Capítulo 11

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Alguns dias depois estou de volta ao cemitério, no túmulo de Yas, querendo apenas me sentir próxima a ela. Não de um jeito macabro tipo "tendo uma visão", é mais de um jeito "eu não sei mais o que fazer".

Coloco um buquê de tulipas frescas ao lado das íris já murchas, mas um buquê maior que o meu já está encostado na lápide. Eu me pergunto quantos buquês os pais de Yas deixaram aqui antes de eu vir a primeira vez.

Pelo menos desta vez eu trouxe as flores certas.

Eu pego a echarpe de seda que encontrei em casa do bolso e a enrolo suavemente na lápide, devolvendo-a à sua dona.

― Bom, Yas ― digo enquanto me afasto. ― Como sempre, eu estou achando difícil entender exatamente o que você quer. Eu fico achando que sei, mas...

Eu paro de falar, meio que esperando que ela me responda, mas há apenas o som do vento nas árvores, as folhas farfalhando acima de mim.

Então eu sento e apoio minhas costas na lápide, esperando em silêncio por um momento de clareza. Cinco minutos se passam. Então quinze. Mas nada vem. Então as mesmas perguntas rolam pela minha cabeça como um boletim de notícias que nunca termina.

Eu olho em volta e observo o mar de flores cor-de-rosa a dois túmulos de distância. Me erguendo, eu deixo que a curiosidade me vença. Eu estico a mão e toco uma das flores, a pétala macia sob as pontas dos meus dedos.

― Lírios orientais ― uma voz diz ao meu lado.

Jesus Cristo. Eu dou um salto, quase tendo um ataque de coração quando olho e vejo Alane em pé ao meu lado, seu cabelo comprido preso com um elástico amarelo. Ela pega o lírio que eu estava tocando, seus olhos castanhos escuros examinando-o.

Meus olhos estudam a lápide aninhada entre as flores cor-de-rosa.

― Minha irmã. Alice ― Alane diz suavemente antes que eu possa perguntar. ― Ela era minha heroína. Me amava exatamente como eu sou ― ela diz, como se estivéssemos continuando uma conversa já começada. Ela coloca a flor no topo da lápide. ― Ela não se importava se eu era diferente. Ou sensível. Ou quieta.

Ela ergue os olhos para me olhar e eu finalmente consigo ver de onde a intensidade do seu olhar vem. É da perda, enterrada no castanho profundo, uma dor familiar enrolada em volta da íris. Eu conheço essa dor. É como olhar num espelho.

― Eu queria ser igualzinha a ela ― ela acrescenta, desviando o olhar e voltando seu rosto para as flores.

― Quantos anos você tinha quando ela...

― Nós tínhamos acabado de fazer catorze.

Nós? Mas antes que eu possa perguntar ela responde isso também.

― Gêmeas ― ela diz.

Merda.

― O que aconteceu?

― Ah, eu não conto histórias tristes ― ela diz. Então ela sorri com tristeza, e é como se uma cortina descesse atrás dos seus olhos.

Certo, então. Esse é claramente um ponto sensível. Nós ficamos em silêncio por um bom tempo.

― Ah! ― Ela tira do ombro a bolsa amarela e me surpreende ao puxar uma única flor de um bolso lateral. Seus olhos estão límpidos, e ela estende para mim como se eu tivesse pedido que ela a trouxesse.

Com cuidado, eu estendo a mão e pego a flor, inspecionando o miolo amarelo circular, as pétalas em volta perfeitamente brancas e uniformes. Essa eu conheço.

― Uma margarida? ― Eu pergunto.

― Flores tem significados diferentes ― ela diz, sentindo minha confusão. Ela aponta com a cabeça para a margarida na minha mão. ― Essa me fez pensar em você.

Todo Esse Tempo | FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora