Capítulo 7

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Os dias começaram a se misturar. Mensagens são deixadas sem ler, há embalagens de comida espalhadas pelo chão. Uma semana se transforma em duas, e depois em um mês, rapidamente o verão passa, o sol lentamente começando a se pôr do lado de fora da pequena janela do porão.

Não saio da cama de manhã. Não faço nada.

Eu só fico ali, recusando todas as tentativas da minha mãe de me tirar do meu quarto. Eu não estou interessada em me torturar.
Eu sei o que me espera lá fora.

No porão, do outro lado do meu quarto, está a porta-balcão que leva para o quintal, a mesma que Yasmin costumava usar para entrar escondida depois que minha mãe adormecia. Eu poderia subir, mas aí eu veria o gramado da frente no qual eu costumava pedalar no ensino fundamental, ou a cozinha na qual fizemos um bolo de chocolate monstruoso e incrivelmente delicioso para o aniversário de Pitel.

Mas, no geral, o que eu não quero é dar ao meu cérebro algo para distorcer e me enganar. Eu não quero achar que a vi.

As batidas da minha mãe na porta estão cada vez mais frequentes, assim como o estalo dos seus pés andando de um lado para o outro em frente à porta enquanto ela implora:

― Você está aí. Eu sei que está. ― Ela mexe na maçaneta. Uma vez. Duas vez. Mas agora eu me tranquei.

Eu consigo senti-la do outro lado, desejando que eu a deixe entrar. Em vez disso, deixo que a luz do dia se transforme em noite mais uma vez. Eu luto o máximo possível para manter meus olhos abertos porque, quando durmo, meus sonhos são preenchidos com imagens de globos espelhados, lâmpadas fluorescentes de hospital, faróis de um caminhão chegando cada vez perto.

Pelo menos quando estou acordada eu posso me deter ao nada.

Eu não tenho certeza de quanto tempo passa, mas seja lá quanto for, não importa.

― Levanta. Agora.

Eu luto para abrir meus olhos e os aperto quando vejo minha mãe de pé, ao meu lado, me sacudindo. Eu olho para trás dela e vejo a porta do meu quarto apoiada contra a parede, completamente solta das dobradiças, e o buraco que agora leva para o resto do porão. Como eu não ouvi isso acontecendo?

― Levante dessa cama e se recomponha ― ela diz, arrancando os cobertores de mim. ― Nós precisamos conversar.

Eu suspiro e agarro os cobertores de volta, puxando-os para me enterrar de volta neles.

― Conversar sobre o quê? ― Eu resmungo enquanto ela senta na beira da cama, suas sobrancelhas formando um V.

Ah, não.

Mãe no modo séria.

Eu a espio por cima das cobertas, preocupada com o que ela vai dizer.

― Fernanda, já é quase setembro. Seus amigos já estão todos começando a ir para a faculdade. Pitel se matriculou na faculdade local ― ela diz, respirando fundo. ― Então, e a UCLA?

Eu me sento e afasto os cabelos dos olhos, as pontas dos meus dedos tocando a cicatriz saltada na minha testa. Ela não pode achar que eu ainda vou.

― O que tem?

― Eu sei que a UCLA deveria ser pra você e para a Yasmin. Eu sei o quanto esse plano era importante pra você ― ela diz pegando na minha mão. ― Mas você precisa aceitar que o futuro exatamente como tinha planejado não é mais possivel.

Meus olhos encontram a flâmula da UCLA que Yasmin me deu pendurada na parede, o azul e amarelo me atormentando. O futuro que eu tinha planejado não seria possível de qualquer forma. Yasmin estaria fazendo as malas para começar sua nova aventura em Berkeley.

Todo Esse Tempo | FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora