Prólogo

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Anelise Vasconcelos

Dizem que dinheiro não compra tudo. Eu digo que compra sim. Aqueles que têm muito dinheiro podem ditar a vida de quem tem pouco ou nada.

Não importa sua conduta, se tem honra e principalmente caráter, pois a droga do dinheiro compra pessoas, testemunhos falsos e o silêncio.

Eu, que já não acreditava na humanidade, passei a odiar cada ser do nosso círculo social, depois que meu pai foi envolvido em uma teia de mentiras acusado de trabalhar junto aos maiores traficantes do Brasil.

Segundo os jornais e seus superiores, Roberval Vasconcelos participava de uma rede de corrupção, recebendo dinheiro da facção que comanda não só a cidade de Rio Sereno como todo o estado de Monte Azul, para fazer vista grossa com a entrada de drogas.

Em questão de dias nossa vida desmoronou. Tínhamos uma casa boa em um bairro nobre de Rio Sereno, um carro, uma vida estável, pois meu pai era tenente-Coronel do BFEM (batalhão de forças especiais de Monte Azul), teoricamente alguém de prestígio.

Mas o governo interditou tudo, desde a casa até às contas do banco. Perdemos o acesso a nossos bens, quase que fomos enxotados só com as roupas do corpo. Isso só não aconteceu porque implorei para um soldado que eu sabia ser afim de mim, e ele me ajudou escondido.

Sequer abriram um processo administrativo para averiguar, simplesmente decidiram que ele era culpado e ponto.
Todos nesta cidade viraram as costas para o tenente criminoso. Não conseguimos alugar uma casa e em pouco tempo vi meu pai entrando em desespero, pois além de tudo que estávamos passando, tinha a doença da minha mãe.

Valéria Vasconcelos travava uma luta contra o câncer a dois anos, apesar da doença estar parcialmente em remissão, não poderíamos deixar que ela ficasse exposta na rua.
Desde que descobriu o câncer, ela só saia de casa para o tratamento no hospital. Os médicos disseram que tinha um alto risco de qualquer machucado infeccionar e isso agravaria seu estado, já que o organismo não possuía imunidade.

Na noite em que fomos expulsos de casa, dormimos em um albergue, onde as pessoas nos olhavam como se fossem nos comer vivos. Meu pai não dormiu, montou guarda a noite toda e quando amanheceu, ele estava acabado. Bolsas negras circulavam suas pálpebras.

Em uma noite, meu pai envelheceu uns dez anos, ainda assim abriu um sorriso gentil ao olhar para mim.

"Não se preocupe minha menina, nós vamos sair dessa", ele falou quando lágrimas inundaram meu rosto.

Contudo eu não acreditei. Meu maior medo era ele ser preso e acabar sendo morto no presídio.
Decidida a não passar mais uma noite na rua para que meu pai e minha mãe pudessem descansar, fui pedir ajuda para uma amiga.

E ela prontamente ajudou nos levando para um local que talvez para meu pai não fosse o ideal, mesmo assim era um teto.

Jamais imaginei que fosse parar em um lugar ao qual eu cresci ouvindo ser um parque dos horrores e de certa forma morria de medo.
Mas foi ali que de fato eu me encontrei e conheci o único homem capaz de me trazer paz e levar ao inferno ao mesmo tempo.

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