MÊS: Fevereiro
Atlas voltará daqui à 2 semanas e não aguento mais esperar. Tudo parece mais complicado sem ele. Mais difícil. Mais chato. Nunca achei que iria sentir tanta falta dele, nunca achei que ia sentir tanta saudade por alguém. O amor é um sentimento estranho e confuso. Seu mundo passa a girar em torno desta pessoa, seu coração acelera com pequenas coisas que essa pessoa faz.Para piorar minha vida, Scar está se tornando um amigo bom, as vezes penso nele, lembro dos beijos, carícias e de darmos uns amaços. Sinto falta dele, mas nunca diria isso em voz alta. Lembro mais dele com o tempo, ele está se tornando meu melhor amigo. Nos falamos bastante agora e as conversas são agradáveis. Temos gostos similares, então falar com ele é sempre prazeroso, nunca vou me irritar ou convencê-lo de que aquilo é bom... isso ocorre muito com Atlas. Não, não pense nisso. Atlas tem o jeito dele de ser.
Recebo uma mensagem de Scar, leio e respondo:
- Sim. Por que quer saber?
- Faz um para mim?
Rio um pouco e depois respondo:
- Quer que eu faça um poema para você? Por que?
- Você fazia antes. Porfavor.
- Tá. Me dá uns 10 minutos.
- Vou cobrar.
Sobre o que vou escrever? Não faço a menor ideia. Tive uma ideia, não né orgulho disso, mas vou fazer mesmo assim. Pego meu caderno, abro em uma folha aleatória e começo a escrever:Em tempos idos, dois corações se encontraram.
Entre olhares e sorrisos, promessas juraram.
Na primavera de um amor florescente, sonhos tecidos, num instante, para sempre.Ela, com olhos de mares distantes.
Ele, com alma de ventos errantes.
Juntos traçaram um caminho a seguir, sem imaginar que a distância iria os dividir.O mundo se expandiu, países surgiram, fronteiras erguidas, destinos traíram.
Ela partiu para terras além.
Ele ficou, a saudade como refém.Cartas trocadas com palavras de dor, numa dança lenta de nostalgia e amor.
O tempo, cruel, apagou a juventude.
Mas não a chama da antiga plenitude.Em noites solitárias, sob o mesmo luar, ambos recordavam o doce amar.
Os sussurros do vento traziam memórias, de um tempo de ouro, de velhas histórias.E assim, separados por vastos oceanos.
Eles guardaram o amor em seus planos.
Pois, mesmo que o mundo os tivesse afastado.
No fundo de suas almas, estavam sempre lado a lado.Me sinto orgulhosa, acho que é um dos meus melhores poemas. Mando uma foto para ele e depois de 1 minutos, ele responde:
- Uau! Esse é melhor que você já escreveu para mim! É sobre nós, né?
- É.
- Ficou bonito. Mandou bem!
- Obrigada. Faz um para mim?
- Não. Eu não sei fazer.
- Não é difícil.
- Vídeo aula?
- Texto aula.
- Hahaha. Engraçadinha.
- Eu sou. Deseja mais o que?
- Não. Quer mais algo além de um poema?
- Quero.
- O que?
- Vem aqui?
- Não.
Não sei o porquê, mas fiquei brava. Ele sempre foi muito direto, mas as vezes isso irrita. Ele responde:
- Te irritei, né? Desculpa, estou em outra cidade. Por isso não vou, não posso ir.
- Sua sorte é que você tem um motivo descente.
- Sinto a morte vindo.
- Palhaço!
- Eu sou.
- Como sua mãe está?
- Bem, na medida do possível.
- Que bom. Ainda casada?
- Infelizmente.
- Que triste.
- Ainda vive com sua irmã?
- Infelizmente.
- Ela é legal.
- Tem razão. Ela é, mas só se você ver ela 2 vezes por semana, no máximo. Mais doque isso você cansa dela e quer distância.
Rio um pouco e respondo:
- Para de ser dramático. Ela é mais legal.
- Me sinto traído, abandonado e iludido.
- Por que?
- Prefere minha irmã doque a mim?
- Claro que não, Palhaço. Para de acreditar em tudo que falo.
- Não brinque com meus sentimentos. Eles são sensíveis.
- Verdade. Não posso esquecer de quando você chorou porque o Enzo morreu.
- Ele era tão... ele.
- Ele era um cachorro.
- Vamos rever? Meu melhor amigo Enzo.
- Pode ser. Mas não estou afim de te ver chorar agora.
- Para de fazer bullyng comigo!
