Capítulo 12

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Uma semana depois, eu vou ao cemitério para dizer a Alane que não posso mais vê-la. O dia quente de outono me guia pelas trilhas sinuosas do parque enquanto eu a procuro em cada curva, por trás de cada árvore.

Ela provavelmente vai achar que eu sou uma doida, já que estou indo encontrá-la só para dizer que vou ignorá-la apartir de agora. Quer dizer, o que eu vou falar? "Olha, se você encontrar comigo no túmulo da minha namorada morta, não espere que eu fale com você"?

Eu reviro os olhos, embora seja exatamente isso que eu vá dizer. Porque parece que é isso que eu preciso fazer para ser correta com Yas.

Meus pensamentos voltam para a briga com minha mãe na semana passada, frustração e culpa pesando no meu estômago. Ultimamente ela tem agido como se fosse um disco arranhado. Você precisa seguir em frente. Pare de se agarrar ao passado.

Eu tentei falar com Pitel sobre isso durante as caminhadas – corridas que começamos a fazer toda sexta, mas não adianta. Ela diz que é para eu não me prender ao passado e só manter a memória dela viva. Elas estão sempre tentando me dizer o que eu deveria fazer e como eu deveria me curar, mas sem se darem o trabalho de me passar detalhes úteis para fazer isso.

Respiro fundo, tentando afastar o sentimento de estar presa. Presa em algum lugar entre Yas, Pitel e minha mãe, incapaz de cruzar a linha de partida.

Uma camiseta com listras em branco e amarelo chama minha atenção, linhas finas o suficiente para que as duas cores se misturem.

Alane.

Ela está parada perto de uma enorme cerejeira, seu cabelo comprido flutuando na brisa e dançando em volta dos seus ombros, chegando quase até o meio das costas.

Eu a observo se levantar para partir com cuidado um galho da árvore. Algo em seu movimento me é familiar, apesar de eu a mal conhecer. Ela cheira o cacho de pequenas flores cor-de-rosa na ponta do galho, seu rosto profundamente concentrado.

Eu me pego tentando entender o que ela está fazendo antes de me lembrar a razão de eu estar aqui. Talvez eu só devesse deixar para o acaso. Ela ainda não me viu. Eu começo a me virar para ir embora.

— Você decidiu que não quer mais me ver — uma voz diz, roubando as palavras da minha cabeça. Eu me viro e vejo Alane me examinando, sem a expressão serena de antes.

Eu paro. Como ela...? Não importa.

Eu olho para o galho de cerejeira nas mãos dela enquanto evito a pergunta.

— O que essa significa?

— O que você quer que signifique? — Ela questiona, devolvendo para mim. A pergunta me pega de surpresa. Ela é a primeira pessoa a me perguntar algo assim em um bom tempo.

Um novo começo. Eu seguro as palavras quando elas estão prestes a sair, a resposta subitamente bem diante de mim. Um caminho para frente que não pareça errado.

— Eu não... eu não sei — eu acabo dizendo.

Eu deveria encerrar a conversa e me despedir.

Mas não consigo. Os olhos dela não compram minha resposta. Eles me mantêm no lugar, os riscos deles acesos no sol da manhã, tão vivos quanto a grama perto do lago. Do lado da Alane do lago.

— Eu quero... — eu começo a dizer, observando as flores da cerejeira começarem a balançar de leve. Algumas pétalas caem no chão em uma pequena cascata.

Diga logo.

Mas eu não consigo. Porque há algo no rosto dela. A coisa exata pela qual eu venho procurando. A coisa sem nome que nós duas entendemos.

Todo Esse Tempo | FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora