Capítulo 13

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Já se passou um tempo, mas eu e príncipe Afonso ainda estamos como antes, sentados na grama, em silêncio, e abraçados.

Agora eu não choro mais, Afonso me fez sentir bem com o seu abraço, mesmo ainda sentindo essa dor no peito.

O silêncio durou por um longo tempo, e em nenhum momento, Afonso se atreveu a perguntar algo, apenas ficou ali e fez algumas carícias, no intuito de me dar conforto. Ainda estou um pouco tonta com a situação, meu corpo parece estar mole, meus olhos piscam vagarosamente e minha mente não funciona. Parece que não tenho forças para levantar e continuar a viver como antes, sinto que estraguei tudo..

Mesmo sem vontade alguma, resolvo falar algo a Afonso.

- Obrigada. - Digo baixo e ele dá uma pausa no carinho em meu braço.

- Não tem de quê. - Ele diz com uma voz suave e volta a fazer carícias.

- Sei que tens hora para voltar ao seu reino, mas acho que ficarei aqui por mais longas horas.

- Fique em meu abraço o quanto quiser, estou aqui para ajudar. - Sinto suas mãos acariciar o meu cabelo e o abraço mais um pouco.

- Me perdoe, fiz uma grande cena, não fiz? Meu corpo não está funcionando muito bem. - Digo ainda baixo, fungando um pouco e lembrando que me joguei nos braços do príncipe.

- Deve ser por conta de seu estado, está muito abalada. - Fico em silêncio, mas logo Afonso continua. - Perdão pela minha pergunta, mas por que a princesa saiu tão abalada da conversa com seu pai? - Penso em não responder, mas do que adianta esconder? Já minto e escondo coisas demais.

- Se eu lhe contar, acreditará em mim? - Digo baixo.

- Em cada palavra que sair de sua boca, eu acreditarei. - Respiro fundo e me afasto de Afonso, me sentando à sua frente e ficando de cabeça baixa.

- Papai irá se casar. - Mexo em meus próprios dedos, lembrando da cena que acontecera.

- Isto é ótimo, não é? - O olho, vendo um pequeno sorriso, que logo some, percebendo meu rosto triste. - Ah, pelo visto, parece que não.

- Infelizmente, tem algo muito maior que isto. Confesso que estou triste por não ter a notícia do casamento em circunstâncias melhores, e que me senti apunhalada pelas costas, mas isso é o de menos.. papai está doente. - Sinto meus olhos marejarem mais uma vez e Afonso toca em meu rosto.

- Sinto muito princesa. - A mão de Afonso acaricia meu rosto. - Por seu estado, vejo que não é uma doença fácil de se curar.

- Não é mesmo.. - Tiro sua mão de meu rosto devagar, e a seguro. - Se não estivesse me ajudando tanto, pensaria que está se aproveitando de mim.

- Longe de mim fazer uma audácia dessas, apenas estava lhe confortando. - Ele se explica, e eu rio um pouco.

- Sei bem. Está sendo um bom companheiro. - O vejo sorrir, mas não consigo retribuir esta felicidade.

- Se quero me casar com a senhorita, tenho que ser um bom homem. - O sorriso permanece em seus lábios, e com as palavras dele, começo a pensar.

Quero que papai me veja casar e ter filhos, quero receber as bençãos no dia de meu casamento, quero que meus filhos o conheçam. Papai me mostrou que não tem muito tempo, isso me desespera como nunca, morte é algo muito grande, é para sempre, e eu não sei se consigo passar por isso mais uma vez.

Me vejo parada, olhando para a grama e quase sem piscar, apenas pensando mais e mais em um abismo sem fim.

- Eu quero me casar. - Não quero não. - Se estava esperando minha permissão, então sim, aceito me casar com você. - Tiro meus olhos da grama e o sorriso de Afonso era bem maior que imaginei, os olhos brilham como estrelas.

- Estou tão feliz com isso! Sei que nos conhecemos a pouco tempo, mas já gosto da senhorita como nunca, quero como ninguém, tê-la comigo, como minha amada. - Estou repensando se isso foi uma boa ideia. - Temos tanta coisa para organizar, e temos que ser rápidos, mal posso esperar para vê-la com vestido de noiva.

- Calma Afonso, disse que aceito me casar, mas o casamento não será amanhã. - O entusiasmo do príncipe é nítido, sinto que a qualquer momento ele levantará e dará pulos de alegria.

- Me desculpe, minha alegria é muito perceptível, não é? Estava querendo mesmo uma boa resposta.

- Entendo, mas peço que tenha calma, certo? Sei que a alegria é muita, mas tenha calma. - Digo tentando fazer com que ele fique mais calmo.

- Perdão, irei parar. - Ele me admira com um sorriso, está com uma cara de apaixonado, e isso acaba me fazendo rir.

- Obrigada Afonso. - Volto à expressão normal e olho para o lindo céu.

Pensando bem, não sei se tenho cara para falar com dama Evelyn hoje, não sei por onde ela anda, mas não quero vê-la agora. Mesmo com essa pequena raiva interior, lembro que não é culpa de dama Evelyn, ela juntamente com papai, tiveram a escolha de não me contar, e eu já sei o motivo de tudo. Ainda quero ser amiga de Evelyn, ela com certeza é uma ótima pessoa, e além de tudo, ela sabe um de meus segredos, não posso correr o risco de cortar os laços e ela contar tudo a papai.

Amara! Que coisa feia, pare com esses pensamentos!!

Saio de meus pensamentos, quando escuto a voz de Afonso, agora menos entusiasmado, mas ainda, Afonso.

- Se eu fosse vossa alteza, eu ficaria feliz pelo seu pai. Pense na felicidade dele em se casar e reviver um momento importante que ele já teve em sua vida. - Olho para ele em silêncio. - Sei que lhe incomoda ser outra mulher e não a sua mãe, percebo isso em seu olhar, mas já que seu pai está com essas complicações, faça ele se sentir bem, e ele só se sentirá bem, quando a senhorita estiver bem.

- Eu quero estar bem, mas é complicado, você não entenderia.

- Certo, mas este é meu conselho, só quero que fique tudo bem, lhe ver chorar, partiu meu coração. - Ele segura em minhas mãos e acaricia, olho nossas mãos juntas e até imagino uma cena do futuro.

Nossos filhos correndo pelo castelo, música tocando, pessoas dançando e nós dois nos acompanhando no ritmo da música. No começo do pensamento, Afonso estava ali comigo, mas logo sua aparência começa a mudar, os cabelos crescem mais um pouco, sua altura aumenta um pouco também, o corpo cria grandes músculos e as vestes passam de príncipe para plebeu..

Percebendo isso, paro na hora com estas imaginações, já sei onde isso vai dar, e não quero pensar assim.

Afonso ainda me olha com os mesmos olhos, e minha imaginação continua querendo me constranger, mas sou forte e dou um pequeno sorriso, fugindo totalmente da imagem do homem que veio à minha mente.

- Se me der licença. - Chego mais perto de Afonso e volto para a posição que estávamos antes, abraçados. Talvez assim, não olhando para seu rosto, eu pare de pensar besteiras.

Em um reino distante..Onde histórias criam vida. Descubra agora