Capítulo 4

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MÊS: Outubro

Há 5 meses atrás, Atlas sofreu um acidente de carro e teve sua perna esquerda amputada, ele tem feito fisioterapia e parece um pouco abalado emocional por não poder jogar futebol como jogava antes. Ele usa uma prótese emprestada de seu avô e já está acostumado com ela, tento ao máximo fazer com que ele não pense na perna que ele não possui mais, no acidente ou em qualquer coisa que o deprime. Acho que tenho feito um bom trabalho.
Nesta tarde de sábado, estamos deitados na cama e assistindo Jogos Mortais 3. Atlas odeia terror e suspense, enquanto esses são meus tipos de filmes favoritos, Atlas é o tipo de pessoa que ao terminar de ver um filme de terror ou suspense pensa muito no filme. Ele pensa muito no que viu ou ouviu, lembra das cenas assustadoras e angustiantes, fazendo ele ter mais medo do filme e fazendo o filme ser mais assustador doque realmente é. Dentre todos os filmes de terror que assisto Jogos Mortais é o menos assustador deles, iria colocar Anabelle ou O Culto de Chuck. Mas não quero que meu amado sonhe com um boneco endemuniado. Meu filme favorito é O Exorcista de 1973, adoro tudo nesse filme e Atlas odeia tudo nele. A maioria das nossas opiniões são similares, mas a maioria dos nossos gostos são completamente diferentes, ele ama rock, filmes de romance, futebol e ele odeia ler, enquanto eu amo pop, filmes de terror, odeio futebol e amo livros. Temos opiniões diferentes e as vezes, discutimos por causa disso, mas sempre nos resolvemos. O filme acaba e ele nota um hematoma em meu braço, ele pergunta enquanto toca nele:
- Onde se machucou?
- Não sei.
- Dói?
- Não, relaxa.
- Toma cuidado, não gosto que sem machuque... você é muito desatenta.
- Me respeite.
- Tá, mas é sério, toma mais cuidado consigo mesma.
- Eu vou.
Ele para de tocar no hematoma e me abraça.

. . .

Minha prima finalmente voltou de viagem, estou feliz de poder brincar com ela de novo. Amanda é muito importante para mim, sinto que é a pessoa que mais se importa comigo. Ela diz:
- Está falando com quem?
Olho para ele, enquanto coloco meu telefone embaixo do travesseiro e digo:
- Com ninguém.
- É com seu ficante?
Ela diz com um sorriso no rosto e falo:
- Sim, com seu namorado.
O sorriso some e ela diz:
- Quer levar um mata-leão?
- Você não é capaz.
Ela vai para trás de mim, ela finge que vai me estrangular, começo a rir e ela me solta depois de 3 segundos que estamos rindo, ela está séria, pega um lenço e coloca em cima de minhas narinas, fico assustada e confusa. Ela me diz:
- Desculpa, não foi minha intenção.
- O que foi? Eu estou bem.
- Seu nariz está sagrando, besta. Desculpa mesmo, me perdoa?
Tenho certeza que meu nariz não sangrou por culpa dela, mas simplesmente sorrio para terminar essa conversa o mais rápido possível. Falo:
- Relaxa, lembra quando quebrei seu dente? É uma revanche, né? A sua vingança.
Ela diz entre risos:
- Com certeza.
O sangramento para e ela joga o lenço na lixeira, voltamos a conversar normalmente. Falamos sobre garotos, filmes, músicas, fofocas, ela é a pessoa que mais me entende, ela é como... uma cópia minha só que mais velha. Ela começa a me contar um babado e é dos grandes:
- Uma garota chamada Iasmyn, é do tipo pick-me. Ela namora um médico chamado Kevin, ele repetiu de ano 2 vezes. Eles namoram há 2 anos e depois das férias, ela apareceu grávida. A barriga dela estava enorme, uma amiga minha que fala com ela disse que a gravidez dela é de gêmeos e o pai é o irmão do Kevin. Resumindo, em fevereiro ela engravidou e só foi para o colégio somente 7 meses depois, para?
Sorrio porque entendi aonde ela quer chegar e falo:
- Para chamar a atenção dos garotos e do namorado. Constranger ele ou algo assim.
- Exato.
- O que passa na cabeça dessas mulheres? Por que elas não estão igual a gente nesse momento? Fofocando e tomando Coca?
- Concordo, mas assim... cada um com suas escolhas, né?
- É.
- Posso ser sincera?
- Claro.
- Lá em casa está tudo horrível, o divórcio está estressando minha mãe e você sabe como ela fica.
- Me dá medo. Mas ela vai se acalma, você teve notícias do Marcos?
Ela se aproxima do meu ouvido e fala:
- Ele foi deserdado.
Meus olhos ficam arregalados, mas me recupero novamente e pergunto:
- Por causa do lance do vovô?
- Não, ele estuprou a mãe, por isso.
- Meu Deus... ele só tem 16 anos, né?
- Sim, a mãe dele estava dormindo e ele foi estuprar ela.
- Foi assim que eu fui feita.
- E eu fui planejada, amém.
- Não precisa estragar na minha cara isso sempre, tá?
- Mas só se você parar de me lembrar que o Newt morreu.
- Não sei o porquê, mas sempre que penso nele, o cabelo dele aparece ruivo para mim.
- Ele é loiro, doida.
- Eu sei.
Começamos a rir igual hienas, descontroladas e um pouco alto. Queria ter me despedido quando tive a chance, mas saiba que eu te amo, muito mesmo.

O Amor Ainda Não Está MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora