Capítulo 1

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Anelise Vasconcelos

A casa toda está em silêncio quando Natália e eu entramos. Geralmente quando chego da faculdade, minha mãe está na sala assistindo a novela das seis, por esse motivo estranho sua ausência ali.

Será que aconteceu algo?

— Nat, se quiser subir, eu vou ver onde minha mãe está e pegar um lanche pra gente.

— Ah amiga, um lanche seria ótimo. Estou faminta.

— Leva pra mim. — peço estendendo a mochila em sua direção.

Natália a segura e segue rumo a grande escada em espiral que leva ao segundo andar.

Nós nos conhecemos desde o ensino médio. E quando fomos escolher a faculdade, decidimos fazer direito. Eu para seguir os passos do meu pai, e ela para calar a boca de alguns parentes, já que vem de família humilde e algumas pessoas duvidaram de seu potencial.

Natália é moradora do Complexo 51, a maior comunidade de Rio Sereno. Sua vida até onde me contou não foi nada fácil, mas ela conseguiu alcançar seus objetivos. Diferente de muitos que moram naquela comunidade.

Assim que vejo minha amiga alcançar o corredor que leva aos quartos, vou em direção a cozinha.

— Mãe? Tá em casa? — chamo sem obter respostas.

Confiro o celular para ver se recebi alguma ligação dela ou do meu pai, mas não tem nada.
Já estou quase chegando a cozinha quando escuto vozes alteradas vindas do escritório. Me aproximo com intenção de entrar, contudo detenho os passos ao ouvir a voz embargada de minha mãe.

— Tem que ter um jeito Roberval. Tem que ter.

— Espero sinceramente que haja, amor. Porque nesse momento eu estou na mão deles. O coronel me avisou e como não queria fazer aquilo, eles me ameaçaram.

— Eu não me conformo com isso. — lamentou ainda chorando.

— Eu juro pela vida da nossa filha que eu não sabia Valéria. — meu pai continua — Se soubesse, jamais teria aceitado ir nessa batida.

— E agora?

— Vamos aguardar e rezar para que dê tudo certo. Meu relatório já foi encaminhado para os superiores.

Alguma coisa está muito errada, posso sentir pelo tom urgente deles. Respiro fundo, desistindo de ouvir atrás da porta, bato uma vez e sem esperar por respostas entro. No meio do escritório está minha mãe abraçada ao meu pai. E como suspeitei, vejo lágrimas em seus olhos.

— Já chegou meu amor. — ela fala assim que me vê.

— Está tudo bem? Eu ouvi a conversa de vocês. O que está acontecendo, pai?

Ele endireita a coluna me encarando por longos segundos. Sua farda está suja com algo marrom, parecendo barro. Pelas mãos algumas feridas abertas como se tivesse batido em algo.

— Olha, Ane…— começa mas eu o corto.

— Pai, eu não sou mais criança. Se tem alguma coisa acontecendo eu quero saber.

— Vamos conversar, mas não agora. — ele insiste. — Sua mãe está muito nervosa e você sabe, não é bom para a saúde dela.

— Tudo bem.

Concordo já sabendo que ele não me contaria. Conheço meu pai muito bem para saber que ele não gosta de envolver a família em seus problemas e se resolveu contar para a mamãe é porque o assunto é grave.

Deixo um beijo na bochecha de cada um me retirando do local.
Tenho um pressentimento ruim sobre isso. Meu pai não é um homem de ter medo, mas ele está, pude ver em seu olhar e isso não é bom.

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