- Não é bullyng. Estou dizendo a verdade.
- Já superou o Atlas?
- Ainda sinto falta dele, mas agora, não estou triste. Estou ansiosa.
- Ele chega quando?
- Daqui à 2 semanas.
- Entendi. Fala com ele?
- Bastante.
- Fico feliz que está feliz com ele.
- Não tem nenhuma mulher em sua vida?
- Não, estou focado em outras coisas.
Me sinto aliviada ao saber disso, mas nunca vou admitir isso para ele, respondo a mensagem dele:
- Finalmente.
- Finalmente o que?
- Se concentrou em algo.
- Para!
- Por enquanto, vou te deixar em paz sobre isso.
- Somente sobre isso?
- Sim.
- Poxa. Vou chorar!
- Nenhum cachorro morreu!
Ele demora uns 15 segundos para mandar outra mensagem e durante esse tempo, me desesperei, achando que disse algo errado:
- O cachorro do filme lembrava meu cachorro. Por isso, eu chorei.
Não sabia sobre isso, respondo:
- Desculpa, eu não sabia.
- Relaxa, eu superei isso. Ele era da mesma raça e a personalidade era a mesma.
- Uma cópia do Enzo?
- É. Vou escrever algo para você, espera aí.
- Sim, senhor.
Ele demora 10 minutos para me mandar uma foto da pequena história que ele escreveu:Em um pequeno vilarejo, onde o sol parecia se esconder mais do que brilhar, vivia Clara, uma jovem de sorriso raro e olhos profundos como a noite. Desde que se lembrava, um manto de escuridão envolvia seu coração, fazendo-a sentir-se presa em um labirinto sem saída.
Cada manhã era uma batalha, levantar-se da cama uma conquista. O canto dos pássaros, outrora uma melodia doce, agora soava como um eco distante de uma alegria esquecida. As cores do mundo pareciam desbotadas, e tudo ao seu redor era uma sombra do que um dia foi.
Clara caminhava pelas ruas de pedras antigas, onde as histórias dos antepassados sussurravam nos ventos frios. Mas esses sussurros, que antes traziam conforto, agora apenas intensificavam sua solidão. O vilarejo estava cheio de rostos conhecidos, mas cada um parecia mais um estranho, incapaz de compreender o vazio que consumia seu ser.
Em suas noites mais escuras, Clara encontrava-se deitada, olhando para o teto, sentindo o peso do silêncio. Os pensamentos se misturavam, formando um turbilhão de incertezas e medos. Era como se estivesse presa em um sonho do qual não podia acordar, onde o tempo se arrastava lentamente, e o amanhã era um horizonte inalcançável.
Apesar de todos os esforços para encontrar uma fagulha de luz, o manto da escuridão parecia impenetrável. Clara ansiava por um alívio que nunca vinha, uma paz que sempre lhe escapava. E assim, em uma noite especialmente fria e silenciosa, ela tomou uma decisão dolorosa e definitiva.
Na manhã seguinte, o vilarejo acordou com a notícia devastadora. Clara havia partido, deixando para trás um vazio ainda maior do que aquele que sentia. A tristeza que a consumia agora se espalhava por todos os cantos, e as lágrimas dos que a amavam regavam as ruas de pedra antiga.
O silêncio de Clara tornou-se um grito de dor para o vilarejo. Seu gesto final, uma súplica muda por compreensão e paz, ressoava nos corações de todos, um lembrete doloroso da fragilidade da vida e da importância de olhar para além das aparências. Na memória de Clara, flores brancas começaram a brotar nas margens do caminho que ela costumava trilhar, como um tributo silencioso à sua luta e um sinal de que, mesmo na escuridão, o amor ainda floresce.
Termino de ler e sinto lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas, as tiro rapidamente e respondo a mensagem:
- Que triste.
- Verdade. Triste e trágico.
- Você é bom nisso, em criar histórias. Devia fazer um livro.
- Um dos meus sonhos é publicar um livro. Você me apoiaria?
- Com certeza!
- Obrigado. Se um dia escrever um livro, a primeira a ler seria você!
- Eu que agradeço!
- Vou dormir agora, tá? Boa noite.
- Boa noite. Durma bem.
- Você também.
Coloco o telefone em cima da mesa da cabeceira e durmo. Sonho com Clara, mais uma personagem em uma história triste e trágica de Scar. Sinto falta dos romances dele. Queria ter terminado o romance que ele escreveu, mas meu coração parou antes deste feito.
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O Amor Ainda Não Está Morto
RomanceUm romance trágico que te prenderá do início ao fim