textos do bloquinho de notas

"carta aberta a um bom professor" - 11 de junho de 2024

[edit: descobri que esse professor de 35 tava se relacionando com uma aluna de 17. Quase a minha idade. A lição é: não confiem em ninguém principalmente homens!!! Isaac se vc ler isso saiba que vc me traumatizou pro resto da minha vida eu nunca mais vou acreditar em alguém como antes e chorei pela primeira vez em mt tempo por sua causa espero que o karma seja uma boa puta com vc!!!! :) ]

"Por que estou viva?"
...
De tempos em tempos, lembro de um vídeo do Ludoviajante. Ele é o tipo de gente que simplesmente nos entende mais do que qualquer um, o tipo de gente que nos dá conforto toda vez que sussurra palavras gentis e nos lembra de que ainda há esperança. Enfim, aqui me refiro ao vídeo sobre o vazio: aquela criança curiosa que me pergunta todo santo dia coisas novas, me cansando de tal maneira que nunca sei bem o que responder. Ultimamente, a questão acima mencionada tem sido recorrente. Por que estou viva?
Quando penso bem, o mundo já não tem mais tanta esperança. A verdade é que estamos em um lento apocalipse, do qual não se fala porque não seria vantajoso para os lá de cima (e com essa expressão não me refiro a Deus, mas aos ricos e de classe alta). O mundo já não tem esperança, mas isso não muda o fato de que amanhã eu volto à escola e a escala 6x1 segue existindo e eu preciso me formar e meus pais ainda pagam contas. Por que me incomodar de continuar quando cada dia é mais quente, cansativo, caro? Honestamente, não sei. Honestamente, desconfio que talvez eu nunca saiba.
Mas - é curioso -, o Ludo não desistiu, não é? E hoje, cada vídeo novo dele me leva a uma nova interrogação, tão intrigante que me faz continuar vivendo, tal qual um filme que a gente começa a acompanhar pela metade, mas vê até onde consegue porque quer saber onde tudo vai parar.
O Ludo criou seu canal por causa de um professor dele, que o ensinou uma lição importante sobre a vida. Paralelamente, fiz toda essa introdução porque o destino me deu o prazer de ter meu próprio professor especial.
"Especial" é uma palavra bem irônica, na verdade, porque o que me faz apreciá-lo tanto é sua semelhança comigo. Diria que nós dois somos do tipo que menos se destacam em multidões, ao mesmo tempo que somos alvo fácil de olhares esquisitos. Somos esquisitos. Crescemos pensando que todo professor é sociável, mas ele prefere passar boa parte do tempo sozinho. Pensamos que todo professor é agitado, mas ele senta na sua cadeira e lê tranquilamente enquanto a sala faz um trabalho em grupo qualquer. Pensava que uma profissão dessas nunca seria pra mim, mas de alguma forma, foi pra ele.
E, ah, como foi! Ele não agrada a todos, tenho certeza - essa é uma característica óbvia em nós, estranhos! -, mas faz algo único em toda cabeça que consegue invadir com seus pensamentos. "A arte perturba os confortáveis e conforta os perturbados", é o que dizem; pois bem, a aula dele flutua com peso pelo ar como uma orquestra intensa. Para os ouvidos dos demais (e às vezes, do meu também), é uma densidade barulhenta e difícil de assimilar. Mas pra mim, que também sempre penso demais nos detalhes e sempre crio uns "por quê" a mais do que devia, é uma suave melodia que me faz fechar os olhinhos e sorrir com graça. Obviamente não sinto alegria pela tragicidade do mundo, claro, mas é algo parecido com a satisfação de explicar algo que você achava que era só seu e ouvir, beem no fundo, uma voz dizendo "eu sei como é!". Ele sabe como é. Ele é como eu, mas sua existência faz a diferença.
Por mais estranho que seja, me pergunto também por que ele vive. Pergunto isso porque sei que ele sabe como é ter essa pergunta dita de novo e de novo em sua cabeça. As vezes, sinto vontade de só dizer "não sei!" e deixar de viver, mas ele não deixou. Por quê? Será que ele sabe por quê? Será que o porquê dele, afinal, é o mesmo que o meu?
Essa é a carta mais confusa que eu já fiz, mas eu precisava escrever isso um dia, e aconteceu desse dia ser hoje. Creio que nunca conseguiria explicar com palavras exatas a conexão que eu sinto com um adulto aleatório que, por acaso, mudou minha vida por completo. O que eu posso dizer é que atualmente, quando minha cabeça me pergunta "por que estou viva?", não tenho mais medo de não ter resposta pronta e elaborada.
"Porque hoje tem aula do meu professor favorito" :)