do carro e observo as gotas de chuva refletirem o vermelho da luz de freio a nossa frente enquanto minha mãe dirige. Já faz duas semanas inteiras e eu ainda não consigo acreditar.Eu achava que terminar o namoro seria a pior forma de perdê-la e a pior dor que eu poderia sentir, mas isso... Eu não posso consertar isso. Eu não posso comprar uma pulseira de berloques e consertar as coisas.
Ela realmente se foi. Enterrada no cemitério local há cinco dias em uma cerimônia que eu estava arrasada de mais para conseguir assistir.
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Ao chegarmos em casa, eu fico parada na chuva, com a caixa de papelão do hospital apertada contra o peito. Dentro dela estão meus saltos, os farrapos que restaram do meu blazer e a pulseira de berloques que deve estar escondida em algum lugar dessa bagunça, seus elos vazios que nunca mais serão preenchidos.
A chuva para abruptamente. Eu ergo os olhos e vejo um guarda-chuva preto acima de mim. Minha mãe estica o braço para tocar o curativo ensopado na minha cabeça, mas eu afasto suavemente a mão dela. Eu não quero ser reconfortada ou cuidada. Não vai funcionar, de qualquer forma.
― Eu só quero que você fique bem ― ela sussurra para mim, sua boca quase mal se movendo.
Ficar bem.
Como se algum dia eu fosse encontrar um caminho para voltar a ficar bem. Ela me olha preocupada, mergulhando seus olhos nos meus enquanto pega as caixas das minhas mãos e a enfia de baixo do braço.
Preciso ficar sozinha.
Eu me firmo nas muletas antes de cambalear na direção da casa e subir na varanda, minha cabeça confusa enquanto tento não colocar o peso no meu fêmur despedaçado, agora sustentado por fios de metal. Ela me ajuda a entrar pela porta da frente enquanto eu faço a caminhada mais lenta do mundo até o porão, querendo uma dose daquilo que eles me davam no hospital e que me deixava cair do nada. Minhas muletas ecoam alto no chão enquanto ando, alto e constante, como a batida de um coração.
― Eu pensei que você podia ficar na sala ― minha mãe grita atrás de mim. ― Eu arrumei o sofá. Você não precisa se preocupar em subir e descer as...
― Eu quero meu próprio espaço. ― Digo com firmeza.
Então abro a porta do porão, o espaço que tem sido meu desde o segundo ano e, fazendo barulho, luto com determinação para chegar ao fim da escada.
Eu a ouço vindo atrás de mim e sua mão se enrola com firmeza em volta do meu braço assim que meu pé chega no último degrau.
― Espera, querida... ― ela começa a dizer, mas é tarde demais.
Acendo a luz e instantaneamente vejo pequenos buracos onde ela costumava ficar. Livros faltando na estante, o cobertor favorito dela que não está mas no sofá, até mesmo fotos sumiram da parede.
― Onde... ― eu começo a dizer enquanto empurro a porta do meu quarto e entro. Minha mão toca o prego onde a fota de formatura de Yas costumava ficar pendurada.
― Os pais dela vieram buscar as coisas que ela deixou aqui. Eu não esperava que eles...
― Eles levaram tudo ― digo, sentindo vontade de vomitar. Eu perdi o funeral e agora isso?
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Todo Esse Tempo | Ferlane
RomanceÉ possível encontrar o amor verdadeiro depois de perder tudo? Fernanda e Yasmin são o casal perfeito. Pelo menos, é o que Fernanda acha. Por isso, quando Yasmin termina com ela na noite da festa de formatura, o mundo inteiro da garota vira de cabeça...