Capítulo 8

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― Então? ― Eu pergunto à dra. Isabelle na segunda de manhã. ― Estou doida? ― Minha mãe marcou a consulta para me provar que eu não estou doida.

Ela desliga a lanterninha e a enfia no bolso do jaleco branco enquanto sacode a cabeça, me dando um sorriso divertido.

― Não. Você sofreu uma perda significativa e isso pode se manifestar de formas inesperadas.

― Tipo ser assombrada pela Yasmin?

― Tipo... ver o que você quer ver ― ela corrige, erguendo seu iPad para me mostrar as tomografias do meu cérebro que fiz hoje. ― Olha. ― Ela passa de um cérebro saudável para o meu para provar alguma coisa sobre como eu estou "ótima". Minha mãe estica o pescoço para ver algumas imagens, mas eu nem me dou ao trabalho.

― Nossos cérebros são máquinas magníficas ― a dra. Isabelle acrescenta, fechando seu iPad. ― Eles fazem o que precisam fazer para nos proteger da dor, seja física ou emocional. Não há nenhum problema no seu que não vá passar com o tempo. Ok?

Para nos proteger da dor? Como ver minha namorada morta me protege da dor?

Ela me olha até eu concordar, então puxa um bloco de receitas e uma caneta e rabisca algo na página antes de arrancá-la e entregá-la para mim.

Eu pego e baixo os olhos para ler. Estou esperando ver algum nome maluco de remédio, mas o que está escrito é: Relaxe. Não está acontecendo de verdade.

Ótimo.

― Fernanda ― ela diz e eu levanto os olhos, encontrando seu olhar sério. ― As visões que você tem tido, elas não são reais, ok? Elas vão sumir quando você estiver pronta. Eu prometo. Mas, por enquanto, quando acontecerem, pegue essa receita. Leia, lembre-se dela, acredite no que ela diz.

Eu faço que sim, mas as palavras dela não me confortam. Sumir? O que vai acontecer quando até esse último traço da Yas sumir? Quando eu a vejo, eu sinto que sou uma doida, o que é uma droga, mas eu também a vejo. E eu não estou pronta para perder isso.

Depois de voltarmos para casa, minha mãe sai para o trabalho. Preparo uma tigela de sucrilhos e sento na mesa da cozinha. Por um tempo tudo que ouço é minha mastigação barulhenta, mas então eu juro que escuto uma voz abafada, sem conseguir discernir as palavras. Fico imóvel, a colher à meio caminho da minha boca, forçando os ouvidos.

― Mãe? ― eu chamo, minha voz ecoando pela casa vazia. Será que ela esqueceu alguma coisa? Eu ouço com mais atenção e percebo que o som parece vir de baixo. Do meu bolso.

Quando eu puxo meu celular, há sons saindo dele. Ah não, cara. Para quem minha bunda telefonou?

― ... Pitel ― a voz diz quando eu ergo meu celular até o ouvido, as palavras finalmente claras o suficiente para que eu entenda. Eu abro a minha boca para responder, mas eu percebo que é uma mensagem na caixa postal. ― Eu nem sei se você vai ouvir isso, mas eu preciso te dizer que estou preocupada, e antes que você ria, sua idiota, é sério.Você está nos assustando.

A mensagem corta e a tela se ascende, mostrando a lista de mensagens não ouvidas.

Eu encaro o celular na palma da minha mão. Meu polegar hesita acima do botão verde de ligação por tanto tempo que a tela apaga.

Todo Esse Tempo | FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora