Penso em milhões de soluções para o meu problema, estou longe do castelo, e longe principalmente do meu cavalo, minha respiração pesa e fico preocupada.
- Eu tenho que ir. - Me levanto, cambaleando um pouco, bebemos muito..
- Mas já? Nem anoiteceu ainda, o festival ainda está acontecendo. - Ramon diz despreocupado, diferente de mim, que mesmo bêbada, estou a ponto de desmaiar de preocupação.
- Isto mesmo, não tem com o que se preocupar. - Rosita diz e segura em minha mão, não me deixando sair do lugar. - Senta aí, relaxa e esquece os problemas.
- Desculpe, mas tenho realmente que ir, meu pai não sabe que saí, e se ele souber, ficará uma fera. - Penso nos castigos que posso levar se não chegar a tempo no castelo.
- Você não disse para os seus pais que vinha?! - Rosita diz e solta minha mão.
- Não, não disse, eles são protetores, por isso mesmo que tenho que ir. - Arrumo minha roupa. - Até mais, gostei de passar esse tempo com vocês, nos veremos em breve novamente. - Digo e vou me distanciando.
- Vá correndo! Se tem hora para chegar, é bom ir rápido. - Ramon fala e Rosita ri, mas faço o que digo, acelero o passo e corro.
Cada passo dado eu sentia meu mundo rodar um pouco, a bebida estava fazendo mais efeito que nunca.
Eu não bebo, então não sei se estou bêbada por que exagerei, ou por que é minha primeira vez tendo essa sensação.
Corro esbarrando em algumas pessoas, mas torcendo para chegar logo ao meu cavalo, toda vez que olhava para o céu, ele escurecia mais um pouco, aumentando meu desespero.- Deus, se for da tua vontade, me deixe chegar em casa antes de meu pai. - Digo baixo, mas torcendo para ser ouvida.
E então, mais longos minutos se passaram, parecia que estava correndo a uma eternidade, as ruas pareciam mais longas e mais largas, as luzes estavam mais fortes, pessoas falavam mais alto e meu único intuito era chegar ao meu cavalo, até que finalmente consegui. Cheguei até o começo do vilarejo, e com pressa soltei o cavalo, levei até perto de uma grande pedra, subi nela e montei.
A tontura veio novamente e eu me seguro no cavalo, não me deixando cair, o tombo ia ser muito feio para uma pobre moça bêbada. E sem mais delongas, faço o cavalo correr tão rápido que pareciamos estar correndo na velocidade da luz, mas é por uma boa causa, ultimamente tudo que estou fazendo é por uma boa causa, parece estranho não é? Até porque, ninguém é bom o suficiente para fazer todas as coisas por uma boa causa, até mesmo eu.
[...]
Chegando no castelo, volto pelo mesmo lugar que saí, volto rápido mas desmontar e montar os tijolos, não foi fácil desta vez, se tinham dez tijolos antes, agora pareciam vinte, incrível como o tempo gosta de nos atrasar.
Dou uma última olhada para o céu e já estava quase completamente escuro, me alivio por já estar em casa, mas não posso relaxar, ainda tenho que trocar as vestes e fingir que estava em um sono de dez horas, então fecho rápido o buraco e ando em passos largos até sair da cozinha.
O castelo parecia maior agora, acho que o desespero me fez ficar um pouco mais sóbria, mas o mundo ainda rodava um pouco e sinto que tombo algumas vezes enquanto ando pelos corredores, até escutar uma voz que me fez me desesperar mais ainda.
- Amara? - A voz de Joana ecoou tão alto pelo lugar que senti um arrepio vindo dos pés até minha cabeça. - Amara! - Ela diz novamente e eu paro onde estou, não me virando para ela.
- Oi, Joana. - Falo baixo e com um imenso nó na garganta.
- Onde estava? E por que essas roupas? - Pelo barulho dos passos, sei que ela está se aproximando, então meu coração bate mais forte cada vez.
- Eu estava no jardim, saí do quarto e fiquei um tempo por lá. - Tento mentir o melhor que posso, minha voz está trêmula, até gaguejei um pouco.
