Capítulo 7:

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Ato 2:
Fantasmas

Por volta das três da madrugada, Lg saiu do pequeno acampamento improvisado e caminhou em direção a cidade de Pandora, a ideia de existir mais um Apuh fazia a cabeça do jovem vampiro revirar e ferver com teorias e suposições. Caminhando sem rumo, o vampiro parou em frente a praça central, olhando a pequena fonte de água rodeada de rosas vermelhas.

– Isso vai ser uma confusão…

Qualquer um que passasse ali provavelmente acharia que ele teria enlouquecido, o próprio garoto achava fortemente que finalmente enlouqueceu de vez.

Ele ergueu o olhar e encarou uma placa acima de um prédio, mais especificamente, olhou para a fachada da prefeitura, um homem vestindo um terno preto com uma faixa de prefeito no corpo, cabelos da cor vermelho e olhos pretos, o homem ali era Apuh, mas este Apuh na fachada não usava tapa olho ou tinha diversas cicatrizes, parecia um homem sereno e disposto a fazer qualquer coisa pelo bem da cidade.

– Talvez você vai sair machucado, menino puh… de novo.

Havia algo que todos dessa cidade não sabiam, havia algo específico que Lg fazia o impossível para esconder sob sete chaves, um segredo sombrio que colocaria a cidade em perigo.

– Acho que você se sentiria orgulhoso ao ver esse lugar Apuh…

Ele baixou o rosto e encarou as próprias botas sujas com terra. O casaco dele tinha internamente um bolso escondido, ele meteu a mão no bolso sentindo uma textura rígida de couro, puxou o conteúdo de dentro do bolso e encarou por alguns segundos aquela coisa.

– Não nesse lugar… ainda não…

As memórias eram como facas entrando em seu coração, cada detalhe daquelas memórias eram doloridas e cheias de arrependimento.

A luz da lua refletiu no objeto nas mãos de Lg, a pelugem dourada estava esbranquiçada sob o luar, causando uma sensação inofensiva para quem não sabia seu significado.

– Talvez… só talvez…

Ele lembrava daquela noite como se fosse ontem, seu mentor, seu amigo e pai, o homem sorrindo enquanto estendia uma máscara de coelho para ele, esta máscara agora estava em suas mãos, neste momento as palavras de Jazz estavam martelando nas memórias de Lajota.

“Essa cidade vai cair em caos Lg, vai ser lindo, você e eu vamos transformar Top City na mais pura beleza do caos.” – ele estendeu a máscara de coelho dourado para Lg. – “Seja o próximo coelho, leve meu legado adiante filho.”

Uma memória a tanto tempo esquecida, há quanto tempo isso teria acontecido? Três anos? Quatro? Ele não sabia dizer. Hoje em dia, Lg tinha total controle do Dark Lichen em seu corpo, os sussurros dos fantasmas ecoavam todos os dias na cabeça dele, exigindo liberdade, mais poder, exigindo reconhecimento enquanto seu tempo parecia ter parado no tempo. Seu corpo continuava jovem, tão jovem quanto no dia tempestuoso que atravessou aquele portal, ele não lembra exatamente o que aconteceu depois daquilo, ele tem algumas memórias fragmentadas de mundos pelo qual passou, mas nada concreto, nada preciso.

– Vai ser divertido.

Rindo soprado enquanto encarava máscara, ele apreciou a textura por mais alguns segundos, guardando no bolso interno do casaco novamente, levantou o rosto e encarou a fachada da prefeitura uma outra vez.

– Lg?

O vampiro pulou de susto, vendo ali um de seus melhores amigos parado, encarando ele com curiosidade.

– Tá fazendo o quê aqui esse horário?

– Ah, eu tava dando uma caminhada na cidade.

Mente se aproximou e fez um carinho gentil no cabelo de Lg, era estranho pensar que Mente era um caçador e um homem extremamente carinhoso com um vampiro.

– Você parece distraído. Nem me viu chegando.

– Você tava aqui há muito tempo?

Era preocupante pensar que Mente poderia ter visto a máscara do coelho dourado, o vampiro queria evitar perguntas complicadas.

– Na verdade eu cheguei agora, mas você se assustou quando eu te chamei. Tá aprontando o quê?

Lg riu travesso e se afastou, sendo seguido pelo caçador que sorriu ao notar a travessura no comportamento do amigo.

– O que você tá fazendo, Lg? Por acaso não vai ser preso de novo, vai?

– Não! Eu acho… não sei.

Esconder um Apuh de outra dimensão seria considerado crime?

– Lg…

– Provavelmente não… mas vai ser divertido!

Os dois se sentaram no banco da praça e encararam a fonte de água.

– Vou confiar no que diz, mas caso você seja preso, dessa vez eu explodo a prisão.

A risada de Lg foi alta, ele ainda lembrava das vezes que Mente sugeria explodir a prisão para tirar ele de lá. Era estranho pensar que seu amigo estava disposto a fazer tal coisa tão absurda por ele.

– Se acontecer, eu vou esperar sua explosão enquanto como pipoca.

Dessa vez foi Mente quem riu alto, o ruivo tapou a boca enquanto os cabelos longos caiam para frente. Os dois aproveitavam a companhia um do outro calmamente.

– Cê quer ser um vampiro?

– Cê vai deixar eu ser um barão com você?

– Não.

– Então eu não quero.

– Aaargh! Por que ‘cê quer ser barão também?

Mente ficou em silêncio, ele apoiou os cotovelos nos próprios joelhos e olhou para o rosto do amigo, como se ponderasse a ideia de contar um segredo.

– Porque sim.

Se o destino pudesse gritar, estaria gritando que Mente era um péssimo mentiroso e que Lg era muito lerdo e cego.

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//Autor aqui

Estou cozinhando algo.

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