"A chuva do primeiro dia" - 1 de janeiro de 2024

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Hoje, no primeiro dia do ano, choveu.
Não pude evitar de pensar no quão melancólico isso era. Minha virada de ano não foi das melhores, e, ao acordar, não senti nada além do que sentiria em outra segunda-feira qualquer. Eu estava tão ansiosa pra que começasse o ano, e ele começaria assim? Escuro, com o sol escondido? Ainda ouvi na minha cabeça os fogos abafados de ontem. Junto deles, o choro de desespero de não poder usar a roupa que eu queria, o sorriso falso de quem viu a animação de todos ao redor e soube que não tinha o direito de estar ali, a raiva de ter sido interrompida enquanto tentava ouvir uma boa música pra começar o ano. Pareceu que tudo deu errado, de certa forma.
Por quê? Por que teve que ser assim...?
Parei, respirei, e segui com a tal segunda-feira qualquer. Assisti ao anime que queria enquanto comia um pão de alho do dia anterior. Voltei à cama do quarto e fiquei um tempo curtindo vídeos de pessoas que comentavam sobre momentos emocionantes das suas séries favoritas. Escrevi algumas coisas na agenda que eu tanto aguardei pra usar. O choro, o falso sorriso e a raiva de ontem se distanciaram mais e mais de mim - inevitavelmente, porque o tempo sempre vai passar -. Finalmente consegui olhar pra janela lá fora; ainda chovia. O céu continuou escuro, e os pingos finos continuavam fazendo um barulho engraçado enquanto batiam no chão; mas qual era o problema, afinal?
Meu corpo involuntariamente fez algo. Meus pés andaram, correram, até o ponto mais alto da minha casa, e eu senti a friorenta água chocando com minha pele levemente sensível.
O toque suave, mas constante, dos pingos não passava despercebido. De certa forma, aquilo meio que era irritante. Mas quando tentei olhar diretamente para o céu pintado de nuvens, meus olhos tremeram e formaram formas esquisitas por causa da luz - luz que agora estava escondida, mas tal brilho ainda poderia me cegar. Olhei em volta e enfim consegui forçar um sorriso do meu rosto, embora o dia não o merecesse.
Hoje, no primeiro dia do ano, choveu.
E eu orgulhosamente dancei na chuva.

textos do bloquinho de notasOnde histórias criam vida. Descubra agora