Capítulo 14

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Um tempinho depois..

Afonso já fora embora, com isto, aproveitei para andar mais pelo jardim e pensar mais um pouco sobre minha decisão precipitada. Também pensei sobre toda a situação que meu pai está passando, e me sinto culpada, talvez eu não tenha sido uma das melhores filhas, ou não tenha agradecido por tudo que papai já fez por mim.

Mas também penso na forma que ele me olhou, a raiva na voz, até seus olhos tão brilhantes, pareciam opacos e escuros. O saber sobre a morte, deve estar mexendo com sua cabeça.

Observando as flores, sinto o vento soprar um pouco mais forte, e acho que foi intuição, mas percebi a presença de alguém ali, então olhei para trás.

- Estava aproveitando tanto, não quis incomodar. - Dama Evelyn diz com uma voz desanimada, e me viro novamente para frente.

Não tenho cara para conversar com ela agora, acho que não tenho nem palavras.

- Amara, quero lhe pedir perdão, de mulher para mulher. - Continuo em silêncio, a tensão está tomando conta de mim. - Seu pai me contou sobre a conversa que tiveram. - Antes que ela falasse algo a mais sobre o acontecido, eu crio coragem, e digo:

- Dama Evelyn, por favor, não é o momento adequado para conversar, já estava indo para meus aposentos. - Minha voz sai séria, mesmo minha expressão sendo outra, mas ela volta a falar, ignorando o que acabei de dizer.

- Eu sinto muito por não ser uma boa amiga. Sei que errei deverás em não contar sobre meu amor com seu pai.. eu sei da admiração que sente por sua mãe, então pedi a seu pai que não a contasse. - Papai mentiu, não foi um acordo dos dois.

- Por que achou que assim seria melhor? - Digo, ainda séria.

- Tive medo de ser rejeitada. - Aquelas palavras saíram duras da boca de dama Evelyn, e sinto pesar mais.

- Rejeitada? - Viro um pouco a cabeça, e a olho de canto de olho, vendo dama Evelyn abaixar a cabeça e respirar fundo.

- Eu nunca pude ter filhos, Amara. Você é o mais perto que tive de uma filha. - Escutando tudo, me viro para ela, ainda de longe. - Tive medo que com a notícia do casamento, pensasse que queria roubar o lugar de sua mãe. Então fiz a escolha de não contar antes, para não perder toda a confiança que tem em mim.

- Acho que não funcionou. - Ela levanta o olhar, me olhando com uma feição triste. - Mas não perdeu minha confiança por completo, sinceramente, o casamento é o que menos me importa agora.

Evelyn suspira aliviada, e mesmo ainda com a feição triste, me parece menos desanimada.

- É um momento difícil, eu sei. Podemos conversar, se a senhorita quiser. - Ela dá um passo a frente, se aproximando, mas permaneço onde estou.

- Não aja como se nada tivesse acontecido, dama Evelyn. Eu lhe perdoei, mas ainda me sinto muito traída.

- Irei me redimir quanto a isto, garanto a ti. - A dama se aproxima mais, e ficamos a poucos centímetros de distância. - Tudo está acontecendo muito rápido, mas ainda somos boas amigas. Irei lhe ajudar no que for preciso, e sei que você precisa de mim.

Realmente, tudo que não falei com Afonso, precisava falar com alguém, mas não sou a pessoa que fala sobre seus sentimentos mais profundos. Dama Evelyn me faz sentir bem, em todas as vezes que estamos juntas, ela é uma mulher de palavra, me pediu desculpas e teve honra.. não posso negar que ela está sendo quase uma mãe.

- Tudo bem. Menti quando disse que iria para meu aposentos, por isto, me acompanhe por mais um tempo. - Falo e vejo dama Evelyn sorrir de canto, logo começamos a andar.

- Conversou bastante com o príncipe Afonso, não foi? Pequena Adhara. - Evelyn diz.

- Sim, Afonso é um bom conversador, e é bem engraçado, mas posso ser sincera? - Ela movimenta a cabeça, permitindo a continuação de minhas palavras. - Afonso fala como uma mula grávida, nunca em minha vida ouvi um homem falar tanto. - Lembro de Afonso tagarelando ao meu lado na grama, e escuto a risada alta de dama Evelyn.

- Quando pediu para ser sincera, não imaginei que fosse tanto! - Diz colocando a mão na boca e dando continuidade ao riso.

- Não tenho culpa se esta é a verdade. - Rio um pouco também. - Mas tomei uma decisão.

- Hun, decisão de quê? - Ela para aos poucos de rir.

- Decidi que irei me casar com ele. - A olho e vejo uma sobrancelha ser erguida, então volto a olhar para frente. - Sim, apocou falei que ele parecia uma mula falante, mas irei me casar mesmo assim, isso vai além dos meus princípios.

- Tem certeza disso? Na última conversa que tivemos, a senhorita disse que iria esperar mais um longo tempo até decidir se casar.

- Disse, mas tenho medo de que papai não consiga ver meu casamento, não consiga ver minha felicidade, e o sonho dele é me ver casar e ter uma família, não posso não realizar este sonho. - A olho novamente.

- Se esta é a sua decisão, então eu lhe apóio, também só quero a felicidade de seu pai.

- Muito obrigada, dama Evelyn. - Aos poucos sinto o sentimento ruim indo embora, dama Evelyn fará meu pai feliz. - Me casarei logo assim que vocês se casarem. Três dias depois!

- Uh, tão encima?! - Ela diz surpresa e paramos a caminhada.

- Quanto mais rápido melhor, não é?

- Bom, então que assim seja! - Um sorriso se forma em sou rosto. - Minha pequena Adhara irá se casar, isso me dá tanto orgulho. - Evelyn passa as mãos em meu rosto, acariciando.

Nesse momento, lembro de mamãe. Ela acariciava meu rosto da maneira que dama Evelyn acaricia, com o mesmo toque suave e carinhoso, as mesmas mãos macias e quentes..que saudade..

De longe, ouvimos uma das criadas chamar por dama Evelyn.

- Terei que ir, mas nos vemos depois para conversar sobre os detalhes do casamento, está bem?

- Está bem! Lhe vejo depois. - Ela sorri e tira as mãos de meu rosto, indo ao encontro da criada, logo as duas se aproximam e seguem seu caminho para dentro do castelo.

[...]

Depois de tanto andar pelo jardim, percebo que já já a noite cairá sobre nós, sinal que é hora de voltar para dentro.

Estou longe do castelo, o jardim é quase como um labirinto, mas já andei tanto por aqui, que sei todos os caminhos e todos os atalhos. Passo perto do muro alto de arbustos e chego até um lugar onde não vinha a muito tempo, a árvore que eu e mamãe brincávamos, vínhamos aqui nos balançar e olhar a linda vista. Me aproximo mais da árvore e não percebo que suas raízes tiveram um grande crescimento, então meu vestido acaba prendendo com força em uma delas.

- Ah não! - Me agacho perto da raíz, tentando tirar a parte presa do meu vestido. - Peste, como prendeu tão forte assim? - tento puxar com cuidado o vestido, mas infelizmente ele ainda continua preso, não me resta escolhas a não ser rasga-lo.

Conto até três e seguro firme no vestido, ficando de costas para a árvore e puxando o tecido preso com todas as minhas forças. Como resultado, o vestido rasga, mas pelo impulso, caio com as costas no tronco da grande árvore, tronco qual estava oco, então logo uma parte se quebra.

- Ai meu Deus.. - Me afasto da árvore, me virando para ela, e sinto uma grande ardência nas costas. Observo o tronco e vejo que fiz um buraco. - Parece que está tudo dando errado hoje. - Me ajoelho, encostando minha cabeça no tronco e olhando para dentro do buraco, vejo algo que me chama muito a atenção.

- O que é isto?..

Em um reino distante..Onde histórias criam vida. Descubra agora