Capítulo 3

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Anelise

As notícias correm a uma velocidade absurda. Em pouco tempo a foto do meu pai estava estampada em todos os meios de comunicação.

Nas ruas as pessoas nos encaravam com nojo, algumas até proferem xingamentos.
Minha mãe e eu estamos sentadas em uma mureta em frente ao grande prédio amarelo. Ela apoia a cabeça em meu ombro e permanece com os olhos fechados, sei que está exausta assim como eu.

Já é noite quando meu pai sai da imobiliária, esta é a última da cidade. Fomos em todas as outras cinco existentes em Rio Sereno e todas disseram a mesma coisa: não poderiam ter sua imagem vinculada a um criminoso.

— Então Roberval? — minha mãe é a primeira a falar.

— Mesma coisa, amor. Ninguém vai alugar uma casa para nós.

Suspiro frustrada com esse povo e seu falso moralismo. 
Já estou cansada de andar, minha cabeça dói muito, além de tudo não vai demorar para a noite avançar ainda mais.

— Para onde vamos pai? 

— Tem um albergue aqui perto. Se apressarmos o passo, teremos um lugar para dormir por hora. Amanhã nós veremos o que fazer.

Mais uma vez caminhamos pelas ruas movimentadas de Rio Sereno,em minhas mãos já se formaram bolhas por puxar as malas pesadas. Mais cedo, Natália levou um pouco das minhas coisas para seu dormitório na faculdade, graças a ela o peso diminuiu.

Andamos por cerca de dez minutos até nos aproximarmos de um barracão onde a fila é parcialmente grande. 
Sei bem que esses locais não acolhem muitas pessoas, por esse motivo elas chegam cedo e a julgar pela quantidade de gente, talvez tenhamos que dormir na rua.

Não me preocupo comigo ou com papai, minha preocupação é minha mãe e o fato dela pegar alguma coisa dormindo na rua. Mentalmente começo uma oração, para que consigamos entrar nesse albergue.

"Fiquei sabendo que é criminoso", começo a ouvir cochichos das pessoas ali. "Veja bem, agora temos que dividir o mesmo lugar com um criminoso".

Cada segundo naquela fila parece uma eternidade. Me sinto constrangida pelos olhares julgadores daquelas pessoas que ficam encarando sem nem ao menos disfarçar.
Na porta tem uma freira, ela pelo menos nos olha com compaixão. É tanta coisa que se passa em minha cabeça, que quando chega nossa vez acho que seremos expulsos, só que não é isso que acontece.

A freira anota nossos nomes nos deixando entrar. 
Encontramos colchões vazios em um canto e nos acomodamos ali, por sorte tem tomada onde posso carregar meu celular. 
No barracão tem dois banheiros, um masculino e um feminino, dentro tem sanitários e um chuveiro.

Acompanho minha mãe para que tome um banho fazendo o mesmo em seguida, só então nos deitamos.
Não demora para que ela esteja dormindo, entendo seu cansaço pois me sinto do mesmo jeito só que para mim o sono não vem.

Fico em silêncio por muito tempo, o barracão todo está quieto,vez ou outra dá para ouvir o ronco ou o ressonar de alguém. 

Olho para o lado e vejo meu pai sentado, apesar da pouca iluminação vejo lágrimas escorrendo por seu rosto. 
Levanto do colchão indo até ele e me sento apoiando a cabeça em seu ombro.

— Me conta o que está acontecendo, papai. — sussurro.

— Há exatamente um mês, meu pelotão foi designado para subir até a Serra Pelada, o Coronel nos disse que iríamos fazer apreensão de drogas, armas e munição. — ele suspira — Mas não era só isso, filha, na casa do chefão do tráfico tinha muito dinheiro.  Os soldados que estavam comigo mataram todas as pessoas que estavam ali, inclusive uma senhora de idade e um menino que não aparentava ter mais de três anos.

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