Eu sou [meu nome completo],
nascida em 19 de maio de ****,
e estou escrevendo esse testamento pois acredito que eu possa morrer antes dos 25.
Talvez não literalmente, mas no metafórico -
fique maluca, perca a identidade, etc.
De qualquer forma, se eu passar disso,
é milagre.
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Cá estão minhas humildes declarações e pedidos para minha partida em paz:
- Não deixem NINGUÉM além da minha melhor amiga e minha irmã mexerem nas minhas redes sociais. Dou a elas permissão para apagar quaisquer vestígios da minha adolescência constrangedora.
- Vendam meus itens mais fofos por um preço barato, ou de graça. Prometo não assombrar os futuros donos, embora eu possa querer admirá-los e imaginar como seria ser amiga de pessoas com tanto bom gosto.
- Avisem ao meu professor de filosofia que eu era meio obcecada por ele, e mandem a ele a playlist que eu lhe dediquei mas nunca tive coragem de mostrar.
- Também avisem ao meu crush mais longo que eu gostei dele por 4 anos e meio, e que eu o admirava muito (mesmo que ele tenha cortejado, no mínimo, umas 4 amigas minhas nesse meio tempo). Peço que omitam dele a parte
em que eu fiz um texto de 100 coisas que eu gostava nele, dediquei uma playlist, escrevi cartas, uns 10 poemas, sonhei com ele, fiz desenhos dele no meu caderno, anotei a placa do carro da mãe dele, tirei fotos escondidas, e descobri que o desenho favorito dele de infância era mechanimais.
- Relembrem àquele menino o quanto eu odeio ele. Ele, sim, eu vou assombrar.
- Escrevam uma letra de música de algum artista que eu gosto no meu túmulo, e façam de meu enterro uma agradável festa. Caso eu morra antes dos 18, peço em especial que ponham um pagodinho pra tocar e bebam muito, pois sempre senti que a vida de boteco era o meu destino.
- Postem meus poemas, meus desenhos, todo e qualquer tipo de arte que eu já fiz. Nasci como um ser artístico, e se morri, que seja pela arte. Como artista, também é natural que eu queira meus holofotes sempre, ainda que um pouco tardios.
- Não se entristeçam. Desde pequena, soube - em todos os sentidos possíveis - que eu morreria um dia. Não tenho medo de receber esse último, gentil abraço. Também não temam que eu vá para um lugar pior, pois concluí que passo pelo inferno 27 vezes por dia só de ter que aturar minha própria pessoa.Por fim, fica a minha esperança de que a criança que pensava ser um anjo enviado de Deus tenha realmente mudado a vida de alguém, e que aquela sensação divina não fosse um mero sinal precoce de neurodivergência.
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textos do bloquinho de notas
PoesiaAVISO: isso é um compilado pessoal, sem filtros, e por isso pode citar muitos assuntos delicados e pesados (como inseguranças, ideações su!cidas, entre outros). Eu geralmente esqueço de pôr aviso de gatilho, então leia por sua própria conta e risco...