Capítulo 10

109 17 5
                                    

CAPÍTULO 10

Horas antes...

Ł¥AŊŊĄ

.
Andei de um lado para o outro quase enlouquecendo dentro do cômodo espaçoso que é o quarto que tia Myrcella separou para mim com as bebês, minhas unhas acabadas de tanto roê-las e meus pés doloridos.

— Assim você vai furar o chão, pequena Lya — Thiago murmurou e eu parei olhando para ele que brincava com Emely nos braços.

— Ela está demorando! — murmurei e senti a mão de Anaya em meu ombro.

— Se acalme, prima, não é como se ela tivesse ido a esquina comprar um sortevete — murmurou, o sotaque carregado e o olhar afiado e sagaz.

— Você tem razão — concordei enquanto me sentava na cama.
Amahle resmungou enquanto ria no colo de Melanie.

A porta do quarto se abriu e eu me levantei em um pulo ao ver mamãe entrar no quarto.

— E então? — perguntei mal contendo a ansiedade.

— Não foi fácil, mais eu consegui. Infelizmente duas bebês da mesma idade que as meninas faleceram ontem de manhã.

Ela abaixou os olhos e eu engoli a seco imaginando a dor dessas mães.

— Conseguimos que os caixões fossem enterrados vazios e os corpos fossem apenas pro velório que está acontecendo agora, temos uma hora para preparar o cenário e então levarmos os corpos pro túnel. — Tia Myrcella explicou e eu concordei já pegando as cadeirinhas e ajudando Thiago e Melanie a ajeitar as meninas dentro delas.

— Não se esqueça de deixar o cinto de segurança aberto, assim vai ser mais rápido a troca. — Mamãe instruiu e eu concordei.

Parei por um segundo e tentei me acalmar, minhas mãos tremiam e meu corpo parecia que ia entrar em estado de pânico a qualquer segundo.

— Santiago estava na cidade com o seu pai, mais isso não significa que ele já saiba — Mamãe sentou ao meu lado e eu franzi os lábios.

— Eu não posso arriscar. — olhei para ela que mantinha um olhar sério — A família pode lidar com meu pai mais com Santiago não, eles seriam massacrados, e eu não posso deixar isso acontecer com as pessoas que me ajudaram a ter ao menos uma chance de passar um tempo a mais com minhas filhas.

Ela concordou antes de se levantar e olhar para as meninas.

— A Evangeline me mandou as fotos do quartinho que ela organizou pras meninas. — comentou se referindo a amiga de confiança dela que ficaria responsável pelas meninas.

— Eu não quero ver, não ainda. — murmurei e ela concordou ciente de que quanto menos eu soubesse, melhor seria para os nossos planos.
Me inclinei e beijei o rostinho das minhas filhas.

— Mamãe promete que vai transformar tudo em cinzas e então iremos comprar uma linda casa com a maldita cerca branca em um bairro de gente rica e metida — sorri e elas me encararam como se entendessem — Vocês poderão ser as patricinhas mimadas da escola e eu a mãe bonita que parece a irmã de vocês.

Mamãe sorriu ao meu lado e eu acariciei as bochechas delas.
Eu sabia que isso tudo estava longe de acontecer, sabia que não importava o quanto eu tentasse ou lutasse, nunca seria o bastante.

ImpuroOnde histórias criam vida. Descubra agora