Sementes do Caos

Capítulo 10

"Aviso: gatilho com "daddy issues", ataque de pânico, tpt (transtorno pós traumático."

“Ato 2: Fantasmas”

O céu estava repleto de nuvens escuras, o sol estava escondido atrás das nuvens carregadas com uma chuva que parecia nunca terminar, as poças de água estavam cada vez mais grandes sem ter para onde escorrer. O frio desta cidade ia além da chuva imparável, os prédios comerciais possuíam poucas luzes funcionais, lamparinas que antes tinham um belo brilho avermelhado agora estavam completamente infestados por aquela coisa gosmenta com cheiro putrefato. Em meio a chuva um portal surgiu, do tamanho de uma porta, um portal dourado transparente estava no meio da praça do que um dia foi uma cidade, daquele portal surgiu um garoto segurando um guarda-chuva roxo, ele deu alguns passos para frente, olhando a grande imensidão de prédios infestados por aquela coisa.

– Nossa! Que saudade desse lugar.

A voz não veio do garoto, antes que o portal fechasse, um homem mais alto e maior saiu por ele, vestindo uma armadura azulada, seus cabelos castanhos estavam batendo nos ombros, sua barba continuava por fazer mas ele ainda tinha o mesmo sorriso, a mesma voz, o mesmo olhar louco.

– Nossa Lg, faz muito tempo não faz?

Jazz segurava um segundo guarda-chuva da cor preta, caminhando ao redor da praça, naquele lugar não era possível ouvir nada além do som da chuva caindo incessantemente no chão e os passos deles, passos molhados e abafados, o chão estava completamente cheio de musgo azulado com pontos brilhantes, do chão subiam vinhas tão altas quanto os prédios, semelhantes às algas do mar.

– Essa coisa vai sujar minhas botas.

Lg resmungou sem ânimo e saltou graciosamente para cima de uma das letras do letreiro da cidade, letreiro esse que estava enferrujado, não era mais possível identificar a cor original que existia ali.

– Misericórdia, o tempo deixou você frescurento.

O homem zombou enquanto corria para ficar brincando com as poças, pulando em cada uma como se estivessem em uma excursão de férias.

– E o tempo te deixou lento.

Jazz parou sua brincadeira, olhando para Lg em cima do letreiro, sentindo sua bochecha e testa ardendo, ele ainda podia sentir a sensação da lâmina do garoto quase arrancando sua cabeça há alguns minutos atrás.

– A vida tem dessas, filho.

– Eu não sou seu filho. – Ele falou tão rápido que sua voz soou como um trovão.

– Você ficou tão arisco quanto um gato.

O garoto não respondeu, apenas suspirou cansado, sua mão tinha machucados e contusões que a tempos ele não sentia, fazia vários anos desde a última vez que Lg de fato precisou se esforçar em batalha, mas ele obviamente nunca perdeu.

– Apenas fale logo o que nós viemos fazer aqui.

Ele não se sentia confortável ali, ele podia ouvir sussurros variados, desde vozes conhecidas, até vozes assustadoras, se ele se concentrasse o suficiente, poderia ver alguns fantasmas esquecidos.

– Pra quê tanta pressa? Não é como se você de fato tivesse uma casa pra voltar. – Sua risada ecoou pelas ruas como um eco sombrio. – Ah, espera, você já tá em casa. Bem-vindo de volta a TopCity, Lggj.

Ele abriu os braços, tinha um grande sorriso no rosto enquanto seus olhos astutos capturavam cada desconforto nas reações de seu querido pupilo.

Há algumas horas atrás, Lg suspirou irritado com a ideia, ele estava em seu armazém pegando cada vez mais bolsas de sangue, sua mochila tinha somente o necessário, sua espada, alimentos, um machado, kit de primeiros socorros e um livro com caneta tinteiro e um pote pequeno de tinta. O vampiro estava escrevendo uma carta de “volto em breve” para seu inquilino, deixando instruções de como cuidar de cada pet naquela casa, desde o grilo gigante na parte de cima da casa, até o gato Mequetrefe e o cachorro Zoltan, ele se despediu de seus pets um por um, ficando alguns minutos a mais com o gato preto para explicar como seriam as coisas.