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Capítulo 9: A Luta Desesperada de Fábio

**Fábio**

Antes de tudo isso, eu era só mais um Pai de Santo na comunidade de Salvador. Minha vida era dedicada aos Orixás e à proteção das crianças e dos desamparados. Eu era conhecido pela minha piedade e bondade, sempre pronto para ajudar quem precisasse. Na favela onde vivia, as pessoas me respeitavam e confiavam em mim. Era um orgulho ter sido abençoado pela minha família com o machado de Shamgò, uma relíquia mística de grande poder. No entanto, nunca tive a chance de usá-lo, pois nunca enfrentei uma ameaça que justificasse liberar tal força.

Minha fama como Pai de Santo cresceu após um incidente inesperado. A favela onde vivia estava sob ameaça de um grupo violento. Desesperado, invoquei os Orixás, e, para minha surpresa, consegui manifestar um poder imenso, tempestade de raios e trovões região pelos céus, que afugentou os agressores e salvou a comunidade. Depois desse evento, algo mudou. Por mais que tentasse, não conseguia mais manifestar nenhum poder. Isso me deixava frustrado e perplexo, mas continuei minha missão de ajudar as pessoas da melhor forma possível.

Agora, me encontrava em uma situação de desespero absoluto. Correndo com as duas irmãs Bravanel, uma em cada mão, entrei debaixo da mesa de jantar. Raquel tremia, e quando passos pesados começaram a ecoar pela sala, tampei a boca da garota e ficamos quietos, tentando nos manter fora de vista. Vi os pés enormes revestidos de ouro da armadura do Padre Richard passarem em nossa frente. Ele parou bem ali, e de repente a cabeça de Margareth caiu no chão, ainda piscando para nós, com pedaços de sua coluna vertebral se movimentando como uma cobra pelo chão.

"Merda!" pensei, era como se eu pudesse ver meu futuro se fechando.

Regiane gritou. A mesa foi jogada longe, e eu gritei para elas fugirem. "Corre, menina! Some daqui! Rápido!"

"Não preciso da sua permissão, pagão. É melhor um pagão morto que um cristão correndo risco." Richard riar e sorria.

"Você tá louco, homem? Jesus não faria algo assim!"

"Estou aqui para purificar em nome de Jesus." o Padre responde automaticamente.

Eu não conseguia usar meus poderes e isso me frustrava. Desviei dos seus ataques, vendo ele destruir a sala de jantar com cada golpe. Eu corria de um jeito desengonçado, desviando por pouco. Quando seu braço virou um chicote de ouro com diamantes, ele me atingiu, quebrando meu braço esquerdo e algumas costelas. Fui jogado longe, mas ainda consciente.

"Ora, seu Arrombado!!!" Gritei.

Peguei uma bandeja de metal e a usei para refleti a luz das lâmpadas nos olhos dele. Isso o cegou por um momento, e aproveitei para correr, debatendo-me nos móveis e fugindo por um corredor diferente das meninas. Minha única preocupação era escapar.

Ouvi um chiado atrás de mim e, quando olhei, eram um enxame de pequenas aranhas e escaravelhos de ouro derretido e fervente. Elas eram rápidas, subindo pelo meu corpo, mordendo e queimando minha pele. "Ai, meu Deus! Sai, sai!"

Corri até encontrar um quarto. Fechei a porta atrás de mim, mas as aranhas continuavam subindo, rasgando meu lábio. Desesperado, encontrei um chuveiro e uma banheira. Liguei a água e pulei dentro. A água esfriou as aranhas e parecia matá-las. Saí da banheira com o braço doendo e sangrando, sentindo as costelas quebradas. Sentei no chão, tentando parar a dor.

Eu estava perdido, mas não podia deixar de ter fé."Vou sair vivo dessa." Continuava a repetir verbalmente e mentalmente.

De repente, ouvi alguém batendo na porta do quarto. Virei-me, vendo a maçaneta girar. Corri para forçar a porta contra a pessoa do outro lado.

"Por favor, Fábio, abre a porta! Somos nós, as irmãs Bravanel!" Disse a voz.

Elas estavam implorando, mas eu precisava ter certeza. "Como posso saber que não é uma armadilha? Diz algo que só as irmãs Bravanel saberiam!"

"Você nem nós conhece a um dia! Por favor, Fábio.
Suspirei, reconhecendo as palavras. Minha compaixão venceu a desconfiança. Abri a porta para vê-las sorrindo, mas antes que pudesse dizer algo, a mão de Raquel atravessou e transpassou meu peito.

"O que...?"

Eu não entendi, nem quando cai sobe os pequenos pés dessas adolescentes, nem no momento em que senti o gosto metálico do sangue subir pela minha garganta, nem quando reparei que no corredor atrás das garotas estava o Padre, morto com um buraco no peito que transpassou a armadura dele. O que está acontecendo?

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