MÊS: Novembro
Estou sentada no banco de passageiro e minha mãe no banco do motorista, estou com raiva dela por estar me obrigando a isso e enquanto penso nas formas de convencê-la a não me levar para a psicóloga. Ela diz, atrapalhando meus pensamentos:
- Escuta, sei que está com raiva e que não quer ir, mas é bom para você.
- Por que eu tenho que falar com um psicólogo? Eu estou bem.
- Psicóloga. Com tudo que está acontecendo, é bom você ter com quem conversar. O acidente do Atlas, as brigas entre eu e o seu pai, tudo isso te causou bastante estresse, não?
Não quero concordar, mas não posso negar porque é verdade. Ela diz:
- Da uma chance, você não vai morrer.
- Tá, mas eu não pense que eu gosto dessa ideia.
- Obrigada.. . .
- Olá Lily, como vai? Me chamo Lucy
Olho para ela, tenho certeza que ela notou meu olhar de ódio. Digo:
- Oi, prazer.
- Sua mãe falou bem sobre você e então, como vai a escola? Algum amigo novo?
- Pode parar, sei o que está tentando fazer. Está tentando fazer com que eu pense que somos amigas, criar um vínculo para depois fazer as perguntas difíceis, né? Para que eu me sinta segura e confortável falando com você, né? Poupe seu tempo e o meu, pergunte logo o que quer e eu falo.
Ela fica em silêncio por alguns segundos, evitando me olhar e depois, olha nos meus olhos e diz:
- Sua mãe falou sobre o acidente do seu namorado, como se sentiu quando soube da notícia?
- Apavorada, triste... irritada.
- Irritada? Por que?
- Estávamos brigados na época. Fiquei com raiva de mim mesma.
- Por que? Não foi você que causou o acidente, não tinha motivos para você se culpar ou ficar chateada consigo mesma, ou tinha?
- Brigamos por algo idiota. Se ele morresse na mesa de cirurgia, eu nunca iria me perdoar por ter brigado com ele por besteira.
- Estava com medo de não poder se desculpar? Por isso ficou brava?
- É.
-Ver seu amado morrer brigado com você... deve ser assustador, né? Passar por algo assim?
- Acho que sim.
- Tem medo de morrer?
Penso um pouco sobre isso, faz tempo que não faço essa pergunta para mim mesma, falo:
- Não... tenho medo de morrer em um hospital e ser tão insignificante que ninguém estará na sala de espera quando a infermeira for informar que morri... não quero isso para mim, ninguém merece algo assim.
- Sério? Nem mesmo as pessoas ruins?
- Não existe pessoas ruins, existe humanos que fazem coisas ruins as vezes.
- Entendo.
- Por que ainda não perguntou os problemas em casa?
- Fale sobre.
- Odeio quando eles brigam, meu pai bate na minha mãe e eu fico com raiva dela por não ter se divorciado dele. Ele não é um bom marido ou um bom pai, por que ela ainda é casada com ele?
- Por que não perguntou para ela?
- Eu tentei várias vezes, mas ela sempre inventa um motivo para defendê-lo ou se esconde no quarto para não ter a conversa.
- Entendo.
Um alarme apita no telefone dela, ela desliga o alarme e me diz, sem tirar os olhos de mim:
- Acabou nosso horário, até semana que vem.
- O que faz você pensar que eu vou vir aqui semana que vem?
Ela não diz nada, me levanto e vou embora da sala dela. Vou até minha mãe e ela me diz:
- O que achou?
- Vamos logo.
Vamos para o carro, me sento no banco do passageiro e ela no do motorista, ela liga o carro e começa a dirigir. Penso na conversa que tive com a psicóloga. Me sinto mais... leve, acho que falar sobre aquelas coisas me deio uma certa paz. Mas não quero ir lá de novo, não sou do tipo de se abrir e nem gosto, respondi as perguntas, mas não gostei nem um pouco. Vou fazer o máximo que conseguir para evitar a psicóloga e mesmo que não consiga evitá-la, vou me trancar no banheiro ou demorar de responder as perguntas. Sei que é errado, mas eu não quero me abrir. Coço meu nariz, ao olhar para a ponta do meu dedo, vejo sangue e lambo o sangue. Minha mãe volta a olhar para a rua e diz:
- Mês você vai ter uma consulta.
- Que?
Olho para ela e ela me diz:
- Tirar sangue, estou preocupada.
- Eu estou bem.
- Você acha que está.
Me irrito e volto a olhar para a rua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amor Ainda Não Está Morto
RomanceUm romance trágico que te prenderá do início ao fim