- No jardim? Pedi para que lhe procurassem por lá e não a acharam. - Droga Joana.. terei que improvisar.
- Estava em uma parte do jardim onde só eu sei onde é. - Me viro para ela e já estamos a poucos centímetros de distância, mas não faço expressões, ela pode suspeitar.
- Hun.. e as vestes? De onde são? - Joana diz, serrando um pouco os olhos para mim.
- São de minha mãe.. peguei em seu armário. - Menti descaradamente mais uma vez, mas ela não relaxa nem um pouco a expressão.
- Vossa majestade bebeu? - Abro a boca para dizer algo mas ela me interrompe. - Nem pense em mentir, o cheiro entrega tudo. - Ela cruza os braços.
- Certo.. não vou mentir para você Joana, eu bebi sim. Estava entediada no jardim e peguei uma das bebidas de papai. - Ela coloca uma mão em sua testa e eu abaixo a cabeça, ver Joana assim, é quase a mesma coisa que ver meu pai. - Desculpe..
- Tudo bem, princesa, mas por que bebeu? Não é disso.
- Queria fazer uma coisa diferente hoje. - Digo ainda de cabeça baixa, então sinto Joana me abraçar. - Não conte a papai, por favor..
- Não vou contar, não se preocupe. - Retribuo o abraço e ficamos ali por um tempo, até ela dizer: - Com todo respeito vossa alteza, mas está imunda, vamos tomar um banho antes que seu pai chegue, e tentaremos tirar este bafo de bebida da senhorita, está bem?
- Sim, obrigada Joana.
Nos separamos e então fomos para o banho, foi tão relaxante, fiquei lembrando os momentos únicos que tive hoje, estava mais feliz que nunca. Quando já estava vestida e parecendo uma nova mulher, papai chega acompanhado dos guardas que foram com ele, mas tinha algo a mais, vieram acompanhados de uma carruagem, e não era de nosso reino.
Os portões já estavam abertos e eu e Joana estávamos à espera de papai, ficando as duas surpresas quando descem da carruagem meu pai e uma mulher que se parece com mamãe, mas nunca a vimos.
- Seja bem vindo de volta, vossa alteza. - Joana se curva meio desconcertada e papai se aproxima com a mulher.
- Papai. - Faço reverência. - E esta mulher? Quem é? - Pergunto a olhando.
- Filha, esta é a dama Evelyn. - Papai sorri olhando para a mulher, então ela logo retribui o sorriso.
- Encantada, princesa Amara, quanto tempo não nos vemos. - Ela diz.
- Não me lembro da senhora. - Digo um pouco séria, não é todo dia que papai aparece com uma desconhecida em nosso castelo.
- Oh, claro que não se lembra de mim, a vi quando era apenas uma criancinha. - Ela recorda o momento.
- Amara, a dama Evelyn é uma amiga de muitos anos, ela passará um tempo em nosso castelo. - Ele diz se aproximando e ficando ao meu lado.
- É uma honra ser recebida por essa família. - Ela dá um sorriso simpático, ela tem um olhar doce, olhar qual papai não para de admirar.
- Bom, que tal entrarmos? Jantaremos e depois conversaremos um pouco. - Papai diz ainda sorrindo.
- Uma ótima ideia, rei William, a viagem foi longa, e eu adorarei recordar mais momentos com vocês. - Dama Evelyn diz, acompanhando meu pai no sorriso, mas por que tantos risos?
- Joana, avise que temos visita, entraremos para jantar. - Joana assente e vai dar o recado aos demais criados.
Então eu, papai e dama Evelyn, entramos no castelo e fomos para a sala esperar o jantar, observo eles conversando e parecem ter muita intimidade, papai ri como se tudo fosse engraçado e os olhos dele brilham mais que as estrelas.. só o vi assim com minha mãe, acho que tem algo errado.
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Em um reino distante..
FantastikEssa história pode até parecer um conto de fadas, mas digo, não é um.. Mais longe do que vocês imaginam, existe um reino, o reino de Adhara. Onde se encontram coisas lindas, mas também esconde segredos obscuros, segredos aos quais Amara procura tant...