Capítulo 8

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Anelise

Olho minha imagem no espelho e as marcas dos dedos dele ainda estão lá.
Suspiro sentindo raiva dele, ainda mais de mim que não fiz nada para impedir.
Essa merda não vai acontecer de novo. Se Ghost acha que vai me fazer de fantoche está muito enganado.

Pego a base a prova d'água e espalho pelo pescoço até cobrir todos os hematomas, só saio do quarto quando estou satisfeita com o resultado. Não quero correr o risco de meus pais verem.

— Bom dia. — cumprimento com a voz arranhada. — Pai, eu vou te acompanhar até o escritório do advogado.

— Bom dia. Vamos ter que pedir permissão para descer?

Droga! Tinha me esquecido disso.

— Eu vou cuidar disso. Não se preocupe.

Tomo um café preto e saio. Desta vez vou pedir pessoalmente para aquele d'emônio. Ao sair percebo movimentação estranha na porta de casa, franzo o cenho e abro o portão dando de cara com dois vapores que não conheço parados ali com armas na mão.

— Posso saber o que está acontecendo aqui?

— Ordens do patrão. — o primeiro responde. — Ceis tão proibido de sair da casa.

Meu sangue ferve. Quem aquele desgraçado pensa que é?

— Inacreditável. — solto um riso sem emoção.

A voz dele volta zombando de mim "A partir de hoje sua vida passa a ser a porra do inferno. Cê ama lembrar que eu sou bandido, pois bem, eu vou ser o pior."

— Volta pra dentro mina. — o segundo ruge.

Dou meia volta e entro em casa, fecho a porta com cuidado para que meus pais não percebam que voltei, sigo sem fazer barulho até o quarto.
Por sorte estão sentados de costas para a porta.

Se esse bandido de quinta categoria acha que vai me manter presa aqui está muito enganado.
Abro a gaveta da cômoda revirando minhas roupas à procura da minha arma. Quando saímos de casa, fiz questão de escondê-la para que não tomassem de mim. É uma Glock 9 milímetros dourada. Checo o pente, enfio no cós da calça e vou até a janela, abrindo com cuidado para não fazer barulho. Não é muito alto, então me seguro na beira e pulo caindo no chão com um baque seco.

Meu ódio transborda a cada passo que dou. Quem ele pensa que é para supor que eu aceitaria isso calada?
O dono do morro Anelise? A vozinha insuportável da minha cabeça zomba. Um bandido que você escorraça e depois corre atrás?

Merda!

Estou fazendo isso pelo meu pai. Tento me convencer conforme avanço. Já posso ver a casa do filho da p'uta, rondando o local tem três vapores armados.

Estanco no lugar por uns minutos, inconscientemente seguro o cabo da arma em minha cintura. Não posso perder a coragem agora, ou Ghost vai achar que pode fazer o que quer comigo.

Reúno toda raiva que sinto por aquele covarde de merda para continuar o percurso.
Os vapores me vê mas não dou tempo para que avise seu chefe, entro pelo portão, a porta está aberta isso facilita minha invasão.

Ghost está esparramado no lugar com uma mulher entre suas pernas chupando-o. Ele usa máscara, desconfio que isso seja fetiche. Seus olhos estão fechados, posso ver, a garota se engasga e ainda assim continua a engolir.
Pego a arma destravando-a.

— Saia.— ordeno apontando para a garota.

Ghost abre os olhos me encarando, vejo o exato momento em que o azul do seu olhar se escurece. A moça levanta a cabeça com a baba escorrendo pelo canto dos lábios, embaixo dos olhos estão pretos com o rímel escorrido.

— Fora. Agora! — falo com mais firmeza.

Ela pega suas roupas, se levanta e corre para fora.

— Temos que parar de nos encontrar assim. — debocha subindo a cueca.

Abaixo a arma, porém continuo com o dedo no gatilho.

— Porque seus vapores estão na minha porta?

— Achei que fosse mais esperta princesa. — fecho os olhos engolindo a raiva.

— Meu pai tem hora marcada com um advogado hoje. Minha mãe tem consultas periódicas por causa da doença dela e eu tenho um emprego e faculdade, essa história de ter que pedir permissão já está ficando insuportável.

— Dessa vez não tem permissão. E pouco me importa os problemas da sua familiazinha de merda. Aqui minha palavra é lei. — sua voz treme de raiva.

Dou um passo para frente apertando os dedos no cano gelado.

— Tira essa máscara que eu quero olhar para você. — peço nem sei porquê.

Ele faz. Retira a máscara, seus olhos estão gelados, sua expressão séria demais, por uns segundos me perco na bela visão, mesmo que seja sombria.

— Não sei o porquê de tanta raiva, mas não vamos ficar presos naquela casa. —
Ele solta uma gargalhada tenebrosa.

— É uma má ideia desafiar um bandido, Anelise.

— Pode ser. — murmuro — Mas não posso ficar parada enquanto fica mais perto do meu pai ser preso.

O corpo dele se retesam ao ouvir a palavra pai.
Como um furacão vem para cima de mim, suas mãos se enrolam no meu pescoço de novo já começando a apertar. Não penso duas vezes e encosto a arma em sua garganta.

— Nunca mais encoste em mim desse jeito, ou você morre. Entendeu? Se afasta. — cuspo entredentes.

Ghost me olha e vejo algo mudar em seu olhar.

— Petulante — sussurra — Tem noção do que causa em mim e do quanto eu me odeio por isso?

Opa! Isso foi de zero a dez muito rápido.

— Se afasta, Ghost.

— Gosto do som que meu nome tem na sua boca. — ele move a cabeça encostando o nariz na minha bochecha e cheira — Mas não posso parar. Não posso.

Ghost se afasta bruscamente retornando ao estado inicial.

— Peça de joelhos e talvez eu libere a passagem.

Abro a boca para retrucar, estou com a arma apontada para a cabeça dele,contudo o homem não parece ter medo. Permanece calmo, mas os olhos estão em chamas.

— De joelhos, Anelise.

Engulo todos os xingamentos, toda a humilhação que sinto nesse momento, fazendo o que ele pede.

— Agora implora. — Ghost se move ficando perigosamente perto.— Implora, Anelise.

— Por favor, Ghost, dê permissão para que possamos descer. Por favor.

O homem dobra o joelho ficando na minha altura, um sorriso estampa o rosto bonito.

— Não! Agora levanta daí e rala peito antes que eu transforme seu corpo gostoso em uma peneira.

Ele se delicia com a situação, posso ver o prazer estampado em sua face.
Levanto mordendo o lábio com força. Ah, como eu quero matá-lo nesse momento.

— Você é realmente um monstro, Ghost. Eu te odeio com todas as minhas forças. Mantenha distância de mim.

Sem esperar que aquele homem monstruoso diga alguma coisa, e saio antes de perder o que me resta de dignidade.

Corro para casa a tempo de impedir que meu pai saia. Após uma longa conversa, ligamos para o advogado, meu explicou toda a situação e meu professor ouviu tudo em silêncio, depois disse que iria averiguar como anda a situação, por fim desligamos.

Olho para o relógio do celular, vou para o quarto e novamente saio pela janela.
Ghost pode ser a fera enjaulada mais perigosa que conheci, mas se ele acha que vou ficar aqui e obedecer sem questionar está muito enganado. Nesse jogo, dois podem jogar.

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